O ‘clássico’ de quinta-feira entre Benfica e FC Porto, da 31.ª jornada da I Liga de futebol, será uma “final antecipada” quanto às aspirações dos dois rivais, reconheceu à agência Lusa o ex-internacional português João Manuel Pinto.
“Se o FC Porto quer chegar à liderança, tem de ganhar na Luz. Se o Benfica quer chegar ao segundo lugar, tem de ganhar ao FC Porto. Se houver empate, a almofada continua melhor para o FC Porto, mas o Sporting poderá ficar a oito pontos [caso vença o Rio Ave] e não acredito que deixe mais fugir o título”, vincou o ex-defesa de ‘águias’ e ‘dragões’.
O Benfica, terceiro classificado, com 66 pontos, recebe o campeão nacional FC Porto, segundo, com 70, seis abaixo do líder invicto Sporting, na quinta-feira, às 18:30, no Estádio da Luz, em Lisboa, quando restam quatro rondas para o final do campeonato.
“Nesta fase, o importante não é jogar bem, mas sim fazer pontos. Tudo ainda é possível, pelo que teremos aqui um verdadeiro ‘clássico’. Acredito que será muito intenso, com grande concentração e determinação, e espero que os intervenientes estejam à altura, incluindo a arbitragem, que tem estado muito debaixo de fogo e cometido erros”, notou.
Advertindo que o FC Porto “tem levado mais pontos da Luz que o contrário” em partidas da I Liga nos últimos anos, João Manuel Pinto admite que um novo desaire do Benfica “arruma de vez” as contas do acesso direto à fase de grupos da Liga dos Campeões.
“Quando chegas ao final da época e não ganhas o título, que é o objetivo principal, nunca é bom. Se o Benfica ganhar a Taça de Portugal, continuo a dizer que não foi uma época boa. Ficando em segundo lugar, continua a ser má. Se for terceiro, as coisas são ainda piores, e terá de fazer uma pré-eliminatória, que este ano não correu nada bem”, avaliou.
O “dinheiro e o prestígio” proporcionados pela presença na principal prova europeia são “muito importantes” para os clubes portugueses e podem, no caso dos ‘encarnados’, ajudar a compensar um recorde de investimento de 105 milhões de euros em 2020/21.
“O Benfica faz bons jogos de repente, mas é muito inconstante, e tem tido uma época de altos e baixos, enquanto FC Porto e Sporting são bem mais regulares. Foram criadas expectativas tão grandes em cima de um clube muito grande, sendo que alguns reforços não conseguiram impor a sua qualidade e a covid-19 trouxe muitas dificuldades”, frisou.
Nesse lote de fatores prejudiciais ao desempenho do Benfica, João Manuel Pinto, de 47 anos, prioriza a ausência de público nos estádios, algo “importantíssimo” na esfera dos ‘grandes’, ao ponto de dosear a pressão contra adversários teoricamente acessíveis.
“O Benfica teve uma oportunidade de ouro com um grande plantel e treinador, muitas soluções e gente muito competente. Sei é que foram dadas todas as condições aos jogadores, mas, por vezes, as coisas não correm bem. A balança pesou mais para o lado não das expectativas”, resumiu o ex-central das ‘águias’, nas épocas 2001/02 e 2002/03.
A estabilização no ‘onze’ do defesa brasileiro Lucas Veríssimo, único reforço contratado na reabertura de mercado, estimulou as ‘águias’ a apostarem numa estrutura com três centrais, que “certamente será implementada” no ‘clássico’, em vez do habitual 4-4-2.
“Os atletas tiveram de se adaptar rapidamente ao modelo, que não é o do Jorge Jesus, mas introduz mais unidades na área e dá liberdade aos laterais para fazerem o corredor. Isso tem dado frutos e mais golos, com a exceção do jogo com o Gil Vicente [derrota em casa por 2-1], mas em Tondela [vitória por 2-0] voltaram à linha de quatro”, constatou.
Atendendo às melhorias do meio-campo do Benfica, mediante os “bons momentos” de Pizzi e do alemão Julian Weigl e as “variações dos extremos para zonas interiores”, João Manuel Pinto acredita numa modificação do tradicional 4-4-2 do FC Porto para um 4-3-3.
“É uma equipa com muita experiência, grande qualidade na frente e jogadores muito evoluídos em termos técnicos. O FC Porto tem sempre algo na manga nas bolas paradas e o Sérgio Conceição tem sempre algo de estratega para poder surpreender o oponente. Por norma, os ‘clássicos’ decidem-se hoje em dia com pequenos pormenores”, apontou.
O técnico irá cumprir o segundo de quatro jogos de suspensão e “fará muita falta” no banco, mas o ex-defesa dos ‘azuis e brancos’, entre 1995 e 2001, ressalva que “nestes jogos não é preciso dizer nada aos jogadores, pois todos já sabem o que têm de fazer”.
“O FC Porto vem com tudo para esta grande final, que servirá para o Sporting perceber o que sairá dali. Um empate ou uma vitória do Benfica irá dar mais conforto até ao fim”, concluiu João Manuel Pinto, que venceu quatro campeonatos, três Taças de Portugal e duas Supertaças nas Antas e partilhou balneário com Sérgio Conceição de 1996 a 1998.