Portugal
"Dá-me confusão ver tanta gente inteligente a fazer tanta coisa mal feita"
2020-05-23 20:55:00
Manuel Cajuda preocupado com regresso do futebol após "dois meses caóticos"

Manuel Cajuda, um dos mais experientes treinadores portugueses, manifestou-se preocupado com o regresso da I Liga quando ainda sobram mais dúvidas do que soluções.

"Dá-me confusão ver tanta gente inteligente a fazer tanta coisa mal feita", resumiu o técnico, em declarações à A Bola TV, a propósito das inúmeras "declarações e reuniões" que se foram sucedendo nos últimos tempos.

Foram "dois meses caóticos", com "toda a gente a querer ser inteletualizante, a ser um bicho de cultura pelas palavras que utilizavam, mas em completo desacordo" e sem soluções concretos para os vários problemas que a paragem da I Liga (devido à covid-19) provocou.

"Todos os dias se vêem novas ideias e críticas maldosas. Temos visto chamarem traidores uns aos outros, isto não é exemplo para quem tem o dever de procurar as melhores soluções para o futebol", reforçou.

O campeonato vai regressar com os jogos à porta fechada, o que afasta desde logo o melhor do futebol.

"Vai ser difícil haver bons jogos quando falta a melhor equipa, que é o público", frisou Manuel Cajuda.

O técnico, que deixou o Leixões após ser confirmado o encerramento antecipado da II Liga, criticou a decisão tomada lembrando que, "tirando quatro ou cinco estádios", raramente os jogos do principal escalão têm lotação esgotada.

"Os outros [estádios] têm 20 por cento da lotação. Se esses [espectadores] fossem divididos pelas bancadas em vez da aglomeração teríamos possibilidade de pôr mil pessoas no estádio", argumentou.

Quando toda a sociedade vive "uma realidade extremamente confusa", o regresso do futebol vai ocorrer também sem que haja preocupação com o impacto psicológico da pandemia nos jogadores.

"Passaram por problemas quando não havia necessidade, confinados nos quartos, em corrida da cozinha ao quarto de banho, alguns em apartamentos que não têm mais do que 180 metros quadrados. Mas o que aconteceu mentalmente?", questionou.

E deu o próprio exemplo, brincando com o som do nome Cajuda.

"Eu era (e sou) do tipo de marido que, quando a mulher me pedia uma coisa, dizia que quando tivesse tempo fazia. Durante dois meses, perdi a oportunidade de dar essa resposta e fiz uma série de coisas que não estava habituado a fazer. E eu sou o que ajuda [Cajuda]", brincou.

O técnico comentou ainda a polémica reunião de Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira e Frederico Varandas com o primeiro-ministro, António Costa, levantando a hipótese destes presidentes terem ido defender os interesses dos grandes e não do futebol português em geral.

"Os pobres pedem, os ricos exigem. A exigência dos grandes poderia ter sido boa, a questao que tenho é se os grandes foram lá no sentido de proteger os pobres e tornar as coisas melhores para o futebol", concluiu Manuel Cajuda.