Portugal
“Depois de ter eliminado a Juventus, FC Porto pode chegar à final e ganhá-la” 
2021-03-16 22:45:00
Pinto da Costa eleva a fasquia da Champions até aos níveis de 1987, quando os dragões bateram o Bayern

O presidente do FC Porto concedeu uma entrevista ao Porto Canal, nesta terça-feira, onde abordou diversos temas da atualidade portista, desde a caminhada na Liga dos Campeões, ao tema da renovação de contrato com o treinador, vínculo que termina no final da época, e as renovações com alguns dos principais jogadores do plantel 

Relativamente à Champions, Pinto da Costa eleva a fasquia até ao nível de 1987. “Depois de ter eliminado a Juventus, o FC Porto pode chegar à final e ganhá-la. É o meu desejo, a minha esperança. Acredito que pode acontecer. Já em 1987 só eu acreditava. O Artur Jorge sentiu-se contagiado e também passou a acreditar. E o que é certo é que fomos à final com o Bayern e ganhámos. Sem sentimento de vingança, porque sempre que fomos a finais ganhamo-las todas”, afirmou irigente portista. 

“A Liga dos Campeões é a prova mais prestigiada, onde toda a gente quer participar. Para chegar aos quartos de final, chegam oito, no meio de centenas. Entramos sempre para ganhar, mas não estamos sozinhos para ganhar. Fomos eliminados da Taça de Portugal com fatores que não foram normais, estamos em segundo lugar do campeonato, matematicamente podemos chegar ao primeiro, mas não encaramos a Champions como o lavar a face. Encaramos como um clube que já venceu a prova por duas vezes e quer vencer a terceira”, acrescentou. 

Relativamente à participação europeia dos campeões nacionais, Pinto da Costa faz uma crítica à Federação e à Liga, em virtude dos calendários apertados e à ausência de medidas que permitissem ao representante português na Champions de preparar a eliminatória sem ter de competir três dias antes. 

“Tivemos uma vitória com a Juventus. Achei engraçado dizerem que é uma grande vitória do futebol português. Foi apenas uma vitória do futebol português porque o FC Porto joga em Portugal. Mas foi uma vitória do FC Porto. O futebol português, ao contrário do que acontece noutros países, não fez nada para que o FC Porto vencesse”, acusou.  

“Fomos a Turim, jogo decisivo, e três dias antes tivemos de jogar em Barcelos. O calendário é apertadíssimo. É impossível jogar de três em três dias. Antes do FC Porto-Benfica, na Madeira, para a Taça, jogámos 120 minutos. O futebol português não ajudou nada. É inconcebível que um clube que traz pontos para o ranking seja tratado desta forma. A Federação e a Liga devem tomar medidas. É muito bonito receber mensagens de parabéns, a ‘chapa cinco’ que recebemos antes dos jogos. Mas o importante era ouvir: ‘alto, parou o baile, que o FC Porto tem aqui uma eliminatória e não pode jogar três dias antes’. Isso é que era bonito, mas os organismos não se preocupam nada com isso”, criticou. 

Ainda sobre os feitos europeus do FC Porto, Pinto da Costa nota uma exaltação do que é mau e uma ocultação do que os azuis e brancos fazem de bom: “No estrangeiro, sinto um grande respeito pela comunicação social estrangeira. Em Portugal, desvaloriza-se o que o FC Porto faz de bem e valoriza-se o que o FC Porto possa fazer de mal. Os grandes êxitos e acontecimentos são esquecidos, escondidos, e quando são realçados é com muita azia”.

As críticas do presidente do FC Porto tiveram outro destinatário: o Estado, pela forma como trata o clube azul e branco, sobretudo numa altura em que a pandemia vem agravar quadros financeiros difíceis, com perdas de receitas avultadas. Pinto da Costa acusa o Estado de incumprir as suas obrigações e revela que teve de apresentar duas queixas em tribunal, por incumprimentos estatais na devolução do IVA.

