Portugal
“Estou curioso de ver quem vai defender Vieira e quem vai defender o Benfica”
2021-06-28 21:20:00
Jorge Mattamouros lamenta que “tentativa de democratizar o Benfica” tenha de ser feita pela via judicial

O advogado Jorge Mattamouros, que avançou com uma ação em tribunal para destituir Luís Filipe Vieira da presidência do Benfica, assumiu estar “curioso” para ver quais serão os colegas que vão defender o dirigente e o clube, num alerta para a hipótese de Vieira se ‘servir’ do Benfica para a sua defesa pessoal.

“Estou curioso de ver quem vai defender Luís Filipe Vieira e quem vai defender o Benfica. Serão os mesmos advogados? Quem paga os advogados da defesa do Benfica? Somos nós, sócios? Ora, a acusação relata factos graves de uso do clube para benefício pessoal. Como é que advogados em nome do clube não terão um conflito de interesses em defender Luís Filipe Vieira e o clube? Não estou a dizer que isso vai acontecer, mas aqui há interesses desavindos. Uns são os interesses de Luís Filipe Vieira, outros são os interesses do Benfica”, afirmou Jorge Mattamouros.

Em conversa com outros associados do Benfica, transmitida pelo podcast Falar Benfica, o advogado garantiu que a ação não tem qualquer relação com o desempenho do Benfica na temporada 2020/21, insistindo que a finalidade é “libertar o Benfica de Luís Filipe Vieira”.

“Acho que Luís Filipe Vieira é tóxico, é prejudicial ao Benfica. Mas libertar de forma lícita. Não vou mentir, não vou fabricar prova. Procurei fundamentos jurídicos e factuais. A ação, além do resultado final, irá criar momentos para falar de coisas importantes, na tentativa de democratizar o Benfica. Infelizmente, é pela via judicial”, reforçou.

A ação terá ainda a vantagem de “desacreditar” a ideia “de que os benfiquistas estão partidos ao meio, pró-Vieira e contra Vieira”, complementou. Para ajudar a essa desmistificação, será lançado um site com “os documentos principais da ação, o que serão as respostas, um timeline, a cronologia do que vai sucedendo e uma área de perguntas e respostas”.

Jorge Mattamouros avançou para os tribunais apesar de se sentir “em desvantagem” perante a “máquina de propaganda” que Vieira, na opinião deste associado, foi montando ao longo dos anos através do Benfica.

Com um misto de conhecimento do Vieirismo e como advogado com alguma experiência, creio que Luís Filipe Vieira vai usar a comunicação social para mandar uns soundbites, mas depois adotar uma estratégia processual diferente”, antecipou: “Ele vai ter uma estratégia díspar entre a realidade processual e a realidade mediática. E com o aparelho mediático de Luís Filipe Vieira, estarei em desvantagem. Mas ter um site é um veículo para mitigar a possibilidade de desinformação. Não tenho nenhum medo de discutir as provas, seja em que sede for”.

Na qualidade de advogado, Mattamouros criticou os tribunais portugueses pela “obsessão com a prova direta”, apontando como exemplo o homicídio de Luís Grilo, um processo que ganhou dimensão mediática.

“Há uma obsessão em Portugal com a prova direta. Como é que se sabe que a Rosa Grilo matou o marido? Alguém estava lá? Alguém viu? Não. Não se prova corrupção só quando há uma filmagem de um pagamento, ou um recibo. Um juiz pode olhar para a prova ‘a’ e ‘b’ e tirar uma inferência. Isto é normal e acontece todos os dias em todo o mundo. É errada a ideia de que um juiz não pode – com base nos números objetivos do Benfica e nas auditorias que foram feitas ao Novo Banco – retirar conclusões legítimas e inferências sobre quais foram as motivações. É errado, é juridicamente errado. É diferente do flagrante delito? Claro que sim”, explicou.

“Se construirmos prova de que tudo foi feito para impedir que qualquer pessoa pudesse escrutinar os resultados das eleições, isto é irregular, é preocupante, é problemático. E isso é muito diferente de especulação. Isto não é ‘acho que o Vieira fez’. A forma como esta ação foi montada é: usar a prova pública, em cima disso juntar prova testemunhal, junta-se prova forense, e com base nisso o juiz vai decidir. Alguma imprensa, por algum ceticismo, tem esta necessidade de procurar a prova absoluta do crime. Isto não é uma ação de crime. É uma ação de violação dos estatutos”, finalizou Jorge Mattamouros.