Portugal
FC Famalicão: Do fundo ao topo num par de meses e sob a batuta de duas glórias
2017-12-09 19:15:00
Dito está a renascer como técnico e João Tomás a lançar-se como diretor desportivo na campanha triunfal na Segunda Liga

Quando, em abril último, chegou ao clube, este estava em lugares de acesso ao playoff de despromoção e a lutar pela permanência. Dito assumiu o desafio, depois de ter estado quase cinco anos afastado do banco. Uma semana depois chegou João Tomás, para assumir a pasta de diretor desportivo. Os antigos internacionais portugueses conseguiram segurar o clube na última jornada. Mas o melhor ainda estava para vir em 2017/18. Este sábado a equipa minhota brindou o Santa Clara, um dos principais candidatos à subida, com um triunfo por 5-2 e assumiu a liderança provisória da Segunda Liga, afirmando-se como um sério candidato à subida. Um palco que só pisaram por seis ocasiões - já não o fazem desde a longínqua época de 1993/94.

Além do trabalho de Dito, que “renasce” como treinador, depois de ter estado no primeiro escalão na viragem do século, ao serviço do Salgueiros, e João Tomás, que está a dar os primeiros passos como diretor desportivo, há a destacar ainda a veia goleadora do jovem Rui Costa, que esta tarde apontou mais dois golos e ascendeu à liderança dos melhores marcadores do campeonato. Contratado pelo Portimonense no defeso, o atacante de 21 anos decidiu regressar a casa por empréstimo e tem mostrado jogo após jogo que merece um lugar no escalão máximo. Quem agradece é o FC Famalicão, que jornada após jornada vai assaltandos os primeiros lugares da tabela. 

O jovem que despontou na última temporada ao serviço do Varzim SC, marcando 16 golos em 47 encontros, tem sido o principal destaque na Segunda Liga desta época. Hoje chegou ao 12.º golo da temporada e décimo no campeonato. Isto em apenas 16 encontros – estreou-se a titular apenas na quarta jornada -, o que faz prever que o registo da época passada seja pulverizado. Os últimos quatro jogos em que marcou fê-lo sempre a dobrar. “O Rui Costa tem estado num bom nível”, começa por dizer João Tomás ao Bancada. “Mas acredito que o nível individual sobressai sempre quando o coletivo é muito forte e, neste momento, estamos muito felizes com todos os jogadores”, relativizou o dirigente dos famalicenses.

“Para o Rui estar a ter a performance individual que está a ter também é preciso existir muito trabalho coletivo e ele participa em grande parte nesse trabalho – ele e todos os colegas, os que jogam e os que ficam no banco ou não são convocados. Esse é que é o espírito que mais importa. O mais importante é que todos os jogadores se sintam bem, estejam felizes e depois o resultado vai aparecer. O Rui é jogador do Portimonense e está cedido. Temos mais jogadores cedidos e estão exclusivamente focados no Famalicão. E não muda mais nada”, confessa-nos João Tomás, que com a idade de Rui Costa também viveu uma subida à Primeira Liga, mas pela Académica.

O reaparecimento de Dito

Após ter vivido uma época de 2016/17 atribulada, com Ulisses Morais e Nandinho a passarem pelo banco antes da chegada de Dito, o Famalicão parece ter encontrado agora o rumo. A turma nortenha vai na terceira temporada consecutiva no segundo escalão e parece estar disposta a olhar para outros voos, depois de um trajeto que incluiu uma descida aos distritais em 2008/09. O técnico minhoto, de 55 anos, é um dos obreiros deste sucesso repentino. Na temporada passada venceu quatro dos sete jogos disputados. Esta época venceu dez dos 20 encontros realizados, empatando outros seis.

O FC Famalicão apenas foi derrotado por Santa Clara na Taça da Liga, Sporting na Taça de Portugal, depois de deixar boa imagem em Alvalade, e, para a Liga, na deslocação ao terreno do Nacional e na receção ao Académico Viseu, que iniciou a jornada como líder e pode retomar esse posto amanhã. Feitas as contas, Dito apresenta um registo vitorioso de 52 por cento. Algo que à primeira vista pode não parecer entusiasmante, mas que é bem positivo num dos campeonatos mais equilibrados e disputados da Europa.

