Todas as cores da vida têm lugar no futebol e em Lourosa pinta-se o jogo de alegria em toda a sua dimensão. Os jogadores e a equipa técnica estão para o plantel como os 'aglutinantes' na tinta e os dirigentes funcionam como 'conservantes' dos valores do clube. Aos adeptos cabe a tarefa de unir todas as componentes para que o 'revestimento protetor' seja resistente e nenhum 'diluente' faça perder a ambição da vitória.
Em Lourosa, o Bancada encontrou um clube que embora não tenha começado a temporada da melhor forma, e chegou a estar várias jornadas na zona de despromoção da Série B do Campeonato de Portugal, conseguiu manter-se sempre vivo e pronto a 'pintar' a sua história com as cores do sucesso.
As virtudes estavam lá. Precisavam de ser potenciadas. O valor, esse, subiu vários degraus com a chegada de Jorge Pinto, um mestre a dar cor à ambição do Lusitânia de Lourosa, uma equipa sonha regressar à Liga 3.
Para lá chegar, ainda precisa de dar mais algumas 'pinceladas' de sucesso e ter sempre a certeza de que no futebol, por vezes, é necessário testar várias ferramentas para descobrir qual é o contexto mais favorável.
A temporada do Lusitânia de Lourosa teve um antes de Jorge Pinto e um depois com Jorge Pinto. A primeira escolha da administração foi Luís Pinto, técnico que tinha mostrado uma boa pintura em Leça da Palmeira e ajudou a colorir de sucesso a época dos leceiros que, recorde-se, cairam na Taça de Portugal somente em fase adiantada perante as garras do leão de Rúben Amorim.
Garras de leão no reino da paixão
Em Lourosa, as coisas não correram bem Luís Pinto e a chegada de Jorge Pinto e da sua equipa técnica, em janeiro de 2023, alterou o rumo dos acontecimentos e da criação artística.
"O Lourosa está lá, mas não vai ficar lá. Vai sobrar para alguém", ouvia-se nos corredores do Campeonato de Portugal antes ou após os jogos entre clubes adversários.
E a verdade é que a previsão viria mesmo a concretizar-se. O Lourosa chegou a estar no tapete, mas o clube que tem por símbolo um leão nunca se deixou derrotar por qualquer K.O. Em Lourosa, há uma paixão inquebrável que é, por estes dias, liderada por Jorge Pinto, um técnico que chegou ao clube de Santa Maria da Feira cheínho de vontade de triunfar.
Nascido e criado em Paranhos, Jorginho, como é carinhosamente conhecido pelos mais próximos, conhece o futebol por dentro e por fora e sabe quais são as especificidades deste desporto onde o sucesso e o insucesso deixam o treinador sempre emparedado à pressão da vitória.
Cientes de que o "trabalho" e a "seriedade têm reflexos", a equipa técnica liderada por Jorge Pinto, quando recebeu o convite, sabia que o Lourosa é um clube "com muito potencial" e ao qual era difícil recursar o tentador projeto.
As vitórias começaram a aparecer a "cada domingo" e as coisas foram-se desenrolando, com os adeptos a nunca largarem o Lourosa, até porque "começaram a ver uma equipa à imagem da cidade de Lourosa, que dá tudo, que dignifica o clube".
"O acréscimo de apoio da nossa massa adepta foi fundamental. Conseguimos agregar e naturalmente as coisas foram fluíndo", reconheceu Jorge Pinto, certo de que "no futebol o ganhar e o perder é um cabelo muito fininho".
Aqui chegados, Jorge Pinto mostra-se ciente de que é preciso continuar a usar a cabeça para manter o foco inalterado, sob pena de a pintura feita até aqui ficar estragada. Mas, o sonho comanda a vida.
"Deixem-nos viver este momento. Estamos agarrados a ele com um compromisso e um foco muito grande, com uma entrega inexcedível", assegurou o treinador do Lusitânia de Lourosa, que falou ao Bancada de uma equipa que continua presa na corrente do sucesso.
"Estamos agarrados à corrente", reconheceu Jorge Pinto, que não conhece o sabor da derrota desde que assumiu o Lourosa, em janeiro com a sua equipa técnica, na qual confia "a 500 por cento".
