Portugal
“Caso do túnel da Luz é o mais vergonhoso do futebol português”
2021-07-22 22:35:00
Pinto da Costa recorda castigo de 17 jogos a Hulk e fala de uma “montagem para provocar zaragata”, no Estádio da Luz

O episódio desta quinta-feira de ‘Ironias do Destino’, emitido pelo Porto Canal, foi dedicado ao caso do túnel da Luz, que remonta à temporada 2009/10 da I Liga. Num Benfica-FC Porto, registaram-se incidentes entre jogadores, no Estádio da Luz, sendo que cinco elementos do plantel portista, entre os quais Hulk, acabaram mesmo acusados pelo Ministério Público.  

Na altura, a Comissão Disciplinar da Liga suspendeu o avançado brasileiro por quatro meses, sendo que também o defesa romeno Sapunaru foi alvo de castigo pesado de seis meses. “É ser muito simpático chamar ‘polémico’ a este acontecimento. O caso do túnel da Luz foi o mais vergonhoso da história do futebol português”, acusa Pinto da Costa. 

O líder do FC Porto fala mesmo de “uma montagem para provocar uma zaragata”. Como consequência, realizou-se um inquérito, liderado pelo presidente do Conselho de Disciplina da Liga de então, Ricardo Costa.  

"Terminado o processo, Hulk foi castigado com três jogos, já depois de ter cumprido 17... Aquilo que hoje é decidido de forma célere demorou o tempo suficiente para que o Hulk cumprisse 17 jogos. Polémico não é o termo. É vergonha. Esse senhor, mais os responsáveis da Liga, entre os quais o senhor Hermínio Loureiro, estão ligados à maior vergonha do futebol português”, repete Pinto da Costa. 

O presidente do FC Porto argumenta que os incidentes resultaram de um esquema criado de forma propositada, para “protelar” o processo e atrasar ao máximo a sua decisão. “É um episódio negro, vergonhoso. Até me custa dizer o nome desses senhores. O que eles fizeram é inaudito”, afirma.  

No final dessa época, Pinto da Costa aposta em André Villas-Boas para o comando técnico, para responder ao título do Benfica. E a propósito desta conquista, Pinto da Costa não reconhece mérito aos triunfos de Benfica ou ao do Sporting, na época passada. 

“Os campeonatos ficam sempre conhecidos com um nome. Há o campeonato do Calabote, há o campeonato do túnel, como este há de ficar conhecido como o de Hugo Miguel e António Nobre”, dispara. 

O dirigente portista considera que há falta de verdade, apesar de reconhecer que o Benfica tinha, naquela época, “uma equipa fortíssima”, liderada por “Jorge Jesus, que estava no auge da sua carreira”. 

“Contratar um jovem que eu conhecia bem, porque acompanhava o FC Porto desde os tempos de Bobby Robson, foi uma jogada de risco. Mas eu acreditava em Villas-Boas. Formámos uma boa equipa e recordo-me do primeiro jogo, que foi a Supertaça”, lança Pinto da Costa, viajando pela primeira vitória do FC Porto diante do Benfica, naquela época. 

“Lembro-me de que, a caminho do estádio, em Aveiro, a ideia geral era de que o Benfica iria ganhar facilmente, iria golear. Mas o FC Porto fez um grande jogo. E as pessoas pensaram: ‘afinal o miúdo está a fazer grandes coisas’. O miúdo era Villas-Boas. Da descrença passou-se para uma grande fé”, recorda o dirigente, antes de lançar os célebres 5-0. 

“Mais tarde, passados uns meses, em 2010, tivemos aquele célebre jogo com o Benfica, para o campeonato, em que ganhámos por 5-0. No futebol, não há vinganças. Foi uma forma de mostrar que, quando nos dão como mortos, sabemos sair das situações mais difíceis. Com esses 5-0, as pessoas passaram a achar que o FC Porto não iria ser uma equipa que iria fazer companhia ao grande campeão que seria o Benfica”, diz. 

A época viria a ser notável, com dobradinha nas competições internas e mais uma conquista europeia: a Liga Europa. 

“De jogo em jogo, fomos melhorando, Falcao a fazer golos de toda a maneira, ganhámos o campeonato, a Taça, conquistámos a sétima vitória europeia, em Dublin, frente ao SC Braga. Foi uma grande festa: foi a primeira final europeia portuguesa. Se ganhasse o SC Braga, teria ganho sempre uma equipa portuguesa. Bom ambiente entre adeptos, numa jornada muito bonita”, recorda Pinto da Costa. 

Seguiu-se a saída inesperada de André Villas-Boas, que abandonou a cadeira de sonho. “Começou tudo em 2010, com a vinda do André Villas-Boas, que, quando chegou, estava na cadeira de sonho. Infelizmente, vieram outros valores: aquilo com que se compram os melões. E a cadeira ficou vazia”, conclui.