Portugal
"Clubes não se podem queixar, são os culpados pelos excessos", diz Vítor Manuel
2021-04-30 18:50:00
Treinador admite que também fez "disparates" e apela a uma "reflexão"

A segunda metade da época tem proporcionado uma série de polémicas, envolvendo praticamente todos os clubes e agentes de todos os setores, dos jogadores a treinadores, de dirigentes a empresários, da arbitragem ao Conselho de Disciplina. Nesta ponta final do campeonato, os treinadores têm assumido algum protagonismo, em particular Rúben Amorim e Sérgio Conceição, empatados no número de expulsões (quatro).

Vítor Manuel, um dos mais experientes treinadores portugueses, salientou que não é fácil para um técnico gerir as emoções quando o campeonato entra na fase de todas as decisões. “Aquilo é quase como uma cadeira elétrica”, comparou. No entanto, são cada vez mais e mais graves os “excessos”, prejudicando o futebol enquanto “produto” que Portugal pode exportar.

Depois dos “excessos”, surgem os castigos. E as reações dos clubes, quer em defesa do treinador, quer a condenar o castigo de que foi alvo. Vítor Manuel lembra que foram os clubes que aprovaram os regulamentos disciplinares que enquadram esses castigos, pelo que não se podem “queixar”, tanto mais que, ao fazerem esses mesmo regulamentos, propositadamente incluiram sanções “brandas” para os maus comportamentos dos treinadores.

“A culpa é dos regulamentos que os clubes aprovam. Os clubes é que são os culpados destes excessos e que as penalizações dos mesmos sejam brandas. Eles é que são os culpados, portanto não venham queixar-se daquilo que fazem. Não venham agora com tretas, assumam as responsabilidades, porque são eles que causam as situações que acontecem, porque os regulamentos são feitos para favorecer os clubes. Ponto”, afirmou Vítor Manuel, em declarações na A Bola TV.

Lembrando a posição da Associação Portuguesa de Treinadores de Futebol, que admitiu que há técnicos que “têm-se proporcionado a esse tipo de castigos”, Vítor Manuel apelou aos colegas que tenham “um bocadinho mais de contenção”, em especial quando têm de falar “a quente”. “Depois, a frio, já metemos a mão na consciência e temos a humildade e hombridade de pedir desculpa. As desculpas evitam-se, mas quando se faz um disparate não custa nada vir pedi-las”, salientou.

Um conselho de quem nunca foi “santinho”. “Eu entendo-os, porque também já estive lá sentado, sei é o que é. Aquilo é quase como uma cadeira elétrica, há ali um turbilhão de emoções e quando estamos na fase das decisões o nosso estado emocional está mais fragilizado. Também fiz alguns disparates, não fui santinho. Houve momentos em que não me consegui controlar. Agora, há que fazer uma reflexão, há que pensar isto tudo, para que o nosso futebol seja mais positivo”, insistiu.

Nos comentários e análises aos comportamentos dos treinadores, tem sido apontada com frequência a diferença entre os comportamentos nas provas nacionais e nas provas europeias. Sobre esta questão, Vítor Manuel lembrou uma expressão típica dos primeiros jogadores portugueses a jogarem no estrangeiro, onde o futebol era levado “a sério”.

“Isto faz-me lembrar a história dos nossos primeiros jogadores a ir para o estrangeiro, que diziam que lá fora é que era a sério. Quer dizer, quando andaram cá estavam a brincar? Isto é um bocadinho como os treinadores, lá fora há regras e as pessoas sabem onde estão e o que pode acontecer, aqui é em lume brando”, finalizou.