"Há ouro para lá das vitrines mais vistosas do futebol português"
De então para cá, uma volta completa na Série B do Campeonato de Portugal onde derrota foi palavra que não entrou no léxico futebolístico do Lourosa. Tal como não entrou na estreia na fase final de apuramento de campeão e subida à Liga 3.
É claro que a pintura está bela para os adeptos do Lourosa mas, para isso, muito tem ajudado um plantel com talento e entrega. Até porque "há ouro para lá das vitrines mais vistosas do futebol português".
"Temos jogadores com vasto potencial, fundamentalmente com um potencial humano riquíssimo. Não conquistamos nada, apenas a fase final, queremos subir de divisão como as outras equipas o querem mas estamos todos a trabalhar para valorizar o clube. Agora, temos ouro e jogadores com muito potencial entre jovens e jogadores mais experientes. Isso permite-nos ganhar jogos domingo após domingo", comentou Jorge Pinto, admitindo que "outras equipas também têm".
"Carisma, compromisso e competência" na equipa da terra dos C's
Lourosa é a terra dos três C's (cidade capital da cortiça) e Jorge Pinto admite que a sua equipa tem também três C's ao longo do percurso.
"Carisma, compromisso e competência" podem ser vistas num plantel que tem jogadores "inteligentes" e que "rapidamente perceberam e assimilaram as ideias do jogar necessário".
"Temos valor humano e futebolístico. No futebol, só o fator futebolístico não chega. É preciso agregar várias coisas", apontou Jorge Pinto na entrevista ao Bancada onde falou de um leão que vai mostrando ter as garras afiadas para regressar à Liga 3.
A pujança dentro dos relvados é o reflexo de uma equipa que está a pintar e a dar cor à esperança dos adeptos e conta com Jorge Pinto, alguém "emotivo" e que vive futebol desde criança.
"Desde os oito anos que jogo futebol. Sempre trabalhei no futebol. Tive a sorte de passar pelos patamares todos do futebol português como jogador, desde a I Liga até à Divisão de Elite da Associação de Futebol do Porto. Sei o que é estar nos vários patamares e isso aporta-me conhecimento nos vários contextos."
Aos 45 anos, o treinador do Lourosa, que já passou por clubes como o Infesta, o Salgueiros e o Amarante, admite que continua a sonhar com dias de glória mas sempre ciente de que "nos vários contextos aparecem dificuldades".
"Tenho uma ambição muito grande de seguir esta ilusão do futebol, esta paixão do futebol. Vou-me agarrando diariamente ao meu trabalho, fazendo tudo aquilo que me é possível para melhorar e partilhar", confidenciou este treinador que se assume "bairrista".
"Não conheço outra profissão onde se seja julgado de sete em sete dias"
"Nasci em Paranhos e identifico-me com este tipo de clubes e com esta massa adepta fervorosa que o Lourosa tem", explicou Jorge Pinto ao Bancada, realçando que em Lourosa, a cada jogo, só se entra em campo com o pensamento na vitória.
"O clube merece, faz muito para nos dar as condições ideais para trabalhar. Estamos neste contexto de exigência máxima. Quem tem este tipo de máxima adepta joga sempre para ganhar seja em que campo for", prometeu Jorge Pinto, apreciador de um jogar "ofensivo" mas, ao mesmo tempo, conhecedor daquilo que o futebol exige diariamente.
"O treinador é julgado de uma forma muito cruel. Não conheço nenhuma outra profissão onde se seja julgado de sete em sete dias. Nós de sete em sete dias somos avaliados e julgados. Isso é um desgaste muito grande. Temos de estar preparados para o turbilhão que é o futebol".
E no "turbilhão" há espaço para refletir sobre as ideias e as conversas e Jorge Pinto, convidado a revelar o segredo para o sucesso da carreira, conta que há frontalidade nas suas palavras no balneário.
"O jogador gosta de frontalidade, do treinador que lhe diz a verdade. Pode ficar magoado no momento mas, à posteriori, fazem uma avaliação e dizem 'se calhar o homem até tem razão'. Sou verdadeiro e frontal com os meus jogadores mas também com uma paixão muito grande por aquilo que faço", constatou o treinador que, com orgulho, diz que vem "dos campos pelados" e sempre lidou "com uma bola", mostrando-se pronto para continuar a revelar a "forte paixão do leão".