O técnico Carlos Manuel, antigo jogador do Benfica e antigo internacional português, defende “leis mais duras”, para travar comportamentos como os que ocorreram no relvado do estádio do Moreirense, onde Sérgio Conceição e outros responsáveis da comitiva do FC Porto protestaram de forma veemente com o árbitro Hugo Miguel. O ex-futebolista considera que é necessário colocar um ponto final neste tipo de atitudes.
“Isto vai ter de acabar. E não vai lá com educação. Já não vai lá com transmitir a ideia de que temos de educar as pessoas. Não vai...Tem de ser pela punição. Temos de punir. Arranjem da forma que quiserem. É preciso punir, mas de uma forma rude. A única forma de mudar esta situação – não me venham com a conversa do educar – tem de ser com leis duras”, sustenta, num comentário feito na Sport TV., nesta quarta-feira.
Carlos Manuel compara a realidade portuguesa com as competições europeias e pede para que se observem as diferenças. E se Portugal não for capaz de regular, que olhe para os bons exemplos e os transporte para o futebol português.
“Se as pessoas que legislam não são capazes de fazer leis, que as copiem. Bastam as da UEFA. Nos jogos das competições europeias – Liga dos Campeões, Liga Europa – não há um jogo em que vejamos dirigentes, jogadores, treinadores à volta do árbitro, quando acaba o jogo. E não é só o FC Porto, são todos. Se eu estivesse lá, se calhar fazia o mesmo...”, diz, considerando que os regulamentos não são suficientemente duros para desincentivar aquele tipo de comportamentos.
“Nos jogos da UEFA, não vai lá ninguém. Porquê? Porque há mão pesada. É a única forma de acabar com isto. Mão pesada”, insiste o antigo internacional português.
Convidado a antecipar o castigo de Sérgio Conceição, técnico que poderá falhar o clássico com o Benfica, caso seja aplicado um castigo, Carlos Manuel manifesta-se incapaz de o fazer, porque “em Portugal, estas questões são dúbias”.
“Não sei... O Sérgio Conceição tanto pode apanhar três meses de castigo como pode apanhar uma semana, ou três dias.... Os regulamentos são uma confusão”, critica.
Carlos Manuel admite que o árbitro Hugo Miguel tenha sido duro no que escreveu no relatório, depois de se sentir “apertado”, quer com o comportamento de Sérgio Conceição, quer com a fúria do assessor Rui Cerqueira, que teve de ser parado por Luís Gonçalves.
As frases que são imputadas a Sérgio Conceição merecem a compreensão do antigo futebolista. “Eu sou do tempo em que ocorriam essas situações. Eu dizia aos árbitros e eles diziam a mim”, conta. Porém, a realidade atual é outra e exige medidas.
As multas não são, segundo Carlos Manuel, suficientemente pesadas para travar comportamentos do género. “Mil euros? Dois mil euros? São ‘peanuts’. São trocos. E às vezes nem são os treinadores que pagam. São os clubes. Não tem cabimento nenhum. Enquanto a punição não for forte, com uma multa pesada e castigos de seis meses, em vez de 15 dias, as coisas não mudam. Não tenho dúvidas”, considera.
A reforçar a sua ideia, sustenta que “leis fracas e penas leves conduzem-nos ao atropelo das regras". Se forem duras, “recuamos e se calhar nem dizemos nada”. E “em vez de gritarmos ‘ladrão’, dizemo-lo em voz baixa, para nós”, sem que ninguém oiça.
Certo é que, com leis desadequadas ou não, o FC Porto “corre o risco de não ter treinador nos próximos jogos”: Famalicão, Benfica e Farense. “E são todos importantes”, defende, considerando que a presença do técnico no banco é essencial. “É o FC Porto que sai prejudicado”, acrescenta.
“O segundo lugar está em causa. Para FC Porto e Benfica as coisas não estão a correr bem. Mesmo em termos exibicionais. E os cinco jogos que restam, numa época de incertezas, por tudo o que se passou, vão ser duros. E o segundo lugar vale muito dinheiro”, conclui.