O negócio entre José António dos Santos, o maior investidor privado da SAD do Benfica, e o empresário norte-americano John Textor continua a marcar a atualidade desportiva nacional. A investigação ao negócio pela Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) acabou por ser decisiva para o futuro de Luís Filipe Vieira, que apresentou a renúncia aos cargos que ocupava no Benfica.
Numa adenda ao prospeto do empréstimo obrigacionista, enviado à CMVM, a SAD do Benfica anunciou que vai lançar um “processo de averiguações internas”, por temer que um eventual “incumprimento de quaisquer deveres legais e contratuais por parte de Luís Filipe Ferreira Vieira” possa ter “consequências graves e adversas a vários níveis” para a sociedade encarnada.
A situação está a ser acompanhada com atenção pelos benfiquistas, mas também pelos rivais. Miguel Cal, um antigo administrador da SAD do Sporting, não deixou de estranhar que a saída de Vieira do Benfica se deva à operação Cartão Vermelho, depois do ex-presidente das águias ter sido envolvido em vários casos e processos.
Num comentário irónico, publicado no Twitter, o ex-administrador leonino lembrou que Vieira tinha resistido a casos como o e-toupeira e a operação Lex sem que a SAD do Benfica se tivesse pronunciado sobre os mesmos da forma como agora visou o ex-presidente, a propósito do “eventual incumprimento” no negócio (não concretizado) da venda de 25 por cento da SAD a John Textor.
“Depois dos e-mails, vouchers, mala ciao, e-toupeira, operação lex, saco azul, OPA ilegal, buraco nos bancos. Depois disto tudo é que acordaram para a vida?”, provocou o ex-administrador da SAD do Sporting, nas redes sociais, ao partilhar uma notícia sobre o “processo de averiguações internas” anunciado pela SAD do Benfica.
De acordo com a adenda ao empréstimo obrigacionista em curso, a SAD do Benfica salientou que se encontra "a cooperar com as autoridades competentes, prestando todas as informações que lhe foram ou venham a ser solicitadas e a diligenciar no sentido de apurar os factos relevantes para, conforme previsto na lei, aferir o cumprimento dos deveres legais e contratuais por parte de Luís Filipe Ferreira Vieira enquanto desempenhou funções como membro do Conselho de Administração".
“Nesse âmbito, a Benfica SAD prevê dar em breve início a um processo de averiguações internas para, tendo em conta os deveres legais e estatutários vigentes, apurar todas as responsabilidades aplicáveis", complementaram as águias, admitindo que eventuais incumprimentos por parte de Luís Filipe Vieira “poderão implicar consequências graves e adversas a vários níveis para a Benfica SAD, com impactos negativos (que o Emitente, atualmente e com base na informação disponível, não consegue quantificar) na reputação e imagem do Emitente e, consequentemente, nas atividades da Benfica SAD”.
A SAD do Benfica reiterou ainda que desconhecia o acordo para que o investidor norte-americano John Textor adquirisse 25 por cento do capital, frisando que esses negócios nunca foram “mencionados em nenhuma reunião do Conselho de Administração” e salientando que a própria SAD nunca assumiu “qualquer posição contratual em relação a esses negócios”.
Depois dos e-mails, vouchers, mala ciao, e-toupeira, operação lex, saco azul, OPA ilegal, buraco nos bancos. Depois disto tudo é que acordaram para a vida? https://t.co/mgWnhNuXQl
— Miguel Rodrigues Cal (@Mrcal77) July 17, 2021