Portugal
“Males do futebol não vão ser resolvidos com um cartão”, insiste a APDA
2021-02-24 18:05:00
Marta Gens denuncia "uma certa instrumentalização dos adeptos" e acusa o Governo de "tapar nódoas com remendos"

A Associação Portuguesa de Defesa do Adepto (APDA) mantém a contestação ao cartão do adepto, lamentando que o assunto tenha caído no esquecimento devido à proibição de público nos estádios, por causa da pandemia.

Já em vigor, o cartão do adepto visa combater a violência, o racismo, a xenofobia e a intolerância nos estádios, sendo obrigatório o preenchimento do nome, da morada, dos números de cartão de cidadão, de contribuinte e de telemóvel, bem como a filiação em grupos de adeptos organizados (mais conhecidos por claques).

A APDA tem outra visão, considerando que o cartão do adepto vai promover “a segregação”, separando “os adeptos de primeira e os adeptos de segunda”.

“É uma questão de princípio, o desporto não deve servir para rotular os adeptos bons e os adeptos maus. Isto vai rotular os adeptos em função da zona onde se sentam, vai criar guetos”, frisou Marta Gens, presidente da associação.

De acordo com a dirigente, o cartão do adepto é “uma medida completamente falhada”. “Está provado, pela Europa fora, que esta medida não teve sucesso. Em Itália, onde dura há mais tempo, está a ser planeado o seu fim. Nós, para variar, continuamos a ser o carro-vassoura...”, insistiu.

Considerando que a medida vai trazer mais “burocracia”, a dirigente garantiu que o cartão do adepto não servirá para prevenir a violência no desporto, como pretende o Governo.

“Não sei em que medida é que um cartão pode prevenir o que quer que seja. O que existe não vai ser resolvido com um cartão”, afirmou.

“Existe uma certa instrumentalização dos adeptos no que diz respeito a todos os males do futebol. Por que não experimentamos promover medidas que devolvam a alegria de ir aos estádios, de fazer uma bonita coreografia, em vez de insistir na repressão? Não traz qualquer tipo de prevenção”, reforçou Marta Gens.

Quando o público puder regressar aos estádios, o primeiro efeito do cartão do adepto será “condicionar imenso a afluência dos adeptos”, com a APDA a salientar que os dois campeonatos profissionais em Portugal “já padecem de público há muito, muito tempo”.

Ao invés de “tapar nódoas com remendos”, o Governo deveria “promover melhores condições para os adeptos visitantes, fixar tetos máximos para os preços dos bilhetes (que continuam a ser relativamente caros em Portugal) e promover coisas tão pequenas como tirar as cadeiras das zonas destinadas às claques, como está previsto na legislação”.

“É algo tão pequeno, mas tão simples e promove a segurança, para que as pessoas façam a festa sem terem um alvo nas costas para a repressão”, salientou, em entrevista à A Bola TV.

Marta Gens refere ainda que a nova legislação trouxe “um cenário em que tudo é punível”, dando o exemplo da máscara que é obrigatória em tempo de pandemia. “Esta legislação diz-nos que não podemos tapar o rosto... Nós colocámos essa questão e continuamos sem resposta. Fazer leis a quente nunca funcionou”, finalizou.