Portugal
“Não conto com Pedro Guerra no Benfica”, diz Noronha Lopes
2020-10-20 12:00:00
Candidato à presidência do clube da Luz critica política de Comunicação do Benfica. E cita nomes

João Noronha Lopes reiterou críticas a Luís Filipe Vieira, nesta segunda-feira, pelo facto de o presidente do Benfica recusar debater com os restantes candidatos, e apontou o dedo à BTV, considerando que a estação televisiva do clube está ao serviço de uma candidatura. Numa entrevista ao Bola na Rede, citou alguns nomes com força na política de comunicação do Benfica, entre os quais Pedro Guerra.

“Estamos num período decisivo da vida do clube e a BTV deveria ser a primeira a promover debates. O dono da BTV não se chama Luís Filipe Vieira, o dono da BTV somos todos nós. Lamento, mais uma vez, que a BTV se esteja a comportar como se fosse a televisão do presidente e não como a televisão de todos nós”, acusou, em entrevista ao Bola na Rede.

Mas João Noronha Lopes foi mais longe e abordou a comunicação do emblema encarnado, defendendo uma mudança, até porque considera que há colaboradores do Benfica que também estão ao serviço do projeto de Vieira.

“É lamentável o envolvimento de funcionários do Benfica nas eleições. Não conto com Pedro Guerra no Benfica... Se me perguntam se eu conto com Luís Bernardo no Benfica, a minha resposta também é ‘não’”, afirmou.

A recente presença de Luís Filipe Vieira num programa de comentário desportivo da RTP3 mereceu também críticas de Noronha Lopes. O candidato não compreende o ‘veto’ a debates com adversários, em contraponto com uma conversa com adeptos adversários.

“Luís Filipe Vieira recusa debater com sócios do Benfica, mas aceita debater com adeptos de clubes rivais. E porque recusa debater? Quatro letras: Medo. E porque tem medo? Porque não consegue explicar factos que ocorreram na sua gestão, desde a gestão desportiva errática a uma OPA que foi considerada ilegal. Tem incapacidade de justificar o que foi o último mandato”, acusou.

Mas Noronha não se ficou pelas críticas à BTV e entende que existe um bloqueio na comunicação social, em prejuízo das candidaturas opositoras a Luís Filipe Vieira: “A cobertura de todas as candidaturas não tem sido igual. Infelizmente, isso acontece em vários órgãos de comunicação.

“Essa diferença só me dá mais vontade de concorrer e de lutar pelos interesses do Benfica. Nunca me cansarei de exigir debates ao atual presidente. É uma falta de respeito. Não me cansarei de exigir que a BTV preste um serviço aos donos da BTV, que são os sócios, e não Luís Filipe Vieira. Quanto aos restantes órgãos, espero imparcialidade e independência, relativamente a todos os candidatos”, complementou.

E nesta conversa na Bola na Rede, Noronha Lopes reagiu a algumas afirmações de Luís Filipe Vieira nessa presença no ‘Trio d’Ataque’. O presidente do Benfica rebateu as críticas às presenças de juízes nos camarotes presidenciais, alegando que o clube é “do povo” e que naquele espaço não estão elites.

“Onde está o Benfica do povo? O Benfica popular não depende do grau de instrução do presidente. Mas do respeito que se tem pelos sócios. A BTV é um exemplo do apoio a um dos candidatos. Eu pergunto: é isto o Benfica popular? Vieira disse que o Benfica foi refundado. Mas o Benfica tem 17 anos? O Benfica é Luís Filipe Vieira?”, questionou.

“O Benfica é muito maior que Luís Filipe Vieira. Era o que mais faltava ele arrogar-se ser o refundador do Benfica”, referiu, lembrando as “prestações desastrosas” nas competições europeias, as “contradições de Vieira” e a temática das notícias sobre o clube da Luz, numa alusão aos processos judiciais.

“Vemos sinais de um presidente cansado, que não consegue mudar, sempre rodeado das mesmas pessoas, que faz promessas e não cumpre, que de cada vez que fala diz o contrário do que disse no dia anterior”, referiu Noronha Lopes.

A questão da ‘sucessão’ – ou a célebre frase que atribui a Rui Costa a representação de “futuro do Benfica” – também não é bem entendida.

“O Benfica é democrático, não é uma monarquia. Não se nomeia um príncipe herdeiro. Há muita gente com capacidade para gerir o Benfica. E eu sou um deles. Ao contrário do que diz Vieira, a seguir a Vieira não virá o caos, a seguir a Vieira virá o Noronha, com muito orgulho”, sustenta.

João Noronha Lopes critica ainda a declaração do dirigente encarnado, na entrevista à RTP, onde Vieira assumiu que fechou acordo com Jorge Jesus numa altura em que Bruno Lage era treinador e quando o Benfica estava na luta pelo título.

“Eu percebo porque é que Vieira se esconda atrás de três porta-vozes, porque cada declaração que ele faz surpreende-nos pela negativa. Aquilo que Vieira confessa é que, na altura crucial da época, quando o anterior treinador necessitava de apoio total, já pairava sobre ele a sombra de Jorge Jesus. Foi também por essa altura que Vieira veio dizer que tinha dois jogadores que poderiam valer 100 milhões. O que se deveria transmitir ao balneário? Em vez de dizer aos jogadores que era importante ganharem o campeonato, disseram-lhes que o importante era eles serem vendidos. Mais um exemplo da total incoerência na gestão do Benfica”, critica.

