Portugal
Clubes "à rasca" mas "se não há jogos, se não há 'palhaço', não há dinheiro"
2020-04-07 13:00:00
Camilo Lourenço curioso para saber "onde isto vai parar"

Especialista em assuntos económicos, Camilo Lourenço abordou o impacto que a suspensão das provas desportivas terá na tesouraria dos clubes e avisou que o futebol não é uma 'ilha' isolada que escapará.

"Se os analistas e sindicalistas em Portugal julgam que o futebol vai passar ao lado desta crise desenganem-se, ok? Sem receitas de bilhética, patrocinadores e transmissão televisiva...", avisou, sublinhando que os clubes "não têm máquinas de imprimir notas".

"Isto é um problema grave, não sei se a lei se irá aplicar às SAD mas é bom que percebam que o futebol não vai escapar a isto."

No espaço de comentário em 'A Cor Do Dinheiro', que emite no 'Facebook', Camilo Lourenço também insiste que "com todas as competições desportivas paradas isto cria um problema aos clubes". E detalha-os.

"Problema de bilheteira, de sponsorship comercial, marcas, publicadade nos estádios, camisolas e problema de receitas de transmissões televisivas", referiu, dizendo que percebe que "naturalmente" os clubes falem em cortar salários.

"Se não há jogos, se não há 'palhaço', não há dinheiro, isto é sensato", referiu, em declarações no espaço de comentário.

Camilo Lourenço mostrou-se ainda curioso para saber "onde isto vai parar", sobretudo na Premier League, que costuma servir de 'modelo'.

"Poderá colocar em causa a sustentabilidade dos clubes em Inglaterra como poderá ser exportada para outros países. Há zonas onde os jogadores gostam muito de protestar sem olhar ao que é a realidade das coisas. Uma coisa é certa, o futebol terá de se adaptar".

Camilo Lourenço admite ainda que os clubes "estão à rasca" de receitas e "alguns deles estão falidos, como se sabe", assintindo-se, nos últimos dias, a uma "telenovela" por causa dos direitos de transmissão.

Sobre este tema, de resto, Camilo Lourenço aponta o dedo ao Tiago Craveiro, dirigente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

"Olhei com algum detalhe ao que estava a ser dito e pensei que os operadores deviam uma fortuna. Comecei a analisar e vi uma realidade completamente diferente. Os jogos de janeiro e fevereiro tinham sido pagos. Os de março... quem lia pensava que os jogos não tinham sido pagos", realçou, prosseguindo.

"Quando fui analisar melhor, descobri que os pagamentos... houve alguém da Federação que se meteu nisto e andou a fazer figuras estranhas, Tiago Craveiro, isto não fica bem. A mensagem que se passou é que deviam dinheiro aos clubes. Pediram aos operadores dinheiro de jogos não feitos."

A pandemia do novo coronavírus já parou muitas das competições nacionais e internacionais e deixou o mundo suspenso, com avultados prejuízos em muitas áreas e setores de atividade, sendo que o futebol não foge à regra.

Deste modo, vários clubes têm tentado encontrar alternativas para manter os jogadores em atividade e traçaram planos de treino durante o isolamento mas, ao mesmo tempo, os administradores tentam evitar problemas de tesouraria e pensam em medidas para lidar com os prejuízos. 

Em Portugal, o Belenenses SAD tornou-se no primeiro clube da I Liga de futebol a anunciar a entrada parcial em ‘lay-off’ a 6 de abril. Um exemplo seguido no mesmo dia pela SAD do Desportivo de Chaves, da II Liga, que confirmou, ao abrigo deste regime, o corte de um terço do salário dos jogadores, mas esclareceu que irá além do limite máximo de 1.905 euros para os ordenados, assegurando a diferença suplementar até perfazer dois terços do vencimento.