Se Ryan Gauld partiu para a nova temporada com expetativas renovadas e confiança no seu futuro por Alvalade, o escocês, contratado pelo Sporting em julho de 2014, ter-se-á de contentar com novo empréstimo a uma equipa do campeonato português. Uma preferência do jogador, ainda assim, que em comunicações anteriores sempre mostrou preferência em garantir experiência a nível competitivo no futebol continental ao invés de regressar a casa. A imprensa escocesa garantiu que existiam interessados mas o futuro de Ryan Gauld passa pelo CD Aves.
Se em início de junho, à RTP, Ryan Gauld era um rapaz confiante no seu futuro no Sporting, entusiasmado pela chamada aos treinos da equipa principal do Sporting de vários elementos da formação secundária do clube, será na Vila das Aves que a temporada 2017/18 do escocês se desenrolará. Aos 21 anos, Gauld parece estar já há uma eternidade no futebol mas a sua ascensão não tem sido tão rápida e frutuosa como se previa.
Em três anos muito muda. Há três anos, ainda ao serviço do Dundee United, Ryan Gauld, somente com 18 anos (começou 2013/14 com 17 anos) teve a sua temporada de revelação. Na Escócia o talento natural de Gauld contrastava com a potência física habitual no escalão principal do país. Gauld mostrava algo que muito poucos, ou nenhuns, jovens jogadores escoceses haviam mostrado nas últimas décadas. Principalmente, os saídos das escolas de um clube do país. O futuro de Ryan Gauld antevia-se brilhante, apelidavam-no de (mini) Messi escocês. Contudo, a sua ascensão não foi tão positiva e brilhante como se antevia. Curiosamente, um percurso que se confunde com o do anterior clube.
Em três anos muito muda. Se há três anos o Dundee United era uma das mais entusiasmantes propostas de futebol na Escócia, aos dias de hoje, aquele que é um dos principais clubes escoceses parte para 2017/18 na segunda divisão do país. Será a segunda temporada consecutiva do clube escocês na segunda divisão depois da queda em 2016. Antes disso, só em 95/96 o clube estivera na segunda divisão, por um ano, uma temporada que interrompeu quase quatro décadas consecutivas como clube primo divisionário, que nos anos 80 foi presença habitual nas competições europeias e, até, campeão escocês.
Há três anos o Dundee United foi quarto classificado na Premiership escocesa e Ryan Gauld teve a sua temporada de revelação. Depois de presenças pontuais ao serviço do clube em 2012/13 e da estreia ainda com 16 anos em 2011/12, Ryan Gauld integrou em 2013/14 um dos mais entusiasmantes ataques do futebol escocês com Nadir Ciftci, Gary Mackay-Steven e Stuart Armstrong. Só o Celtic fez mais golos que o Dundee United nessa temporada na liga escocesa. Em 2013/14, Ryan Gauld participou em 31 dos 38 encontros do Dundee United na liga escocesa, contribuindo com seis golos e sete assistências para a temporada da sua equipa. Uma temporada em que os Tangerines, como são conhecidos, chegaram ainda à final da Taça da Escócia que acabaram por perder por 2-0 para o St. Johnstone. Mas, mais que tudo isto, Ryan Gauld anunciou-se ao mundo do futebol, estabeleceu-se não só como um dos mais promissores jovens jogadores a nível britânico, mas europeu, deixando grande parte dos clubes continentais interessados no seu passe – atendendo, claro está, ao que foi sendo escrito pela imprensa durante esse período.
Tal como o Dundee United, o futuro que se possibilitou a Ryan Gauld foi uma deceção. Enquanto o clube continua a tentar o seu regresso ao convívio com os grandes da Escócia, o jogador continua sem conseguir ser impactante e deixar a sua marca no futebol em Portugal. No Desportivo das Aves procurará dar seguimento a um promissor empréstimo que teve no Vitória em Setúbal - terminado pelas razões que são já sobejamente conhecidas -, depois de, ao serviço da equipa principal do Sporting, na liga portuguesa, não ter ido além de escassas utilizações a partir do banco na temporada de estreia em Portugal e, no ano passado, não ter saído do banco de suplentes na vitória do Sporting por 3-0 em Setúbal. Tal como o seu antigo clube - e curiosamente, Jackie McNamara, treinador que lhe concedeu a afirmação no futebol escocês -, a carreira de Ryan Gauld tem passado por divisões secundárias.
Em 2017/18, porém, Ryan Gauld irá encontrar no Desportivo das Aves um projeto promissor que poderá ajudar o escocês a relançar a carreira. Em Alvalade, dado o sistema de jogo de Jorge Jesus, dificilmente encontrará espaço num futuro próximo, mas replique Ricardo Soares na Vila das Aves o sistema que implementou em Chaves durante a segunda metade da temporada passada, então, Ryan Gauld reencontrará um sistema e modelo de jogo próximos daquele que em 2013/14 o tornou um dos jovens mais apetecíveis do futebol europeu. Em 2013/14, no Dundee United, Ryan Gauld foi essencialmente utilizado como extremo direito – explorando a sua capacidade de intervenção em terrenos interiores - e médio ofensivo centro no sistema de 4-2-3-1 de Jackie McNamara, assente num modelo de jogo de futebol apoiado que Ricardo Soares também explora. Um sistema que exponencia a capacidade de Ryan Gauld em ser decisivo no último terço do terreno (com a sua visão de jogo e qualidade de passe), características que, apesar da sua qualidade no transporte de bola a partir de zonas recuadas (jogando como #8, por exemplo), continuam a ser o seu ponto forte.
A carreira de Ryan Gauld não tem corrido como se previa e o próprio tem noção disso. À BBC, em final de maio, garantiu que apesar de não ter tido os minutos de primeira equipa que talvez esperasse por esta altura, a experiência tem sido importante no seu desenvolvimento. "Gosto de viver longe de casa, aprecio o estilo de futebol praticado e é algo que quero continuar a experimentar", referiu, descartando a possibilidade e interesse em regressar ao futebol britânico. À BBC, Gauld lamentou o regresso extemporâneo ao Sporting mas garantiu que "treinar com os rapazes que venceram o campeonato europeu, por si só, ajudou ao [seu] desenvolvimento". Em 2017/18 Gauld começa a entrar numa fase decisiva da carreira e, no Desportivo das Aves, a sua carreira tem tudo para sofrer a explosão que promete desde 2013. Uma temporada para a qual partiu afirmando "sentir que vai ser a [sua] melhor época".
