Nélson Semedo está perto de ser confirmado como reforço do clube catalão
Tudo quanto é craque aparece nos três grandes? Os principais clubes sugam os melhores talentos? Nem todos. Nélson Semedo, que pode estar prestes a transferir-se para o Barcelona, foi a personagem principal do filme de uma ascensão meteórica e de um início tardio.
Em cerca de cinco anos, passou do Sintrense, da III divisão nacional, para titular do Benfica, convocado da seleção nacional e, agora, muito provavelmente, jogador do “tubarão” Barcelona.
Nascido, criado e formado na linha de Sintra, na zona de Mira-Sintra e Portela, Semedo tem raízes humildes, numa família numerosa e pouco abastada. A alegria do jovem “Nelsinho” não existia sem uma bola de futebol, o que, (apenas) aos 16 anos, o levou até ao Sintrense, histórico clube do distrito de Lisboa, para jogar futebol a sério.
Depois de se destacar no clube de Sintra, como médio ala, foi levado a fazer testes no Sporting. O jovem Semedo impressionou, levando os responsáveis dos juniores leoninos a pedir a contratação do jogador. No entanto, a direção de José Eduardo Bettencourt, recém-chegada ao clube, não quis pagar o valor pedido pelo Sintrense e a transferência acabou por abortar.
Já com Semedo na equipa sénior do Sintrense, apesar de ter idade júnior, o Benfica entrou na jogada. Depois de aconselhados pelo observador Abel Silva, Raúl José e Miguel Quaresma, adjuntos de Jorge Jesus, deram o aval para a aquisição de Nélson Semedo e… Manuel Liz.
Com Semedo, médio ala, veio Liz, avançado, que contou ao Mais Futebol, em 2015, alguns episódios com o amigo “Nelsinho” (ambos seguiriam passos semelhantes quando o Benfica os emprestou ao Fátima).
“Eu sou da Ericeira, ele de Mira-Sintra, por isso, como eu já conduzia e tinha carro, passava todos os dias por casa dele para o levar para o Seixal e deixava-o no bairro no regresso”, contou Manuel Liz, que não vingou no Benfica e voltou ao Sintrense, em 2015.
Barcelona: um amor antigo que pode tornar-se uma paixão de futuro
Manuel Liz conta que, em Fátima, Nélson Semedo já gostava do… Barcelona. “Partilhávamos o quarto em Fátima e ficávamos muito tempo juntos. Jogávamos FIFA na playstation. Eu ficava sempre com o Real Madrid e ele com o Barcelona”.
Ainda assim, conta Liz, o talento de Semedo na playstation, que era escasso, só não era pior do que no ténis de mesa: “Não era nenhum craque [no FIFA], mas pior era no ténis de mesa: aí era péssimo”.
Para além das debilidades no tradicional pingue-pongue, Nélson Semedo também não era um ás a conduzir. “Quando o Nelsinho tirou a carta e comprou carro, quis começar a vir ele a conduzir. Mas conduzia muito mal, sempre a sair da estrada, a ir para a berma, enfim, um desastre”. Mas a fama de mau condutor não fica por aqui.
“Um dia ouvimos uma aceleração brutal: ‘Vruuuuuuuuuuuu’. Olhámos e era o Nelsinho que ia a acelerar como um louco com o carro em ponto morto. “Nelsinho, o que vais a fazer pá?”. Como lhe tínhamos dito que em ponto morto gastava menos, ele acelerava sem meter mudanças”, contou Manel Liz, entre risos.
Pulverizou o recorde de Abel Xavier e disse “não” a Cabo Verde
Em agosto de 1993, estreou-se, pelo Benfica, um rapaz de 21 anos chamado Abel Xavier. Foi lançado às feras, nas Antas, frente ao FC Porto (3-3), e jogou nos dois jogos seguintes, frente a Estoril e Beira-Mar. Ao quarto jogo oficial pelo Benfica, na Taça das Taças, frente ao Katowice, só entrou na segunda parte. Ainda assim, foi totalista nos tais três primeiros jogos de águia ao peito, tornando-se o primeiro jogador sub-21 a jogar os 90 minutos nas três primeiras aparições na equipa principal do Benfica.
Em agosto de 2015, estreou-se, pelo Benfica, um rapaz de 21 anos chamado Nélson Semedo. Foi lançado às feras, no Algarve, frente ao Sporting (0-1), e jogou nos dez jogos seguintes. Ao 12.º jogo oficial pelo Benfica, no campeonato, frente ao Paços de Ferreira, só entrou na segunda parte. Ainda assim, foi totalista nos tais onze primeiros jogos de águia ao peito, tornando-se o primeiro jogador sub-21 a jogar os 90 minutos nas onze primeiras aparições na equipa principal do Benfica.
Achou as histórias muito semelhantes? Pois bem, ambos começaram por se destacar na posição de lateral direito e ambos fizeram a sua formação fora do Benfica: Abel Xavier entre Sporting e Estrela da Amadora, Nélson Semedo no Sintrense.
Já depois da ascensão na equipa do Benfica, veio a seleção. Com as lesões de Vieirinha e Bosingwa, Fernando Santos chamou Semedo, em outubro de 2015 – com apenas nove jogos pelo Benfica – para os jogos frente a Dinamarca e Sérvia, de apuramento para o Euro 2016.
Antes disso, Semedo foi convidado para se juntar à seleção de Cabo Verde, país-natal dos seus pais, mas recusou. Na mira, estava a chamada à seleção do seu país, o que o viu nascer, a 16 de novembro de 1993. A chamada de Semedo à seleção principal de Portugal marca uma façanha rara. O lateral do Benfica, formado no Sintrense, nunca foi internacional por qualquer escalão jovem das seleções portuguesas.
Em cerca de cinco anos, Semedo impressionou no Sintrense, falhou a ida para Alcochete, foi “caçado” pelo Benfica, acelerou em ponto morto, vacilou no pingue-pongue, chegou à seleção e escolheu o Barcelona na playstation. Agora, em 2017, está perto de escolher o Barcelona, mas na vida real, depois de um caso raro de ascensão a partir dos campeonatos não profissionais.