Portugal
“Eu digo ao Rui Pinto: 'Estou fora, arranja outro advogado na Rússia...'"
2019-12-18 15:05:00
Aníbal Pinto, indignado com decisão do Ministério Público, reitera que nunca compactuou com práticas de extorsão

O Ministério Público (MP) insistiu – na fase de instrução do processo em que são arguidos Rui Pinto e Aníbal Pinto, nesta quarta-feira – que o advogado fosse a julgamento, tal como Rui Pinto, nos exatos moldes da acusação.

À saída do tribunal, depois de ser ouvido, Aníbal Pinto manifestou-se indignado com essa posição do MP, que não aceitou a sua desistência.

Para a procuradora do MP no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, não há nulidades na acusação e foram respeitadas “todas as exigências e procedimentos legais” no pedido de alargamento de Mandado de Detenção Europeu feito às autoridades húngaras para que a justiça portuguesa pudesse investigar Rui Pinto, além dos acessos ilegais aos sistemas informáticos do Sporting e da Doyen.

Aníbal Pinto ficou indignado com decisão do Ministério Público. “Se isto não é uma desistência, eu não sei o que é uma desistência. Eu digo ao Rui Pinto: 'Estou fora, arranja outro advogado na Rússia, em Inglaterra, onde quiseres. Eu não compactuo com isto'”, referiu.

Para o causídico, se a sua desistência fosse aceite, poderia estar em causa a libertação de Rui Pinto.  

“Só entendo que o Ministério Público peça a minha pronúncia porque tem muita dificuldade em entender e em aceitar a minha desistência. É que, em consequência, pode ter de aceitar a desistência de Rui Pinto. E pode ter de libertar o Rui Pinto e reconhecer que o Rui Pinto não deveria estar preso, porque ele também desistiu da instrução. Eu disse isto lá dentro à juíza”, argumentou, em declarações aos jornalistas.

“Eu não tenho dúvida nenhuma de que, quando eu esclareci o Rui Pinto do que poderia ser uma instrução, ele se arrependeu”, continuou.  

Confrontado com o facto de Rui Pinto saber ou não de que a extorsão é um crime, Aníbal Pinto não esclarece. “Eu sei lá do que ele sabia!”, exclama, sem esconder a sua indignação.

“Eu sou escutado, transcrevem as minhas conversas, os meus SMS, tem os meus emails, tudo é absolutamente claro e cristalino. Eu disse sempre ao doutor Pedro Henriques: ‘Não vale a pena a gente reunir’. Ele diz-me: ‘É vital que venha’. E diz-me isso enquanto advogado. Pedro Henriques deveria ter vergonha de ser advogado”, acusa.  

A instrução, fase facultativa que visa decidir por um juiz de instrução criminal se o processo segue e em que moldes para julgamento, foi requerida pela defesa dos dois arguidos no processo: Rui Pinto e o seu advogado, à data dos factos, Aníbal Pinto.

O Ministério Público (MP) acusou Rui Pinto de 147 crimes, 75 dos quais de acesso ilegítimo, 70 de violação de correspondência, sete deles agravados, um de sabotagem informática e um de tentativa de extorsão, por aceder aos sistemas informáticos do Sporting, do fundo de investimento Doyen, da sociedade de advogados PLMJ, da Federação Portuguesa de Futebol e da Procuradoria-Geral da República, e posterior divulgação de dezenas de documentos confidenciais destas entidades.