"Nunca pensámos em tristeza por eliminar o Sporting. A nossa vontade é essa: eliminar o Sporting", reforçou várias vezes Tiago Oliveira, lateral-direito do Vilaverdense, ao Bancada. Apesar de “doente” pelo Sporting, como o próprio se assume, o jogador dos minhotos vai "entrar para ganhar", mas a recompensa de poder vir a jogar em Alvalade deixa o atleta de 26 anos a salivar. "Posso acabar a carreira na quinta-feira porque vou sentir-me feliz" assegurou.

O jogo, a contar para os oitavos de final da Taça de Portugal, tem o apito inicial marcado para as 19h00 desta quarta-feira. Quando o encontro terminar, seja com que resultado for, Tiago Oliveira já sabe o que vai dizer à equipa leonina. "Vou pedir-lhes o título", admitiu.

Eliminar o Boavista e chegar aos 'oitavos'? "É um sonho" bem real

Já em Lisboa, depois da longa viagem desde Vila Verde, município do distrito de Braga, Tiago Oliveira falou connosco por chamada via Facebook. "Esqueci-me do telemóvel em Vila Verde", revelou. O conjunto orientado por António Barbosa veio mais cedo para pernoitar de terça para quarta-feira na cidade que serve de casa para o Sporting. Mas, afinal, qual é o espírito de uma equipa do terceiro escalão do futebol português que vai visitar um grande?

"Estamos satisfeitos. Sentimos que é um prémio para aquilo que temos vindo a fazer. Estamos ansiosos para que chegue [o jogo], com aquele nervoso miudinho, mas a partir de amanhã, quando o árbitro apitar para o início, vamos desfrutar com responsabilidade. Estamos aqui para ganhar porque acreditamos muito no nosso valor e acreditamos no nosso trabalho. Vamos mostrá-lo na maior montra do futebol português", começou por dizer o antigo jogador do GD Bragança que reforçou o Vilaverdense no último defeso. 

Apesar de não ser um dos jogadores mais utilizados, Tiago Oliveira refere-se constantemente à equipa do Vilaverdense como um grupo unido e coeso, mostrando-se feliz por fazer parte do grupo de jogadores que eliminou o Boavista da Taça de Portugal. "Tivemos de ser melhores que o Boavista para os eliminar, para não sofrer e marcar", frisou.

Antes do primodivisionário Boavista, o Vilaverdense já havia ‘despachado’ o GD Bragança e o SC Esmoriz. Na mais recente eliminatória, o adversário foi o FC Vizela, que obrigou os minhotos a irem a prolongamento e a marcarem o golo que levou a decisão para os pontapés de penálti nos últimos instantes. O segredo está na crença que o plantel tem no trabalho realizado, disse-nos Tiago Oliveira.

"É um sonho, e épico. Ao eliminar o Boavista, já tínhamos feito história. Queríamos muito ir a casa de um grande. Todas as equipas que jogam a Taça têm a ambição de chegar a um palco como este. Ao passarmos o Boavista sentimos que merecíamos isso. A prova que acreditamos muito no nosso trabalho foi o jogo em Vizela. Depois de estarmos a ganhar, sofremos o empate. Fomos para o prolongamento e sofremos um golo, no mínimo, caricato, e fomos empatar no último minuto porque acreditámos. Fomos atrás da nossa felicidade e merecemos. Depois, no sorteio, tivemos essa recompensa de sermos premiados com esta visita ao [recinto do] Sporting", considerou.

O sorteio dos oitavos de final da Taça de Portugal não foi vivido com todo o plantel em conjunto, mas Tiago Oliveira estava com alguns colegas nesse momento. Quando o pequeno papel revelou que o Vilaverdense ia à casa dos leões, a felicidade disparou, assim como os comentários em jeito de brincadeira.

"Tínhamos treinado de manhã. Eu vivo com outros jogadores e partilhei esse momento com eles. Temos um grupo no WhatsApp e a alegria foi logo contagiante. Começámos logo com aquelas conversas de 'eliminámos o Boavista, vamos eliminar o Sporting', 'quando eliminámos o Boavista foi uma festa tão grande. Quando eliminarmos o Sporting como é que vai ser?' e 'com quem vais trocar a camisola?'. Aquelas conversas típicas de quem vai jogar contra uma equipa que todas as semanas vemos na televisão."

Equipa de Vila Verde nos festejos após a vitória sobre o Boavista na terceira eliminatória da Taça de Portugal (Hugo Delgado/Lusa)

A emoção de jogar em Alvalade e o sportinguismo ferrenho

Não é fácil ser-se sportinguista no plantel do Vilaverdense. De acordo com Tiago Oliveira, apenas o médio André Salvador lhe faz companhia nessa missão verde e branca. Os dois até brincaram com a situação quando foi revelado que o Sporting seria o adversário nos oitavos de final da Taça de Portugal.

"Somos só dois sportinguistas, eu e o André Salvador [médio], e podermos mostrar o nosso trabalho no estádio do clube que nós amamos é uma coisa indescritível. A primeira coisa que dissemos um ao outro foi que, se calhar, quando ouvirmos a música que se canta no estádio ao início ['O Mundo Sabe Que'] vamos deixar-nos envolver e cantar a música também [risos]."

A emoção, caso Tiago Oliveira faça parte dos planos do treinador para o desafio, vai ser muita e o defesa vai ao extremo de assegurar que podia não jogar mais futebol que já se iria sentir realizado por jogar no Estádio José Alvalade.  "Eu não sei se vou ter a oportunidade de jogar, ninguém sabe. Mas, se tiver a oportunidade de pisar o relvado daquele estádio como jogador do Vilaverdense, posso acabar a carreira na quinta-feira porque vou sentir-me feliz. Independentemente do resultado - e vou fazer tudo para ganhar -, só tenho de me sentir feliz", assegurou.

O sportinguismo de Tiago Oliveira é muito e o mesmo não tem medo de o admitir ao ponto de se descrever como "doente" pelo Sporting. A justificação para isso foi dada pelo próprio, que cresceu numa família benfiquista mas conseguiu encontrar a "mística especial" que o fez encaminhar pelo verde em vez do vermelho.

"Sou muito ferrenho. A minha profissão não me permite acompanhar o Sporting como eu gostaria, mas sempre que tenho possibilidade, e o [André] Salvador é igual, sou mais um adepto na bancada. É daquelas coisas que não se explica e ainda hoje vínhamos a falar disso, da mística do Sporting, dos adeptos, o ambiente que um clube que está arredado de títulos há muito tempo tem. Tem uma mística especial, é diferente dos outros grandes portugueses e é isso que me apaixona no Sporting. A minha família é toda benfiquista e eu sou o único que sou sportinguista. Era uma coisa que me apaixonava. Sou doente. Sofro muito pelo Sporting, muito mesmo", disse.

No final do jogo, Oliveira já sabe o que vai dizer aos jogadores e equipa técnica do Sporting. E será muito simples.

"As únicas palavras que eu posso dirigir no fim do jogo é dar os parabéns por aquilo que têm feito, agradecer, como sportinguista que sou, por tudo o que têm feito pelo meu clube e dizer que, a partir de amanhã, depois do jogo, sou mais um a torcer por eles. E vou pedir-lhes o título. É um desejo que tenho, festejar esse título este ano", admitiu, sem medos, o leão de Vila Verde.