João Tomás mostra-se orgulhoso na hora de avaliar o trabalho do antigo defesa formado no SC Braga e que também passou por Benfica e FC Porto. “O Dito tem de estar orgulhoso do que tem feito e do projeto em que está inserido. Mas esta situação também exige muito trabalho da parte dele e da parte da equipa técnica que o acompanha. A perspetiva é sempre essa, ser melhor a cada dia que passa e que os jogadores façam sempre o que eles pretendem. A posição de treinador é sempre muito suscetível de oscilações de performance e isso condiciona o dia-a-dia, mas temos tido muito orgulho na forma como as coisas têm corrido e temos de manter o foco e manter a honestidade profissional, ambição e dedicação”, salienta o diretor desportivo.

Mas já se estará a pensar na subida em Vila Nova de Famalicão? Apesar dos dotes que exibia perante as balizas adversárias, João Tomás joga à defesa nesta questão. “A mensagem que a equipa técnica tem passado, na pessoa do treinador, é a mensagem real e verdadeira. Não fugimos um milímetro ao que pensamos, temos de nos manter focados naquilo que é o trabalho diário e ir passo a passo. Essa deve ser a linha de pensamento”, aponta-nos.

Primeiros passos positivos

Depois de se ter revelado como goleador na Luz, ao lado de Van Hooijdonk, e de ter prolongado a carreira goleadora até perto dos 40 anos, ao serviço de clubes como SC Braga, Boavista e, por fim, Rio Ave, João Tomás dá agora os primeiros passos como diretor desportivo. Já tinha ocupado cargos noutros clubes, como no SC Braga, mas esta é a primeira vez no posto e tudo está a correr pelo melhor. No entanto, o antigo avançado, de 42 anos, admite-nos que este é um trabalho “difícil”.

“Tem sido um trabalho que exige muito de nós. Mas acredito que para termos sucesso em qualquer profissão temos de nos entregar de corpo e alma para que haja sucesso. Abracei o projeto em abril e queremos que seja cada vez melhor. Qualquer pessoa ambiciosa o que mais deseja para que a vida corra bem é que existam resultados. Quero fazer sempre melhor e fazer com que as pessoas que estejam ao meu lado consigam também ser cada vez melhores”, afirma.

Da experiência que adquiriu nos relvados, onde se incluem as quatro internacionalizações e um golo ao serviço da Seleção Nacional, João Tomás confessa que retira alguns pormenores para o trabalho que desenvolve no atual cargo. “Tudo é importante, mesmo as pequenas coisas que numa primeira fase não damos tanta importância e mais tarde vamos lá buscar qualquer coisa útil. A minha experiência como jogador tem tudo que ver com este cargo, embora noutra perspetiva, mas tudo ajuda. Por muito pequeno que seja o sinal, temos sempre qualquer coisa que vamos aproveitar”, assume o dirigente natural de Oliveira do Bairro.

O mediatismo que gera o nome João Tomás acaba por dar mais atenção ao cargo que agora ocupa, mas também os resultados conseguidos voltam a atrair algumas luzes da ribalta. Apesar do foco estar somente no FC Famalicão, o jovem dirigente sabe que no presente... o futuro pode estar ao virar da esquina. “Toda a envolvência do futebol permite que qualquer que seja o cargo existam coisas boas e más. Já foi assim enquanto era jogador e com muitos treinadores que tive. Como diretor desportivo, somos sempre avaliados por aquilo que fazemos na profissão. A vida é mesmo assim, é como um bom gestor, médio, mecânico… quando são bons no que fazem as probabilidades de as coisas correrem bem são sempre maiores”, explica.

“No tempo do meu pai e da minha mãe, que foram professores toda a vida, era possível ficar a dar aulas no concelho a vida inteira. O meu avô foi imigrante muitos anos e quando enviava uma carta ela demorava meses a chegar. Agora, em tempo real estamos na China, no Japão, na América… O Mundo evoluiu de tal ordem que tudo é longe, mas perto ao mesmo tempo. E tudo é avaliado em qualquer lado. Estamos sempre a ser avaliados e a ser falados. Obviamente que gostamos de ser falados pelas coisas boas, mas é preciso encarar um dia de cada vez”, finalizou com eficácia, ao bom estilo dos velhos tempos.