Portugal
"Não é possível despedir jogadores só porque não vamos à Liga dos Campeões"
2021-05-05 21:25:00
Fernando Gomes fala das contas da SAD do FC Porto e revela que 'naming' do estádio "foi por água abaixo"

O administrador financeiro da SAD do FC Porto, Fernando Gomes, avisou que “é absolutamente inevitável” para a saúde das contas dos dragões garantir a qualificação para a Liga dos Campeões. Declarações que surgem na véspera do FC Porto, que ocupa o segundo lugar da I Liga, que assegura a entrada direta na fase de grupos, visitar o Benfica, terceiro classificado e que persegue essa mesma entrada direta.

“Para o FC Porto, é absolutamente inevitável. Só estimando que não participaremos nas competições europeias por uma série de anos é que é possível reajustar o nível de despesa ao nível da receita. Em cada ano, temos a expetativa de que vamos participar na Liga dos Campeões. Para participarmos, temos que ter um plantel que garanta o acesso e, tendo acedido, que garanta um comportamento razoável, para que as receitas acabem por ser compensatórias”, explicou Fernando Gomes, em entrevista ao Jornal Económico.

Ficar em terceiro lugar pode significar um afastamento nas pré-eliminatórias de acesso à Champions e a ‘queda’ para a Liga Europa, que é “um prémio de consolação” em termos financeiros, pois a diferença para a Liga dos Campeões em termos de receitas é “abismal”, como referiu Fernando Gomes. “Isso [essa expetativa de qualificação] obriga-nos sempre a fazer uma despesa no plantel que eleva a fasquia em termos de custos. No ano em que não vamos, nós assumimos uma despesa como se participássemos na Liga dos Campeões, mas não participamos e ir à Liga Europa é um prémio de consolação, não resolve praticamente nada, porque a distância entre os números das receitas é abismal entre um caso e outro”, realçou.

Para passar bem a mensagem, Fernando Gomes avançou com números: “Na época 2019/20, tivemos dez milhões de receitas da Liga Europa. Este ano, estamos quase em 74 na Liga dos Campeões”. “Preparar um plantel para ir à Liga dos Campeões significa um investimento muito mais elevado e quando não vamos a despesa está feita. Não é possível a meio da época, só porque não vamos à Liga dos Campeões, despedir jogadores”, complementou.

Ao abordar as contas da SAD do FC Porto, Fernando Gomes revelou que a venda da designação oficial do Estádio do Dragão (uma operação financeira conhecida por 'naming') "foi por água abaixo" devido à pandemia de covid-19, numa altura em que as conversações com um possível patrocinador ('sponsor') estavam "avançadas". "Há desenvolvimentos que ficaram completamente paralisados. Um deles, por exemplo, é o ‘naming’ do estádio", contou o gestor.

"Nés estávamos com conversações avançadas para conseguir um ‘sponsor’ internacional para o ‘naming’ do estádio. Tudo foi por água abaixo. Nem essas empresas tiveram condições para continuar, nem enquanto não houver público e isto voltar à normalidade é razoável ou imaginável que uma empresa qualquer possa vir a dispor de importâncias tão elevadas", explicou.

O administrador da SAD do FC Porto lembrou o "conjunto excecional de fatores negativos que se juntaram" quando a temporada anterior estava em curso. As perturbações no plano desportivo tiveram reflexos nas contas dos clubes, que devido à pandemia viram jogos e competições serem adiados ou cancelados, para além de terem deixado de contar com as receitas de biheteira.

"Foi o início da pandemia, com toda aquela surpresa que originou (agora já estamos muito mais adaptados), com toda a confusão que se gerou no campeonato com jogos adiados e a I Liga suspensa, tudo isto gerou uma intranquilidade tremenda. Estes 116 milhões foram um recorde do FC Porto, nunca tal aconteceu até hoje, um prejuízo desta magnitude. Agora, se as coisas correrem mal, também nunca serão a este nível. Aconteceu uma vez, não volta a acontecer", garantiu.

Devido ao contexto pandémico, o FC Porto teve "vários problemas com ‘sponsors’", como salientou o administrador. "Normalmente, a negociação dos camarotes e toda a tribuna VIP são receitas que não as normais de bilheteira... Tudo junto, significou qualquer coisa como menos 30 milhões de euros. Este ano, as coisas melhoraram um bocadinho e serão menos 27 milhões de euros do que teríamos se não houvesse pandemia. Estamos a falar de um valor considerável", concluiu Fernando Gomes.