Portugal
“Na classe de treinadores há hipocrisia e uma inveja tremenda”, diz Maniche
2021-04-29 12:55:00
Maniche discorda de Carvalhal e diz que “antigamente eram sempre os mesmos treinadores” e que hoje há mais concorrência

As bancadas estão vazias, não há lenços brancos dos adeptos, mas os treinadores não vivem dias tranquilosAs picardias nos bancos de suplentes, com trocas de galhardetes e até insultos, são cada vez mais visíveis 

E segundo Carlos Carvalhal, que colocou o dedo na ferida, nesta semana, caminham no sentido de uma regra que outrora nem tinha exceção – no tempo de Vítor Oliveira, António Oliveira, Manuel José, ou Quinitocomo citou o técnico do SC Braga, que não se revê no futebol atual (no que a este tema diz respeito) 

"No futebol onde eu cresci, onde eu fui educado, no futebol de Vítor Oliveira, António Oliveira, Manuel José, do Quinito isto era completamente impossível. Não me lembro de um único caso de um treinador que estivesse em conflito com um colega. Um bate-boca eventualmente na imprensa, uns mind-games, tudo bem. Agora, durante o jogo, não é normal. É preciso explicar a esta malta que isto não é normal. Se vamos por aqui, para o ano andamos todos à porrada. E atenção: eu estou a incluir-me. Eu faço parte dos 18 treinadores da primeira divisão. Não estou a pôr os pés de fora. Mas isto não é admissível”, realçou Carlos Carvalhal, durante a conferência de imprensa de antevisão do jogo com o Marítimo. 

O técnico não se referia a nenhum treinador em particular. Referia-se a todos. E analisava diversos episódios que envolveram treinadores, nos bancos de suplentes, onde se insultou, com palavras e gestos, com imagens de quase confronto físico e também com histórias que se conhecem posteriormente em relatórios de árbitros e delegados aos jogos.  

Num comentário às palavras de Carlos Carvalhalque estiveram em análise no canal 11, Maniche apresentou outras causas para as presentes picardias nos bancos – das quais ninguém sai isento. O antigo futebolista discordou e apresentou uma posição dura.  

“A vida está cheia de hipocrisias e a prioridade é a inveja. E eu detesto pessoas hipócritas e invejosas. Não quer dizer que seja o Carvalhal. Não estou a dizer isso. Mas durante a vida já encontrei muitas pessoas assim, que me enojam – desculpem a expressão”, começou por dizer o ex-jogador, no programa Futebol Total. 

Maniche foi mais longe e defende que, “na classe de treinadores, sempre houve esses dois sintomas”, referindo-se à inveja e à hipocrisia. Eu conheço situações e sei aquilo que estou a dizer”, sustenta 

Antigamente, poderia haver mais respeito porque eram sempre os mesmos treinadores a orientar as equipas. Não havia tanta concorrência como há agora, não havia tanta competência como há agora. Não havia tanta qualidade. E depois, em Portugal, vivemos muito em fantasmas, em medos, em desconfianças. E isso é cultural”, alega. 

Sabemos que o futebol é um desporto de emoções. Mas temos de repensar comportamentos. Temos de ter respeito pelo próximo, dignificar o futebol, compreender que por vezes ganhamos e que noutras vezes perdemos. Mas entre a classe de treinadores isso não existe. Há hipocrisia e uma inveja tremenda”, acrescentou o comentador do canal 11 

Numa comparação com a realidade de outros países, o ex-futebolista defendeu “castigos mais pesados”, quando se verificarem comportamentos incorretos nos bancos de suplentes. “Noutros países, as multas são muito pesadas. E não são monetárias. São jogos. E é assim que tem de ser. Têm de ser punidos como deve ser. Se fazem uma, têm de ser punidos. Se fazem a segunda ou a terceira, os castigos devem ser muito mais pesados”, sustentou. 

E em Portugal não é assim, segundo Maniche, que defende uma "mudança de paradigmaO que é uma multa de 150 euros? O que é isso? Isso não é nada. Temos de ter coragem para punir fortemente quem não dignifica o futebol português. É preciso coragem. Só que há uma hipocrisia tão grande...”, acusa. 

“Já ouvi treinadores falar mal de colegas e depois vão para a televisão dizer bem. Eu sei. Eu assisti. Por isso, não me venham dizer que os outros treinadores eram os melhores, havia mais respeito e agora não há respeito. Não. Antigamente, eram sempre os mesmos treinadores. Não havia esta concorrência”, insistiu. 

Maniche insiste que não se pode legitimar a violência, mesmo a verbal, mas compreende que os treinadores, no banco de suplentes, pressionados pelo resultado, tenham comportamentos menos corretos.  

“Todos os treinadores dizem que não se pode ser um padre no banco. Todos os treinadores dizem isso. Não podem ficar calados, sentados no banco, ou na geleira, e sorrir para toda a gente. Isto é o futebol. Não queiram mudar o futebol. Tem de haver respeito? Sim, concordo com isso. Mas por amor de Deus...”, conclui.