Portugal
"Benfica não pode arriscar mais instabilidade", avisa Paulo Madeira
2021-08-04 10:30:00
Benfica viu Luís Filipe Vieira sair da presidência ao fim 18 anos

O plantel do Benfica deve abstrair-se na próxima edição da I Liga da instabilidade originada pela detenção de Luís Filipe Vieira e consequente ascensão de Rui Costa à presidência do clube, vincou o ex-futebolista Paulo Madeira.

“Têm de ser os ‘capitães’ e o treinador a fazer essa função. Obviamente, não é fácil que não haja preocupação com o que se passa no clube, e ao longo dos últimos tempos. Isso importa, mas os jogadores e a equipa técnica têm de estar focados e trabalhar dentro de campo para conseguir vitórias. Se tal acontecer, mais rápido as pessoas se abstraem”, analisou à agência Lusa o ex-defesa das ‘águias’, entre 1989 e 1995 e de 1997 a 2001.

O Benfica viu em julho Luís Filipe Vieira sair da presidência ao fim 18 anos, no âmbito da operação ‘Cartão Vermelho, já depois de o avultado investimento e o regresso de Jorge Jesus, ‘tricampeão’ na Luz em 2009/10, 2013/14 e 2014/15, não terem rendido títulos.

“O Jorge Jesus teve uma situação muito idêntica na primeira passagem: não ganhou, iniciou mal a época seguinte, teve uma recuperação incrível e sagrou-se campeão. O Benfica não pode estar a arriscar neste momento mais instabilidade. Toda a estrutura acha que o Jorge Jesus é o treinador ideal para dar a volta a esta situação”, observou.

A intercalar o arranque da I Liga, os ‘encarnados’ começam hoje a jogar uma eliminatória “importantíssima a todos os níveis” frente aos russos do Spartak de Moscovo, antes de poder encarar os holandeses do PSV Eindhoven ou os dinamarqueses do Midtjylland no ‘play-off’ de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, que falharam em 2020/21.

“Todos sabem que estar na ‘Champions’ é sempre um fator importante para qualquer equipa, até mesmo em termos de visibilidade e para que os jogadores se valorizem muito mais. É um palco fantástico, daí eu dizer que este jogo, não sendo decisivo, será muito importante para o futuro e um passo importante na estabilidade do Benfica”, considerou.

Paulo Madeira quer um Benfica a encarar “como finais” o reencontro com o ex-treinador Rui Vitória, que venceu três campeonatos na Luz, em 2015/16, 2016/17 e 2018/19, após ter sido eliminado há um ano pelos gregos do PAOK nesta terceira pré-eliminatória.

“Esse jogo foi feito a uma só mão e ainda por cima fora de casa. Havendo agora dois jogos, acho que o Benfica tem mais do que equipa para levar de vencida o Spartak. Isso será importante pela componente psicológica, para os jogadores se motivarem, para o treinador ganhar moral e para que a parte financeira se possa estabilizar mais”, insistiu.

Quanto à 88.ª edição da I Liga, o ex-internacional luso atribui favoritismo ao campeão nacional Sporting, “até para baixar um bocado a pressão do Benfica”, ao passo que o FC Porto “continua a ser candidato” e o Braga “parece estar mais perto dos ‘grandes’”.

“As expectativas eram elevadas no ano passado e acabou por ser uma época não muito positiva. Houve algumas alterações este ano. O Jorge Jesus viu algumas deficiências numa ou noutra posição e tentou corrigir com contratações”, observou o vencedor de um campeonato (1990/91), uma Taça de Portugal (1992/93) e outra Supertaça (1989).

Paulo Madeira, de 50 anos, admite que o experiente técnico prossiga a “história dos três centrais”, sobre o qual foi “muito crítico” em 2020/21, considerando que a alternativa ao habitual 4-4-2 “tem de ser trabalhada muito desde o início para que possa correr bem”.

“Temos o exemplo do Sporting, que praticamente cumpriu todo o campeonato passado dessa forma. Contudo, os últimos jogos do Benfica correram bem com Lucas Veríssimo, Jan Vertonghen e Nicolás Otamendi juntos. Defensivamente, se houver sintonia e uns colmatarem-se muito bem aos outros, a equipa torna-se mais consistente”, explicou.

No mercado, as ‘águias’ gastaram 24,5 milhões de euros entre o avançado ucraniano Roman Yaremchuk (ex-Gent), o médio franco-marfinense Soualiho Meité (ex-Torino) e o extremo Gil Dias (ex-Mónaco), sendo que o dianteiro brasileiro Rodrigo Pinho (ex-Marítimo) e João Mário (ex-Inter Milão), campeão pelo Sporting, vieram a custo zero.

“Coloco a fasquia alta no João Mário. É um médio que dispensa apresentações, tem qualidade acima da média, é fino a jogar, tecnicamente muito forte e internacional pela seleção portuguesa. Eventualmente, pode vir mais algum avançado, mas os próximos jogos e a própria entrada na ‘Champions’ vão ditar se o clube irá ao mercado”, finalizou.

Já o antigo ‘capitão’ e defesa brasileiro Jardel fechou um ciclo de 11 anos no Benfica, capaz de arrecadar 30 milhões de euros nas vendas do brasileiro Pedrinho (Shakhtar Donetsk), do argentino Franco Cervi (Celta de Vigo) ou de Nuno Tavares (Arsenal).