Já as promessas do título europeu são, segundo Noronha Lopes, palavras inócuas, que não coincidem com os resultados conseguidos nas provas internacionais. “Como pode prometer um título europeu depois de falhar o objetivo de falhar a Champions? As pessoas estão fartas de promessas que não são cumpridas”, lamentou ainda.

Também os nomes que acompanham Vieira no mandato que se propõe cumprir não representam a necessária mudança: “A lista de Luís Filipe Vieira é sempre o mesmo carrossel de nomes. São sempre as mesmas pessoas que vão saltitando de cargo em cargo, ou então foram críticos e opositores de Luís Filipe Vieira. A lista de Vieira são as mesmas elites. A minha lista é de uma nova geração. As pessoas entram nesta lista sem qualquer agenda”.

“O projeto de Vieira acha que está tudo bem, que não é preciso mudar. Não apresenta qualquer ideia inovadora. Depois temos outro projeto com ideias, com transparência, um projeto que tem ganas e vontade, para quem ser presidente do Benfica não é um fardo. Serei 100 por cento dedicado ao clube e não estarei distraído com assuntos que nada têm que ver com o Benfica”, salientou ainda.

João Noronha Lopes entende que tem um projeto melhor do que o de Luís Filipe Vieira, bem como uma equipa mais capaz do que aquela que o atual presidente propõe. E garante que, se for derrotado, não volta a apresentar-se nas urnas: “Se não for eleito presidente do Benfica, não volto a candidatar-me”.

Já o candidato Rui Gomes da Silva “merece crédito”, “por apresentar boas propostas”. “Adotei algumas delas. Não tenho problemas em dar crédito a Rui Gomes da Silva, por apresentar boas propostas. É assim que vejo o Benfica. Todas as ideias são boas e devem ser aproveitadas por todas as listas. A única candidatura que não me permite aproveitar ideias é a de Luís Filipe Vieira”, diz.

Noronha Lopes aponta outras falhas de Vieira na gestão desportiva, recordando a ausência de investimento no ano do penta e investindo milhões nesta pré-época, sem que esse investimento trouxesse o objetivo de qualificação para a Champions.

“Não há projeto, há uma desorientação total”, disse, lembrando diversas contradições do presidente, desde o regresso de Jorge Jesus à saída de Rúben Dias. “Nós temos contas certas, mas olhando para as contas do último mandato, tínhamos condições para ter uma equipa mais forte e chegar mais longe nas competições europeias”, disse.

“No Benfica, estamos a construir a casa pelo telhado. Temos uma equipa para potenciar a marca internacionalmente, mas não percebem que potenciar a marca depende de vitórias. E quando oiço alguém dizer que ‘vou mudar o emblema do Benfica para um chinês comprar mais camisolas’ é de alguém que não percebe nada. Vão ser compradas mais camisolas na China, na Indonésia, na Tailândia, quando se tem uma boa equipa nos grandes palcos internacionais. Isto é que é a locomotiva. Não é como Vieira que todos os anos anda a vender jogadores”, critica, ainda que compreenda a “necessidade de vender jogadores”.

“Necessitamos de um novo modelo, que nos permita vender mais tarde. Não podemos formar para despachar. É formar para chegar à equipa principal do Benfica, sem queimar etapas. Estamos a ‘queimar’ jogadores e a prejudicar o clube”, complementa.

Sobre mudanças na estrutura do futebol, Noronha Lopes será cauteloso. “Nós temos de ser campeões nacionais e ganhar a Liga Europa. Eu não vou fazer rigorosamente nada que ponha em causa este objetivo”, apontou, deixando para a próxima época as alterações que pretende, nesta área.

Também as modalidades merecem um olhar atento de João Noronha Lopes, que recorda uma grande figura do hóquei em patins, o internacional argentino Panchito Velázquez, para lembrar que, quando estava ao lado de Vilarinho, os dirigentes tinham prazer em ir ao pavilhão, assistir aos jogos das equipas do Benfica.

“Quando fiz parte da direção de Manuel Vilarinho, eu e os meus colegas de direção íamos assistir aos jogos das modalidades. Era do tempo do Panchito… Nós gostávamos de estar no pavilhão e de assistir às modalidades. Outra grande diferença é a organização. Preconizo um modelo com um diretor-geral para as modalidades, que tenha autonomia e esteja próximo das modalidades. Ele tem de estar próximo e entenda o que é preciso fazer para as modalidades. O modelo atual assenta em decisões cegas tomadas por um diretor financeiro que não percebe nada de modalidades”, resumiu.

João Noronha Lopes considera que terá de haver alguém “próximo do terreno”, capaz de transportar as necessidades das modalidades ao topo da pirâmide. E defende “transparência” na apresentação das contas das modalidades. Por outro lado, entende que falta uma “política de comunicação das modalidades”.

Dentro desta temática, o candidato à presidência do Benfica afastou a ideia de fazer regressar o ciclismo ao clube: “O João Noronha Lopes adepto gosta muito de andar de bicicleta. Como adepto, gostaria de trazer o ciclismo. Mas no meu programa não está o regresso do ciclismo, por uma razão concreta: eu só prometo o que posso cumprir. Uma equipa de ciclismo que tenha a dignidade que o Benfica deve ter custa caro. Uma equipa de ciclismo do Benfica deve ter condições para fazer uma Volta a França. Eu fui emigrante em França e sei o impacto que isto teria. Mas pelos números que analisámos, o Benfica não tem condições, no curto prazo, para ter uma equipa de ciclismo com competitividade”.

Veja a entrevista, onde Noronha Lopes também criticou Pinto da Costa, por imiscuir-se nas eleições do Benfica.