Portugal
Caldo entornado em Matosinhos: Leixões e SAD abrem guerra e também viram costas
2018-08-22 21:30:00
Depois do Belenenses há mais um histórico do futebol português com clube e SAD de costas voltadas.

Por Matosinhos, domingo foi dia de dérbi. No denominado Dérbi do Mar, histórico confronto entre Leixões e Varzim SC, a vitória sorriu ao conjunto visitante porém, mais do que o resultado, o confronto entre ambos os conjuntos que militam na segunda divisão portuguesa ficou marcado por desacatos que obrigaram à intervenção policial. Até aqui tudo parece resumir-se a mais um dia mau na história recente do futebol português, porém, o episódio decorrido no Estádio do Mar mostrou ser o levantar do véu de um problema cada vez mais recorrente no futebol em Portugal: o do desentendimento entre clube e SAD. Tal como no Restelo, estalou o verniz no Leixões.

Leixões e Leixões SAD estão de costas voltadas. Mais do que nunca, numa divergência que se acentuou desde que Paulo Lopo, presidente da SAD do Leixões, se aliou a Rui Jorge Rego candidato à presidência do Sporting. Paulo Lopo - nome que Rui Jorge Rego apresentou para liderar a SAD de Alvalade - suspendeu as suas funções no clube de Matosinhos a partir desse momento, porém, a contestação por parte da direção do clube e dos sócios do Leixões não esmoreceu. “Para nós não é negócio, só amor à camisola”, lembraram os adeptos do Leixões em tarjas durante o encontro, com a contestação a tomar formas mais agressivas após o apito final e a consumação da derrota do Leixões aos pés do rival Varzim, desacatos que para a SAD do clube foram motivados pela direção do clube leixonense como acusam hoje em comunicado.

“A Administração da Leixões Sport Club – Futebol, SAD vem por este meio manifestar o seu desagrado pelos atos de violência acontecidos no último domingo no Estádio do Mar, principalmente no pós-jogo, e que levaram a intervenção policial. Esta situação foi desencadeada pela ação de algumas pessoas ligadas à Direção do Leixões SC, que, durante toda a semana, incentivaram a que fosse feita esta contestação, tendo inclusive combinado que iriam ver o jogo com o Varzim nos camarotes 13 e 15 para que não fossem envolvidos nos referidos protestos que tinham previamente planeado. Esta atitude, por parte de algumas pessoas da Direção do Leixões SC, nada tem a ver com aquilo que deveria ser o clima institucional que deveria existir entre as partes, e resulta da ambição pessoal do Presidente do Clube, Duarte Anastácio, que, após várias tentativas frustradas de aquisição da maioria do capital social da SAD, em proveito próprio e não para o Clube, decidiu entrar por outros caminhos menos claros”, acusou a direção da SAD do emblema de Matosinhos em comunicado durante o dia de hoje que devido aos desacatos ocorridos procedeu ao “Cancelamento do protocolo com a claque do Leixões para a oferta de bilhetes até que a mesma se venha publicamente demarcar dos acontecimentos ocorridos após o jogo com o Varzim”.

A troca de acusações entre clube e SAD do Leixões faz lembrar o que se vai passando pelo Restelo e dura já há alguns dias. No passado domingo, através de uma publicação no Facebook do clube de Matosinhos, a direção do Leixões acusou a SAD de não ter em conta a opinião do clube ou de prestar informações ao clube no que à gestão das equipas jovens do Leixões diz respeito. “Esta direção tudo tem feito para ocupar o seu lugar na Leixões SAD a fim de defender os superiores interesses do Leixões Sport Club. Esta direção tudo tem feito para obter informação da SAD acerca dos aspetos económicos e desportivos. Esta direção não obstante das inúmeras tentativas efetuadas, nunca foi ouvida pela Leixões SAD nomeadamente sobre as equipas sub18, sub19, equipa sénior e sobre qualquer outra decisão do dia-a-dia da Leixões SAD. Atenta a indisponibilidade da Leixões SAD para o diálogo com o clube, nada mais nos resta que o recurso às entidades competentes para a regularização das súbditas ilegalidades”, pode ler-se na publicação - “Elaborámos um acordo de partilha de direitos, concedendo de forma gratuita ao clube 20% sobre os direitos dos sub19 e 50% dos direitos dos sub18”, respondeu a SAD em relação a acusação relativa às camadas jovens do Leixões.

