Portugal
"Estar no Benfica ou numa empresa de salsichas é quase igual. É um desnorte"
2021-02-21 12:05:00
"Como comentador, tenho feito muito mais do que qualquer assalariado do Benfica", diz Malheiro

O Benfica está em crise de resultados e ao nível das exibições e a contestação a Luís Filipe Vieira continua a aumentar, conhecendo agora um depoimento cáustico por parte de João Malheiro, ex-diretor de comunicação no pós-Vale e Azevedo na direção de Manuel Vilarinho, que não deixou 'pedra sobre pedra', acusando a atual direção de pensar o Benfica como uma espécie de empresa de "salsichas".

"O Benfica está num desnorte absoluto. Era a formação, Jorge Jesus foi embora. Depois, deu no que deu", explicou Malheiro, referindo que acabaram por voltar a contratar o técnico, que estava no Flamengo.

Visivelmente desagradado com o rumo que o Benfica tem tomado nos últimos anos, tendo perdido o penta face a um FC Porto sob regras apertadas da UEFA ao nível financeiro, Malheiro criticou figuras que defendem Vieira sob o 'manto' do medo de aparecer uma nova figura que deixe o clube fragilizado.

"Que me desculpe, porque temos uma relação de grande cordialidade, mas o José Manuel Capristano consegue branquear tudo. José Manuel Capristano, desculpe trazer isto mas o senhor foi vice-presidente de Vale e Azevedo, foi candidato com Vale e Azevedo nas eleições que Manuel Vilarinho venceu. Sei a herança que os senhores deixaram", acusou João Malheiro, lamentando a postura de Capristano, que tem defendido Vieira.

João Malheiro explica que viveu por dentro as dificuldades no pós-Vale e Azevedo e lembra que, na altura, os benfiquistas perceberam que "havia benfiquismo" mesmo que os resultados desportivos não tivessem logo aparecido. E é ao nível do benfiquismo que nota não existir no atual Benfica que deixa um duro ataque à direção de Vieira.

"Nunca viu ninguém dizer 'rua, Vilarinho'. Porque perceberam que, embora fosse um Benfica fragilizado, havia benfiquismo. O Benfica precisa de Benfica, neste momento, de benfiquismo. Temos quadros que chegam de outros clubes, com outras simpatias e pagos com ordenados milionários. Perdemos a cultura de clube e temos uma cultura empresarial. Estar no Benfica ou numa empresa de salsichas ou de peças de automóveis é quase igual, não há cultura de clube", criticou o ex-diretor de comunicação, salientando que a direção de Vieira tem vindo a aglutinar a oposição.

"Não há solidarieade, é aparente. Os principais dirigentes do clube eram da oposição a Luís Filipe Vieira. Esta é a verdade e estas coisas têm de ser ditas. Eu digo isto com a maior das angústias. Eu amo o Benfica. Eu quero que o Benfica ganhe".

As críticas de Malheiro passam também pela forma de comunicar do Benfica em relação aos temas 'quentes' do futebol português como são as arbitragens.

O ex-diretor de comunicação lamenta que ninguém se manifeste perante as arbitragens e só recentemente o façam. "O Benfica não diz nada, não se manifesta e é um desnorte absoluto. Finalmente [Jesus criticou a arbitragem]. É tardíssimo. Eu, como comentador, tenho feito muito mais do que qualquer responsável do Benfica, do que qualquer assalariado. Agora, isto está longe de esgotar o problema", salientou, dizendo que, quando for altura de se fazer um balanço da época, "Jorge Jesus será mais vítima do que culpado", disse Malheiro na CMTV.

As coisas não têm corrido da melhor forma nesta temporada ao Benfica, já depois de ter perdido o campeonato na última época e a Taça de Portugal.

Luís Filipe Vieira continua a ser contestado no Benfica e têm vindo a ser conhecidos episódios do desagrado para com a administração encarnada, sob a forma de placas que apareceram espalhadas em Lisboa e Porto mas também tarjas.

"Rua Vieira", podia ler-se em várias placas que surgiram em vários locais da capital e da Invicta, sendo que a letra é aparece com o símbolo idenfiticativo da moeda euro.