Detido no âmbito da Operação Ajuste Secreto, apresenta uma lista interminável de cargos ao logo da carreira
Herminio Loureiro é o verdadeiro homem dos sete ofícios, a lista de cargos que ocupou durante a sua carreira é infindável. Gestão, política e dirigismo desportivo são as áreas em que mais de destacou. Hoje foi detido no âmbito da investigação Operação Ajuste Secreto levada a cabo pela Polícia Judiciária do Porto.
Iniciou a sua vida profisisonal como resposável administrativo e coordenador comercial em várias companhias de seguros, mas foi na política e no desporto que mais se evidenciou.
Atualmente Hermínio Loureiro desempenha as funções de vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), cargo que ocupa desde 2012, e tinha, em dezembro passado, abandonado o cargo de presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis afirmando “que é muitas vezes mais importante saber sair da cena política, do que ela se apresentar”. Cargo que ocupava desde 2009, já depois de ter cumprido três mandatos como presidente da Assembleia Municipal de Oliveira de Azeméis.
A ligação de Hermínio Loureiro aos centros de decisões relacionados com o desporto nacional acontece quando em 2002 inicia funções como Secretário de Estado da Juventude e do Desporto integrando o XV Governo Constitucional, formado pela coligação PSD-CDS/PP. Em 2004 presidiu à Comissão Parlamentar de Acompanhamento do Euro 2004, organizado em Portugal.
Chega à presidência da Liga de Clube em 2006, onde por inerência acumula também o cargo de vice-presidente da FPF. Por esta altura, era também presidente da Assembleia Municipal de Oliveira de Azeméis.
Como presidente da Liga de Clubes, Hermínio Loureiro cria a Taça da Liga em 2007. É substituído em 2010 por Fernando Gomes, o atual presidente da FPF, no rescaldo das decisões sobre o Caso do Túnel. Aliás, a decisão de renunciar ao cargo de presidente da Liga nasce da disparidade nas decisões sobre o castigo a aplicar a Hulk, jogador do FC Porto. A Comissão Disciplinar da Liga castigou o jogador por quatro meses e mais tarde o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol decide que a punição do atleta deveria ter sido de apenas três jogos já depois de Hulk ter falhado a parte final da temporada que viu o Benfica ser campeão nacional.
No currículo vitae publicado no site da Assembleia da República podem encontrar-se os seguintes cargos desempenhados ao longo da carreira de Hermínio Loureiro:
Deputado na X Legislatura;
Presidente da Assembleia Municipal de Oliveira de Azeméis;
Presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional;
Vice-Presidente da Federação Portuguesa de Futebol;
Membro do Conselho Nacional do Desporto;
Presidente da Fundação La-Salette;
Secretário Geral Adjunto do PSD;
Vice-Presidente da Comissão Política Distrital do PSD-Aveiro;
Conselheiro Nacional do PSD;
Presidente da Comissão Política de Secção do PSD de Oliveira de Azeméis;
Presidente da Comissão Política Distrital da JSD de Aveiro;
Vice-Presidente da Mesa do Congresso da JSD;
Conselheiro Nacional da JSD;
Deputado eleito na VII, VIII e IX Legislaturas;
Membro da Comissão Parlamentar da Juventude na Assembleia da República;
Membro da Comissão Parlamentar do Trabalho e Segurança Social na Assembleia da República;
Secretário de Estado da Juventude e Desporto;
Secretário de Estado do Desporto;
Secretário de Estado do Desporto e Reabilitação.
Hermínio Loureiro engrossa assim uma lista de dirigentes, ou antigos dirigentes desportivos, que por diferentes razões se viram envolvidos com a justiça acabando mesmo por serem detidos.
Em 2001 Vale e Azevedo é detido na sequência de investigações sobre a transferência do guarda-redes russo Serguei Ovchinnikov. O ex-presidente do Benfica era acusado de se ter apropriado de 193 mil contos.
Branqueamento e falsificação de capitais e peculato foram alguns dos crimes imputados a Pimenta Machado em 2002 que obrigaram à detenção do então presidente do Vitória de Guimarães por uma brigada da Direção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira (DCICCEF).
À data, vice-presidente do Sporting e presidente da Sociedade EJA, empresa responsável pela construção do Estádio Alvalade Século XXI, Godinho Lopes acabou detido por alegados atos de corrupção e gestão danosa no processo de alojamento em navios durante a Expo 98 numa investigação da PJ ordenada pelo Ministério Publico. Aconteceu em 2002.
Valentim Loureiro, então Presidente da Liga, e Pinto de Sousa, na altura presidente do Conselho de Arbitragem da FPF encabeçam uma lista de dirigentes desportivos que em 2004 foram detidos pela PJ no âmbito de uma investigação sobre tráfico de influências na arbitragem portuguesa, conhecido o caso como Apito Dourado.
O mesmo caso originou também a detenção de Pinto da Costa, ordem executada pelo Ministério Público e que viu o presidente do FC Porto, três anos mais tarde pedir uma indeminização de 50 mil euros, alegando que foi detido ilegalmente.
Em 2005, o empresário Jorge Gonçalves – presidente do Sporting no final dos anos 80 – é detido em Angola pela Polícia Económica por “negligência”, assumiu então Fernando Varela, pessoa que dirigia a empresa de Jorge Gonçalves.
O então presidente da Académica, José Eduardo Simões, foi condenado a seis anos de prisão em 2012 por crime continuado de corrupção passiva para ato ilícito e por um crime de abuso de poder. Depois de ter sido condenado a quatro anos e sete meses de pena suspensa pela Vara Mista de Coimbra, José Eduardo Simões viu a pena ser agravada pelo Tribunal da Relação de Coimbra.
João Bartolomeu foi detido em 2012. O antigo presidente da União de Leiria SAD era suspeito de burla qualificada, falsificação de documentos (letras comerciais). Foram realizadas buscas à empresa então sob administração de Bartolomeu, Materlis.
Anos mais tarde a mesma SAD viu outro presidente ser detido. Em 2016 o russo Alexander Tolstikov foi detido no âmbito das investigações na Operação Matrioskas. Suspeitava-se que o russo vira na frágil situação da União de Leiria uma oportunidade para investir no futebol português e transformaram o clube leiriense numa lavandaria de dinheiro sujo.
Ainda em 2016, José Veiga, antigo empresário de futebolistas e diretor desportivo do Benfica, foi detido pela PJ que emitiu o seguinte comunicado: “Os detidos atuavam no âmbito da celebração de contratos de fornecimentos de bens e serviços, relacionados com obras públicas, construção civil e venda de produtos petrolíferos, entre diversas entidades privadas e estatais”, podia ler-se.
No mesmo processo, com o nome Operação Rota do Atlântico, viu-se envolvido outro antigo presidente do Benfica. Manuel Damásio foi detido pela Polícia Judiciária por suspeitas de branqueamento de capitais e tráfico de influências numa investigação que decorria desde 2014.
O antigo vice-presidente do Sporting, Paulo Pereira Cristóvão viu-se envolvido numa acusação de assaltos à mão armada e foi detido pela Unidade Nacional de Contraterrorismo da Polícia Judiciária. Aconteceu em 2015.
A Operação Jogo Duplo originou várias detenções, uma delas o então presidente do Leixões. Em 2016, Carlos Oliveira foi detido pela PJ na sequência das investigações sobre o caso de jogos combinados relacionados com o submundo das apostas desportivas.