Portugal
"Não estou cá para fazer fretes", diz Rui Vitória
2021-01-22 10:50:00
Técnico admite que vai fazer uma pausa e trabalhar num projeto de "inteligência artificial"

Com meio século de vida, Rui Vitória entende que este será, porventura, o tempo de fazer uma pausa da carreira de treinador, depois de três clubes onde o desgaste foi "enorme", nos últimos tempos, em referência às passagens por Guimarães, Luz e Arábia Saudita.

Vencedor de três edições da Liga portuguesa, da Taça de Portugal em duas ocasiões, duas Supertaças e uma Taça da Liga, além da vitória no campeonato saudita a que somou ainda uma Supertaça, Rui Vitória acredita que encontrará na pausa competitiva novos caminhos que o continuem a desafiar, depois de ter deixado os sauditas recentemente.

E no horizonte do ex-técnico encarnado está um projeto relacionado com inteligência artificial. "Tenho dois projetos em que vou estar envolvido. Um deles será, possivelmente, inteligência artificial que acho que é o próximo passo. No outro, é mais na Arábia mas ainda está em embrião", referiu Rui Vitória.

O tempo, esse grande mestre, é agora de pausa para pensar e repensar em tudo que foi feito e o que se pode fazer, não afastado todo e qualquer "projeto". Rui Vitória diz que não é movido pela questão financeira mas apenas pelo entusiasmo de um projeto que lhe seja apresentado. E se o cativar, o sim poderá ser real.

Mas agora é tempo de parar. "Preciso de estar numa pausa do ponto de vista do treino. Desde que comecei nunca tive uma paragem. Nos últimos três clubes tive um desgaste enorme, por isto ou aquilo", confessou Rui Vitória, em declarações no programa Quarentena da Bola, com Rémulo Marques, no Facebook.

Num futebol cada vez mais veloz, que 'esmaga' os treinadores com responsabilidades, Rui Vitória acredita no papel da paixão na beleza das coisas na arte da bola. E é essa paixão que espera voltar a encontrar.

"Tenho que ganhar a vontade de treinar, aquela paixão", confessa o ribatejano não querendo entrar nas questões mais 'quentes' do futebol nacional nem do dito lamaçal.

"Isto que gira em volta do futebol tira um bocado essa alma. Nunca podemos estar stressados quando estamos preparados para o que aí vem", avisa Rui Vitória, notando que "todas as coisas que andam à volta do futebol acabam por retirar um bocadinho de alma aos treinadores".

"É uma pena. Nós, treinadores, somos de uma profissão muito só e isolada e que passa as dificuldades, e quando perdemos essa alma é um bocado mais complicado", admite o antigo treinador de Paços de Ferreira, Vitória e Benfica.

Certo é que, no presente e no futuro, como assume ter sido no passado, Rui Vitória será fiel aos seus princípios e maneiras de ser e estar. "Não estou cá para fazer fretes do que quer que seja. Estou cá para fazer o meu trabalho. O somatório disto tudo vai dar um resultado, que são títulos, que é credibilidade e respeito que as pessoas vão tendo. Isso é que me guia".

Não dando grande importância ao 'ruído' exterior, Rui Vitória prefere focar-se nas ideias que tem e da equipa técnica para procurar atingir os objetivos. Mas, claro, não nega que os elogios caem sempre bem.

"Fico muito contente quando dizem que fomos para um determinado sítio e o objetivo foi alcançado. No Paços de Ferreira, objetivo alcançado. Vitória, objetivo alcançado. Benfica, objetivos alcançados. Al Nassr, objetivos alcançados. Pronto, e é isto. O resto é conversa".

Quanto ao resto, a ideia é para manter com o discurso de sempre. "O que me trouxe até aqui e fui subindo a pulso foi a minha forma de estar", explica, confiando que se assim se mantiver, as coisas vão continuar a correr-lhe de feição.

Numa conversa com mais de duas horas, tudo girou muito em volta da vida de treinador, da formação, das estratégias e táticas e, embora não se querendo alongar muito sobre o Benfica, houve tempo para uma 'pincelada' sobre Pizzi, um dos atuais capitães de equipa, que Rui Vitória conhece desde os tempos de Paços de Ferreira.

Num futebol que pede aos jogadores que desempenhem várias funções até dentro de um mesmo jogo, Rui Vitória entende que Jorge Jesus tem no camisola 21 uma espécie de 'trunfo' que pode ser aplicado em várias posições mediante as necessidades do conjunto.

"Pizzi é um jogador de enorme qualidade. No seu processo de evolução foi sempre focado. Conhece muito bem o jogo e quando conhece e é inteligente torna tudo mais fácil. Ele conhece os caminhos do jogo. Gosto muito de o ver como híbrido que nem é ala nem médio centro. Interpreta todos os momentos do jogo. Tem um rendimento muito uniforme", avalia Rui Vitória.

O ex-treinador do Benfica lembra que o camisola 21 "começou a ganhar características de jogar pelo jogo interior, muitas assistências quando antes jogava quase como uma extremo à antiga". E essas diferentes capacidades fazem Rui Vitória entender que Pizzi é um jogador diferenciado.