Portugal
"Depois das AG o meu fato ia para o lixo. O Benfica era vivido com tensão dura"
2021-09-25 09:20:00
Saídas de Moniz e Varandas Fernandes "aumentam a responsabilidade de Rui Costa", alerta Fernando Seara

Rui Costa oficializou a candidatura à presidência do Benfica, com os vice-presidentes José Eduardo Moniz e Varandas Fernandes a colocarem-se de fora da corrida, anunciando que não integrarão a lista do ‘maestro’. A decisão dos ‘vices’ tem provocado várias interpretações, numa altura em que só Francisco Benítez e Rui Costa confirmaram a ida a votos nas eleições de 9 de outubro.

Fernando Seara, antigo dirigente do Benfica e advogado, confessou ter ficado surpreendido com a carta “de grande dignidade” de Moniz, que alegou “desafio profissionais” para não acompanhar Rui Costa no próximo processo eleitoral. E rebateu algumas críticas que têm surgido sobre o clima de tensão em recentes assembleias-gerais (AG) do Benfica, ainda com Luís Filipe Vieira na presidência, lembrando a realidade encarnada no tempo da liderança de João Vale e Azevedo.

“Não sou herói, mas eu fui candidato numa lista que perdeu, que deu a cara numa altura complexa do Benfica. Houve duas ou três assembleias-gerais em que cheguei a casa e o meu fato foi para o caixote do lixo, porque fui cuspido toda a noite. No tempo de Vale e Azevedo, o Benfica era vivido com paixão. Era vivido com tensão dura. Não vale a pena ter ilusões sobre o tecido associativo do Benfica”, afirmou Fernando Seara.

A paixão pelo Benfica manifesta-se agora de outras formas. Rui Costa prepara-se para assumir o poder de forma mais efetiva, agora legitimado pelo voto, depois de ter dado a cara quando Vieira foi detido e renunciou ao cargo. “O momento do Benfica põe nas mãos de Rui Costa um desafio”, continuou Seara, numa altura em que a tensão está ‘escondida’ pelos bons resultados da equipa, que lidera o campeonato e conseguiu qualificar-se para a fase de grupos da Liga dos Campeões.

“Cada um desses vice-presidentes contribui para aumentar a responsabilidade de Rui Costa, dando-lhe espaço para a escolha da sua equipa. Sabemos que cada um deles foi importante no seu tempo, nas suas circunstâncias”, fundamentou o ex-dirigente encarnado, lembrando as aparições de Varandas Fernandes como “um porta-voz do Benfica” e a “linha estratégica de Moniz” na comunicação das águias, em particular “nestes tempos da consolidação do poder de Rui Costa”.

No mesmo comentário, para A Bola TV, Fernando Seara alertou que as decisões comunicadas por Varandas Fernandes e José Eduardo Moniz podem não ser irreversíveis. Num “tempo de apaziguamento”, as declarações dos vice-presidentes “até poderão permitir a insistência de Rui Costa na sua continuidade”.

Como advogado, Seara optou por não se alongar nos comentários à atualidade do clube, avisando que não deixará de “fazer a análise” e pronunciar-se publicamente quando achar oportuno.

“Cada um de nós tem a consciência do que foi o Benfica nos últimos tempos, das circunstâncias do Benfica, das tensões do Benfica... O Luís Filipe Vieira era presidente, mas a lógica das tensões já lá estava. Não me esqueço de momentos como o que envolveu Nuno Gaioso. Tenho algum conhecimento de causa, mas por questões deontológicas estou castrado no comentário”, concluiu Fernando Seara.