Publicação na qual o clube Leixões SC acusa ainda a SAD de gestão desapegada e de perspetiva puramente económica, utilizando tal como justificação para não terem assistido ao encontro perante o Varzim na tribuna presidencial do Estádio do Mar: “O Leixões Sport Club vem manifestar a sua discordância para com as atitudes que têm sido adotadas por alguns elementos da Leixões SAD, nomeadamente pelo seu presidente. O Leixões é e será sempre o amor desta direção. Não vemos, nem nunca veremos, o Leixões de forma desapegada e numa mera perspetiva económica. Nunca será o Leixões, para nenhum membro desta direção o trampolim para outros clubes, nunca envergaremos qualquer camisola a não ser a do Leixões e muito menos o faremos em campanhas eleitorais de outros clubes. Pelos motivos acima elencados entendeu a direção do Leixões Sport Club que não estavam reunidas as condições para assistir ao jogo de hoje no camarote presidencial”.

A SAD, por seu lado, rejeita as acusações, recorda o estado do clube aquando da compra do capital do mesmo por parte da empresa Playfair liderada por Paulo Lopo e acusa Duarte Anastácio, presidente do Leixões de ambição desmedida após tentativas infrutíferas na compra do capital da SAD. A SAD recorda um pagamento de 4000€ feito por Paulo Lopo para saldar uma dívida à EDP ainda antes da compra do capital do clube, bem como o pagamento do jantar de candidatura de Duarte Anastácio. A SAD do Leixões tornou ainda público o valor total das dívidas do clube, que ascendiam a quatro milhões de euros, na altura em que a atual SAD comprou a maioria do capital do Leixões: “Nesta mesma altura encontravam-se penhorados as contas bancárias, na Caixa Geral de Depósitos e no Montepio Geral, pagamentos da Liga de Clubes, da Federação Portuguesa de Futebol e de restantes devedores, encontrando-se a SAD em falência técnica”, pode ler-se na publicação emitida hoje pela SAD do clube de Matosinhos.

A SAD, porém, foi mais longe ao acusar ainda a direção do clube de fazer hábito de não pagar impostos e de regularmente se ver obrigada a avançar com diversos valores para fazer frente a problemas criados pelo clube derivado do que consideram ser irresponsabilidade e má gestão por parte da direção de Duarte Anastácio. A SAD do emblema de Matosinhos acusa mesmo a direção do clube de usurpação e de limitar a liberdade de expressão da sociedade.

“Quando entramos para a SAD, o Clube não tinha total acesso à página de Facebook nem ao Site, situação que o Presidente Paulo Lopo se prontificou a resolver, tornando os membros da Direção do Clube administradores daquelas plataformas. Pois, pouco tempo depois, o Presidente Duarte Anastácio mandou retirar à SAD a possibilidade de colocar qualquer informação nas referidas plataformas eliminando-nos das funções de administradores/editores. Chamamos a isso usurpação, para não usar um termo violento, pois foi a SAD que criou esses veículos de comunicação. Felizmente, não conseguiram fazer o mesmo com a Página da Leixões TV porque aí não eram administradores, mas só editores, página que apregoam como mais um sucesso do clube quando todos sabem que foi o Presidente Paulo Lopo, pessoalmente, que a criou. Na sequência de tudo isto, fomos obrigados a criar uma página nova de Facebook, como é do conhecimento de todos”, acusa a SAD.

Mas há mais. A SAD do Leixões acusa mesmo o clube e a direção do clube de crime fiscal e financeiro: “Recebimento de um cheque em nome da Leixões SAD endereçado à nossa empresa referente ao seguro do jogador Kikas, indevidamente depositado nas contas do Clube, o que é crime; Foi pago em cheque na secretaria do Clube um camarote referente à empresa do Sr. Eduardo Anastácio, valor que foi indevidamente depositado na conta do Clube, o que é crime”. Além de tudo isto, a SAD do Leixões acusa ainda o clube de nunca ter ressarcido a sociedade dos valores referentes a bilhetes de época e quotização que ficaram estabelecidos no protocolo entre o clube e a SAD, afirmando que as dividas à Autoridade Tributária, essencialmente devido ao não pagamento de IMI, ascendem já a centenas de milhares de Euros.

Depois do Belenenses há assim mais um histórico clube do futebol português cuja passagem a SAD não está a correr como seria esperado. Por Matosinhos estalou o verniz e clube e SAD estão agora de costas voltadas. Certo, é que dentro de campo a instabilidade certamente não estará a ajudar com o Leixões a ter perdido ambos os jogos realizados esta temporada na segunda liga portuguesa, bem como o encontro da segunda fase da Taça da Liga perante o Feirense. Estará a nascer uma nova “tradição” no futebol português?