Joga no ARC Oleiros, da Série C, e já leva sete golos em dez jogos.
Os registos futebolísticos dizem que se chama Adewale Oluwafemi Sapara e dizem, também, que é um rapaz nigeriano a partir tudo no Campeonato de Portugal. Joga no ARC Oleiros, da Série C, e já leva sete golos em dez jogos.
O registo goleador despertou-nos curiosidade e, dado que é difícil seguir o Campeonato de Portugal, fomos falar com Tiago Sousa, ex-colega de Sapara, no Almancilense, e André Farinha, atual colega, no Oleiros. Para além de conhecermos o homem e o jogador, ficámos a saber umas historinhas engraçadas com garrafas de água, discussões com coreanos, comida com fartura, e com rezas barulhentas. E começamos já por aqui.
“Um coreano e um nigeriano a discutir quando um não entende o outro”
Ao Bancada, André Farinha conta que, um dia, Sapara se pegou com um coreano… por causa de uma garrafa de água.
“Ele já não tinha água para beber e foi pedir ao Tak, um jogador coreano que temos na equipa. Discutiram quase uma hora porque o Sapara não queria só uma garrafa, mas sim duas, e o Tak só queria dar uma. Agora imagina um coreano e um nigeriano a discutir quando um não entende o outro! Mas, no final, o Sapara lá conseguiu as duas garrafas de água e, agora, são quase melhores amigos”.
Esta história permite contextualizar o percurso de Sapara. É um jovem nigeriano, de 23 anos, que chegou a Portugal em 2014, para jogar no Farense, juntamente com dois outros nigerianos. E ter chegado ao Algarve, de pára-quedas, explica que o jogador tenha demorado a afirmar-se. Farense B, Quarteirense e Sertanense, mas foi em Almancil que começou a mostrar o que valia. Mas, afinal, o que vale ele?
Tiago Sousa, ex-colega, explica que Sapara, um jovem “que é capaz de comer por cinco pessoas”, “é uma cópia de Rashidi Yekini, uma lenda do futebol nigeriano e do Vitória de Setúbal. É uma besta completa, com magia africana. Um diamante em bruto, capaz de carregar uma equipa às costas. É rápido, forte, chuta e finaliza bem com os dois pés e de cabeça e é muito forte no 1 contra 1. E tem faro de golo”.
“Passa a vida a fazer diagonais”, acrescenta, lembrando que Sapara chegou a fazer um golaço aos 90+7, frente ao Olhanense.
André Farinha também nos falou de um jogador “forte na finalização”, “de raça” e “que nunca desiste de um lance”, destacando, ainda assim, um ponto a melhorar: “só mesmo talvez o querer decidir por si o lance, na frente, e não fazer o passe necessário”. “Mas qualquer ponta de lança também precisa ser um pouco egoísta”, dispara.
Tal como destacou Tiago Sousa, há ali muito de Yekini, craque que andou pelo Bonfim na década de 90.
“Uma história engraçada foi contra o Louletano. Eu estava a jogar a lateral direito e fui fazer um lançamento lateral. Para os adversários não perceberem [que o lançamento seria para Sapara], gritei ‘Yekini, é para ti’. O treinador do Louletano, o mister Fanã, disse ‘grande jogador, mas esse era do Vitória de Setúbal’”.
“Todas as manhãs acordávamos com os “gritos” dele”
Como pessoa, Sapara é definido por Tiago Sousa como “um jovem rebelde, fruto, talvez, da sua infância em África. É um jovem que tem que se saber levar, mas com um grande coração”.
Já André Farinha, que também falou da personalidade forte, destacou as dificuldades com a língua: “É uma pessoa com uma personalidade muito forte, mas também está sempre na brincadeira. Depende muito de como as pessoas sabem lidar com ele. A maior complicação por vezes é a comunicação, mas é essa mesma comunicação que resulta em tantos risos e situações engraçadas”.
Em suma, Sapara é jovem, está num campeonato do qual não é difícil tirar talentos e, sobretudo, tem mostrado ser uma máquina goleadora. “Podem ver pelas estatísticas e número de golos que ele já possui neste campeonato”, recorda André Farinha, que nos deixa, ainda, a tal história das rezas barulhentas.
“Todas as manhãs cedinho lá está ele no quarto a rezar pela religião dele, a cantar. Às vezes até parece que está a gritar e está zangado. Era o nosso despertador humano, todas as manhãs acordávamos com os “gritos” dele”.