Portugal
“Estas coisas não se controlam”. Rui Vitória ao lado de Jesus
2021-04-15 22:05:00
Ex-treinador do Benfica comenta abaixamento de forma da equipa encarnada em janeiro e fevereiro

O Benfica encontra-se num ciclo impressionante no campeonato, com cinco vitórias consecutivas e um registo de dez golos marcados e zero sofridos, após um início de ano terrível. Nos meses de janeiro e fevereiro, as águias sofreram vários percalços e apresentaram um nível exibicional que valeu várias críticas ao técnico Jorge Jesus, o mesmo que hoje recebeu o prémio de melhor treinador da I Liga no mês de março.

Ao longo desse tempo, Jesus apontou várias vezes o dedo à pandemia de covid-19. Do plantel da equipa principal, só três jogadores escaparam ao coronavírus. Em toda a estrutura do futebol do Benfica houve “50 pessoas” infetadas, ainda de acordo com as declarações do treinador encarnado. Jesus disse que “não há equipa que resista” e recebeu agora o apoio de Rui Vitória, ex-treinador das águias.

Durante a conversa com António Simões, para o programa Cultura Tática, da SportTV (a ser emitido na íntegra na madrugada desta sexta-feira), Rui Vitória, atualmente “a aguardar um projeto”, realçou ter passado por uma experiência semelhante na Arábia Saudita. Quando orientou o Al Nassr, teve 26 casos, pelo que está bem a par do que passou Jorge Jesus no Benfica em janeiro e fevereiro.

“Lá [na Arábia Saudita], para implementar algumas regras, era uma luta constante, diária. Não tocar nas coisas uns nos outros, não estar próximo (e eles são afetuosos), não deixar ninguém entrar na nossa bolha quando estávamos juntos... Este tipo de coisas eram difíceis lá, mas aqui são mais percetíveis e aceitáveis, não só pelos jogadores, como por toda a gente”, comparou.

No futebol europeu em geral e no português em particular, fica mais fácil ao clube criar uma bolha de segurança, de forma a prevenir os contágios. Ainda assim, os surtos vão ocorrendo em vários clubes, com mais ou com menos casos. “É estranho quando acontece, apesar de vermos que isto acontece e não percebemos porquê”, comentou. Nesse sentido, por mais cuidados sanitários que tenham sido implementados, a covid-19 entrou mesmo no Benfica, com evidentes reflexos na prestação desportiva no início do ano. “Aqui toda a gente está mais informada, teoricamente a probabilidade de acontecer é menor, mas às vezes estas coisas não se controlam. Isto provoca novas adaptações, é um desafio e o treinador que estar muito atento a estes pormenores”, completou Rui Vitória.

Em várias intervenções públicas, Jorge Jesus queixou-se dos problemas causados pela pandemia. Um dos desabafos mais expressivos ocorreu no início de fevereiro, após a vitória sobre o Famalicão: “Não tem sido fácil. Estive 15 dias sem ver os jogadores, sem poder treinar. Esta covid arrasou o Benfica. Isto não é desculpa, tirou a equipa técnica, tirou a equipa médica, dos 27 jogadores só três é que não tiveram covid. Isto teve consequências na equipa. Vão dez jogadores para casa e quando regressam vão mais cinco ou seis. A equipa perdeu competitividade e confiança. Parece uma equipa fantasma”.