"O futebol profissional não tem respostas. Falo do FC Porto. Sei o que se passa nos outros clubes, mas não tenho o direito de falar. O FC Porto perdeu 27 milhões de euros com o encerramento dos estádios. Deixou de vender bilhetes, deixou de vender o merchandising... Sabe qual foi a ajuda do Estado? O FC Porto paga todos os anos 42 milhões de euros de impostos. Mais sete milhões de Segurança Social. Sabe qual foi a ajuda? Como qualquer empresa, temos direito à devolução do IVA. Até 31 de dezembro tínhamos de receber 7,5 milhões de IVA do Estado. Não nos pagou. Tivemos de fazer uma queixa em tribunal. Pagaram quatro e tivemos de fazer nova queixa. O tribunal notificou o Ministério das Finanças. Sabe quando recebemos? Nunca. Não nos pagam. E estamos a reclamar subsídios, nem empréstimos, apenas que nos devolvam aquilo que é nosso. É esta a ajuda que o Estado dá aos clubes", acusa.

"Este Governo vira-se agora para o futebol amador. O futebol amador é que dá prestígio a Portugal, é que ganha as provas e vai eliminar a Juventus...", conclui Pinto da Costa, que fala em "parasitas do futebol" que falam em "estados gerais do futebol", sem que essas iniciativas tragam melhorias.

Sobre a centralização dos direitos televisivos, Pinto da Costa aponta o dedo também à Liga, ao Governo e à Federação: “Não sei qual é o grande negócio, não sei para quem é, mas para o FC Porto não é um grande negócio. Deve ser um negócio da China. Não é para os clubes. Para quem é um dia saber-se-á”. 

A Liga e o secretário de Estado estão preocupados com a centralização dos direitos, a Federação também. Isso é um grande negócio, mas é para 2028, porque os clubes têm contrato até 2028 e não podem anular. Então a grande prioridade é fechar um contrato que só vigorará em 2028 e, entretanto, deixar os clubes em dificuldades extremas e não ajudar absolutamente nada?”, pergunta. 

Sobre o campeonato, Pinto da Costa disse que o segundo lugar não é objetivo e garantiu que todos acreditam que ainda pode ser possível alcançar o primeiro lugar.

"As condições são ganhar os jogos que nos faltam e esperar os resultados dos outros. Ganhando os nossos garantimos o segundo lugar, que não é nunca o objetivo, mas garante a presença na ‘Champions' no ano que vem. Enquanto matematicamente for possível, a equipa entra a pensar no primeiro lugar", disse.

O presidente dos FC Porto voltou a abordar a questão da ausência de público nos estádios e referiu que esse assunto "é incompreensível".

"A ausência do público é algo incompreensível, para mim. Os Açores não estão melhores do que nós e há público nos estádios. Em Portugal, fizeram dois ensaios, que correram muito bem. Depois, fecharam novamente. Porque ensaiaram? Pensando que iria correr mal, para depois terem argumento para fechar novamente? Houve tourada, um espetáculo de um humorista, em recintos fechados, e no futebol é inconcebível que não possam estar 20 mil pessoas num estádio. Há camarotes que são de famílias, e não os podem usar. Podem estar em casa juntos a ver o futebol, mas no estádio, que é ao ar livre, não podem. É areia a mais para a minha camioneta", lamentou.

Em matéria financeira, a tendência segue positiva, até em resultado da boa campanha na Champions. A saída do fair-play financeiro “deverá ocorrer no final da época”.  

“Estamos convencidos de que sim. Tudo está orientado nesse sentido. Tivemos 34 milhões de lucro, no primeiro semestre. No segundo semestre, poderemos melhorar, com a ajuda da Champions. Há ainda a saída de jogadores como o Danilo que ainda não foram concluídas, porque há cláusulas de opção”, detalhou. 

Os empréstimos obrigacionistas serão pagos atempadamente, segundo o presidente portista, que tranquiliza os adeptos: “Um será pago antecipadamente. Antes de junho. O outro será pago em julho. Serão pagos os dois”.