Convidado do programa Futebol Total, do canal 11, nesta segunda-feira, Pepa perspetivou a temporada do Vitória. Vestido de preto e branco, as cores do clube onde vai trabalhar, o treinador falou da identidade vimaranense, do forte sentimento dos adeptos de Guimarães, mas destacou-se outra mensagem: o elogio aos seus companheiros de profissão, na I Liga e não só, que fizeram “trabalhos extraordinários” e que merecem um elogio. Na ausência do destaque mediático justo, Pepa dedicou um longo raciocínio aos colegas.
“Nós temos uma tendência muito vincada em Portugal, que é olhar só para quem ganha. Porque isso é que vende. Vende livros, aparece nas televisões. E isso não é só aqui em Portugal – o Leicester foi campeão e vendeu séries, vendeu livros, vendeu tudo. E porque é que não olhamos para outro tipo de trabalhos?”, começou por perguntar.
Pepa referia-se a outros ‘títulos’ conseguidos por técnicos que, com menos meios, alcançaram as respetivas metas. Sem reconhecimento mediático, na opinião do técnico do Vitória.
“E o trabalho, por exemplo, do Petit, no Belenenses SAD? Fez um trabalho extraordinário: teve de rentabilizar e potencializar jogadores da equipa B, porque tinha um onze espremido. O próprio treinador do Tondela, Pako Ayestarán, que nunca tinha trabalhado em Portugal como treinador principal, com poucos recursos, conseguiu a manutenção”, assinalou.
“Já nem falo do Daniel Ramos”, prosseguiu, referindo-se à qualificação do Santa Clara para as competições europeias. “Aquilo é um título. Chegar à Europa é um título. Temos a tendência de só olhar para quem é campeão, para quem vence a Taça. Parece que todos os outros falharam”, acusa.
Pepa compreende que o campeão nacional, o vencedor da Taça, a equipa que faz uma grande caminhada europeia mereçam o reconhecimento. E o próprio reconhece esse mérito aos treinadores dos grandes. Mas lembra que há vitórias escondidas no meio da tabela. E repete a já célebre ideia dos 18 Mourinhos, Klopps e Guardiolas.
“Todos nós queremos ganhar. Eu quero títulos, no Vitória, claro que quero, mas temos de ter noção de que podem estar cá 18 Mourinhos, 18 Klopps, 18 Guardiolas e só um será campeão. E dois descem de divisão”, diz.
Mas não é apenas na I Liga que há grandes treinadores e clubes vencedores. “E o trabalho do Arouca? E do Vizela? Dois clubes que vieram da Segunda B e subiram dois anos seguidos? É um trabalho incrível, extraordinário. Mas temos tendência a olhar só para o que vende...”, insiste Pepa, que falou também dos treinadores de referência.
"Aprendi com todos. O Paulo Sérgio apanhou-me numa fase muito complicada da minha vida. Eu tinha feito seis operações, estava no limbo entre terminar a carreira de jogador ou não, e, na Olhanense, fez-me acreditar, tentar, tornar-me resiliente. Todos me marcaram. O professor Jesualdo Ferreira, que me ensinou questões que ficam para a vida. Jupp Heynckes, no Benfica, parou um treino porque um passe saiu meio metro ao lado. Ele não perdoava e achava inconcebível que um profissional falhe um passe de 10 metros. Para mim não é inconcebível, mas é estranho", realçou.
Noutro raciocínio, e depois de confrontado com o facto de muitos jogadores do Paços de Ferreira estarem agora associados a transferências, devido a uma valorização que tiveram sob as ordens de Pepa, o técnico entrega todo o mérito para os jogadores. Sem falsas modéstias.
“Há que desvalorizar a forma como a minha forma de jogar é recebida, porque eles é que vão para dentro do campo. Mas são medalhas que ficam. Isso não paga a casa, não põe leite no frigorífico para as minhas filhas, mas são medalhas que ficam: ajudar a valorizar jogadores, porque desse modo estamos a ajudar o clube. Sinto-me muito realizado”, afirmou.
Nesta experiência no Vitória, no novo desafio profissional que o espera, Pepa sente já a força do clube, a forte identidade dos adeptos. Pepa surge no estúdio do canal 11 vestido de preto e branco. E esse não é um detalhe de indumentária.
“O Vitória é especial. Dois dias antes da apresentação estive na cidade. E vi, com os meus olhos, várias pessoas de preto e branco. Não vejo outras cores. Aquilo é único... É único. Já via isso quando jogava contra. Via os adeptos atrás das balizas e parecia que, ou punham lá uma barreira, ou puxavam a bola para dentro da baliza. E foi só na cidade. Quando abrirem o estádio... É um clube especial”, destacou.
A missão é “ganhar”, o que não surpreende. “Queremos todos”, acrescenta. No entanto, “mais do que ganhar, é identificar a equipa”. “A televisão até pode estar a preto e branco, mas os adeptos do Vitória terão de identificar a sua equipa. Mas isso não é o Pepa. A identidade muito vincada já existe”, conclui.