Portugal
“Boavista é um grande, mas fez uma transição demasiado precipitada”
2021-07-17 14:00:00
Vasco Seabra realça que “não é com um estalar de dedos as coisas acontecem”

O treinador Vasco Seabra foi um dos protagonistas do último campeonato ao levar o Moreirense ao oitavo lugar, chegando a intrometer-se na luta pelos lugares europeus. O técnico acabaria por deixar os cónegos, tal como na primeira parte da temporada deixou o Boavista, formação que acabaria por assegurar a manutenção na derradeira jornada.

Vasco Seabra não escondeu que orientar o Boavista foi um orgulho, por considerar que a formação axadrezada é “um grande” do futebol português. “Antes de treinar o clube passava ao lado do Bessa e sentia que havia ali qualquer coisa de diferente”, salientou. O problema foi a pressa com que o Boavista tentou recuperar o estatuto.

“Entrei num momento de remodelação total. Houve um corte radical com o passado. Ficaram da época anterior uns quatro ou cinco jogadores e a forma como se quis fazer essa transição foi demasiado precipitada”, explicou o técnico, atualmente sem clube, em entrevista ao Maisfutebol.

Os jogadores chegavam ao Bessa “a conta-gotas e vindos de contextos diferentes”, chegando a haver atletas de “13 ou 14 nacionalidades”. “Era engraçado porque o nosso especialista fazia a análise do adversário a falar com calma para os espanhóis perceberem, tínhamos um adjunto a traduzir para inglês para uns, outro para francês… Mas é preciso tempo para assimilar”, sustentou.

Para piorar a situação, “o plantel acabou por ficar em determinadas posições algo desequilibrado”. Juntou-se “alguma falta de sorte”, em particular durante “alguns jogos extraordinários”, e uma “gestão das expetativas” mais adequada à realidade axadrezada.

“No momento da mudança [de acionista] foi criada uma expectativa demasiado grande para aquilo que poderia ser feito. Toda a gente achava que podíamos logo lutar pelas competições europeias e isso não foi bem gerido. Não podemos trocar 15, 16 ou 17 jogadores e com um estalar de dedos as coisas acontecem. Não acontecem. Demoraram a acontecer connosco, tal como com o treinador que veio a seguir”, sustentou Vasco Seabra.

O treinador acabaria por sair do Boavista em dezembro. “Tínhamos a expectativa de um casamento feliz. Custou-nos sair tão cedo”, admitiu: “Acreditávamos que ainda tínhamos alguma margem para alcançar os objetivos. Cometemos erros, mas sentíamos que de um modo geral estávamos a fazer bem as coisas”.

“Cresci muito como treinador do Boavista. Neste momento, sou um treinador diferente. Essa mágoa não surge contra o clube ou contra os adeptos. Aliás, ficámos a torcer para que o clube tenha sucesso. Felizmente, o Boavista conseguiu a manutenção, porque é um clube que precisa de estar na I Liga. E a I Liga precisa do Boavista. É um clube que não pode cair, porque tem uma massa adepta e um historial gigantes. Nós também fomos culpados do processo, mas há passos que têm de ser dados de forma mais consistente”, acrescentou.

Nas memórias da passagem pelo Bessa ficaram também alguns “jogadores inacreditáveis”, com Vasco Seabra a elogiar um caso em particular: “O Angel Gomes é estratosférico. É daqueles que vale a pena pagar o bilhete, mas todos os dias. É uma delícia até vê-lo treinar”.

O técnico lamentou ainda que o Boavista tenha ficado privado dos seus "adeptos intensos e fervorosos". "Tinham-nos dado num ou noutro momento uma grande ajuda", finalizou Vasco Seabra.