O defesa-central do Santa Clara Fábio Cardoso, que fez formação no Benfica, foi decisivo no reencontro com a ex-equipa, na última jornada, ao apontar o golo do empate, que atrasou os encarnados na luta pelo título. Esse lance surge dias depois de se terem levantado suspeitas sobre outro jogador que reencontrou o FC Porto e que teve a infelicidade de cometer uma grande penalidade. As suspeições surgiram, foram alimentadas por comentadores e ganharam eco na comunicação social.

Na mesma jornada, Fábio Cardoso calou essas suspeições, em campo. O central que passou pela Luz - e que no passado também foi vítima desses burburinhos - marcou um golo e foi um muro na defesa dos açorianos. Convidado do canal 11, o jogador fez um apelo: pediu que se acabasse com essas vozes, que não fazem sentido, tal como o jogador provou em campo. 

"Esclarecer este assunto não passa só por nós. Passa pelos clubes e também pela comunicação social e todas as pessoas que têm visibilidade e que podem fazer com que as coisas se invertam. A mim não me afeta. O meu saldo com o Benfica até é bastante positivo. Mas sei que alguns jogadores se deixam abalar. Esta imagem que se passa para fora não acontece noutros campeonatos e em nada valoriza o nosso futebol. É preciso erradicar esse tipo de comportamentos o mais rapidamente possível", disse Fábio Cardoso.

O defesa apela aos "jogadores, à comunicação social, aos clubes, aos jornalistas e aos comentadores" para que comecem "a dar o exemplo e não alimentar estas polémicas". E recorda que já foi vítima dessas suspeições. "Num jogo com o Benfica, fui expulso e estou ligado ao primeiro golo deles", lembra. E na altura falou-se de alegados (e infundados) favores ao clube onde se formou.

"Sou profissional e só defendo as cores do clube que represento. Isto magoa porque a nossa família acaba por levar por tabela, porque não está tão preparada como nós estamos. Custa-nos um pouco quando tentam denegrir a nossa imagem e isso atinge a minha mulher, o meu pai, a minha mãe. Quanto a mim, sei lidar com isso. Faz parte", salientou o central do Santa Clara.

Convidado a comentar palavras de Edinho (que publicou nas redes sociais um comentário a elogiar Fábio Cardoso, depois do golo que marcou ao Benfica, na passada segunda-feira), o defesa do emblema açoriano generaliza e defende o jogador português. Edinho critica, sem citar nomes, a contratação de Lucas Veríssimo, em detrimento do jovem que se formou no emblema encarnado. “Vão buscar este e aquele e têm o melhor central da Liga, que fez formação lá [Benfica]. E não o vão buscar. Enfim", escreveu Edinho. 

Fábio Cardoso não entra em polémicas, mas faz a defesa do jogador português. "Sinto que o jogador português, às vezes, é mais valorizado no estrangeiro do que em Portugal. Temos muita qualidade. E posso falar de mim, que me estreei na I Liga, no primeiro ano no Paços de Ferreira, numa equipa que terminou em sétimo lugar, com o Paulo Fonseca. Desde que cheguei, a meio da época, fiz os jogos todos. Sinto que tenho mostrado qualidade e que os clubes portugueses olham mais para fora do que para dentro. E isso é errado, porque temos de valorizar o que é nosso, principalmente quando o que é nosso é tão bom", salientou.

O jogador do Santa Clara olha o futuro e presente abraçar um projeto mais ambicioso. "Estou numa fase da carreira em que posso dar o salto, mas esse salto só acontece se eu me focar no que controlo. E o que controlo é o meu trabalho e aquilo que posso fazer", referiu.

O defesa não fecha a porta a nenhum clube grande. E não tem qualquer 'contrato de exclusividade' para com o Benfica: apenas respeito e gratidão. "Claro que jogaria noutro clube que não o Benfica. O único sentimento que tenho pelo Benfica é respeito, mas respeito todos os clubes, da primeira liga e dos distritais. Tenho ainda um sentimento de gratidão pelo Benfica, porque foram eles que me deram a mão quando eu era muito jovem. Mas eu quero dar o salto, novos desafios, quero sair da minha zona de conforto e chegar à seleção nacional, que é o meu grande objetivo".

E jogar num grande tornará essa missão mais fácil. "Não digo que o selecionador não esteja atento, mas claro que é sempre mais fácil ser chamado à seleção quando se joga no Benfica, no FC Porto, no Sporting, no SC Braga e até no Vitória, do que quando se joga no Santa Clara", concluiu.