Figura emblemática do Benfica na primeira década deste século, Pedro Mantorras abriu o coração e falou do “momento mais difícil” que passou nos “11 anos” de ligação ao clube da Luz. Esse momento ocorreu na temporada 2009/10, a primeira de Jorge Jesus como treinador das águias. Mantorras sentiu-se desrespeitado, mas garantiu que, agora, até tem uma “boa” relação com Jesus.

“Jesus foi bem claro, quando chegou ao Benfica não contava comigo. Não só comigo, também não contava com outros avançados, não vou citar nomes. Essa é a realidade. Quando Jesus chegou ao Benfica, eu já estava limitado. Se eu estivesse a 100 por cento, a equipa dele seria eu e mais dez. Só que eu não estava a 100 por cento, estava muito mal, treinava com muitas limitações. Ele disse mesmo, ‘eu não conto com o Pedro’. Só que nesse trajeto ninguém me tinha dito nada. Fiquei chateado. Podiam respeitar-me mais. Pelo que tinha feito no Benfica, podiam ser justos comigo. Não tiveram esse respeito”, começou por explicar o antigo internacional angolano.

Na mesma entrevista que destacou o carinho dos adeptos do Benfica, ao jornal Record, o antigo camisola 9 falou da dor de ser o único atleta do plantel a não jogar “um único minuto” para assim se sagrar campeão nacional. “Quando o Benfica foi campeão, no primeiro ano do Jesus, chamaram-me e eu não apareci, tinha ido para casa. Eu estava convocado para aquele jogo. A ideia de todo o plantel era que o Mantorras tinha de fazer pelo menos dois ou três minutos, isso não aconteceu. Fiquei muito triste, porque preparei-me para aquele momento, para ser campeão. Fui o único daquele plantel que não jogou um único minuto. Fiquei triste e Jesus sabe-o, já comentei isso com ele. Fiquei triste, peguei nas minhas coisas e fui para casa”, recordou.

Com mais de uma década de serviço nas águias, Mantorras sentiu-se desrespeitado por não lhe darem a oportunidade de ser campeão nacional nessa época. “Quando chamaram o meu nome, estava em casa, vi o Benfica ser campeão em casa. Gostaria que tivesse mais respeito pela minha pessoa. Que fosse sincero naquele momento e não foi. Não gostei. Quando ele disse quem ia a jogo e quem ia para o banco, peguei nas minhas coisas e fui embora. Foi tão simples como isso. No dia seguinte, estava lá, nos treinos. O Benfica ia numa digressão e eu não aceitei ir. Era um treino à porta aberta, mandaram-me bater um penálti e simplesmente não aceitei, não podia bater penáltis, estava limitado”, acrescentou.

Ficou a mágoa, que o tempo ajudou a curar. Agora, Mantorras até é “vizinho” de Jorge Jesus, mantendo com ele uma “boa” relação. “Fiquei magoado com essa situação. Dei tudo o que tinha que dar no Benfica, mais o que não podia dar. Naquele momento, pelo menos podiam falar comigo, serem sinceros comigo. É a cena mais triste que passei em 11 anos no Benfica. Foi a pior coisa que vivi no Benfica e isso nunca vou esquecer. Jorge Jesus é uma pessoa boa, espetacular. É meu vizinho. É uma pessoa simples como eu”, finalizou.