Portugal
Atenção: Anda por aí um Iaquinta que quer ser Mantorras... com muito champô
2018-11-07 13:25:00
Perguntámos ao próprio Iaquinta de onde veio esta alcunha e a história é bestial. A sério que é.

Se lhe dissermos que há um Iaquinta no Campeonato de Portugal, não fica de água na boca? Nós ficámos. Primeiro, porque soa bem ser chamado pelo nome do grande goleador italiano. Depois, porque este rapaz, do Sacavenense, marca mesmo golos com fartura.

Quisemos saber mais sobre Malam Fati. Iaquinta, para o futebol. Fomos falar com quem conheceu bem este guineense, que chegou a Portugal em 2015, para jogar no Coruchense. Temos histórias com champô, com paintball e com chuteiras, de um rapaz cheio de confiança e com uma alcunha errada. Na verdade, o rapaz preferia ser Mantorras do que Iaquinta. E começamos já por aqui, deixando o champô lá mais para o final.

“Cruza para mim, que eu faço golo”

Perguntámos ao próprio Iaquinta de onde veio esta alcunha e a história é bestial. A sério que é.

“Houve um jogo da Liga Europa entre Sporting e Fiorentina no qual o Iaquinta marcou três golos [na verdade foram dois, na eliminatória frente à Udinense, em 2005]. No dia seguinte tive jogo e também marquei três golos. Os meus amigos começaram a chamar-me Iaquinta e eu nem sabia quem ele era. O meu ídolo era, sim, o Pedro Mantorras. Eu disse-lhes logo que não queria aquele nome, mas eles continuaram e pronto, ficou este nome para sempre”.

A propósito, alguns colegas, mais tarde, tentaram alterar isto. Leandro Jacinto explica-o, ao Bancada. "Quando penso nele só me lembro de 'Iasexta', porque estávamos sempre a gozar com ele. Às vezes chamávamos-lhe "Iasexta", conta-nos, relembrando que costumava dar boleia a Iaquinta: "Ele passava sempre à frente do meu restaurante e, aí, percebi que ele ia a pé para o treino. Ainda eram uns 15/20 minutos".

Voltando ao Iaquinta e não ao Iasexta, tem lógica que Fati tenha ganho esta alcunha. Afinal, o rapaz não só marca golos como tem bastante confiança. Bruno Bolinhas, ex-colega de Iaquinta, no Coruchense, recorda-o e diz que, como lateral, só tinha de cruzar para Iaquinta.

“Ele dizia-me sempre ‘cruza para mim, que eu faço golo’”, lembra Bolinhas, ao Bancada, antes de definir o avançado como “um excelente miúdo, que está sempre a sorrir, contagia toda a gente e tem sempre uma palavra amiga”.

“O Iaquinta é uma excelente pessoa, gente boa mesmo, e muito bom colega de equipa”, acrescenta Márcio Semeano, que também se cruzou com Iaquinta em Coruche.

“Tanto fazia um golo difícil como falhava um lance fácil”

Mas vamos lá saber quem é Iaquinta. O avançado, de 23 anos, já leva seis golos em dez jogos, no Campeonato de Portugal. Tem 1,86 metros e usa bem o “caparro” que tem. Bruno Bolinhas diz que é um lutador e finalizador nato e que basta ser bem servido.

“Defino o Iaquinta como um avançado com uma disponibilidade física muito boa, que deixa tudo em campo em prol da equipa e com uma impulsão e um jogo de cabeça acima da média. A meu ver, os seus pontos fortes são a disponibilidade física, a impulsão e o jogo de cabeça”, explica também Valter Viegas, ex-colega de Iaquinta, no Sintrense.

Já Márcio Semeano também fala do jogo aéreo, mas com um extra: “É um ponta-de-lança forte no jogo aéreo, uma referência dentro da área, com boa antecipação aos defesas. Tem uma particularidade: muitas vezes consegue dominar a bola no peito, no meio dos defesas que vão com a cabeça. E joga bem de costas para a baliza, protegendo bem a bola e aguentando o defesa”.

Pausa para mais umas historinhas. Leandro Jacinto conta-nos que Iaquinta não gostou muito das regras do paintball. Tentou contornar um bocadinho a lógica da coisa. "No paintball, ele já tinha morrido, mas continuou a andar sempre em frente, a disparar. E nós a dizer-lhe 'já estás morto, já estás morto...'".

Em matéria de botas, no entanto, Iaquinta não é esquisito. "Lembro-me de ter comprado umas chuteiras, mas não gostei e não me adaptei a elas. Ele gostou e quis logo ficar com elas. Acabei por vender-lhas e ele passou logo a usar essas. Tinha bué pares".

Por falar em disparos de paintball, há outros disparos que Iaquinta, aos 23 anos, ainda pode melhorar. São os da finalização.

“Na minha opinião, faltava-lhe um pouco mais de qualidade técnica na receção de bola e nos passes, mas, como é um ser humano super humilde, está a aprender muito e a melhorar a olhos vistos”, aponta Bruno Bolinhas, numa visão assinada também por Valter Viegas.

“Posso dizer aspetos mais técnicos, tais como receção e passe sob pressão e em espaço curto. Não considerando como um defeito, mas sim um aspeto que pode melhorar, diria também a finalização: ele era bom finalizador, mas considero que não era constante, tanto era capaz de fazer um golo difícil como, a seguir, falhar um lance fácil de finalizar”.

Nesta temporada, Iaquinta já leva sete golos em todas as competições, quase tantos quantos os que fez em cada uma das restantes temporadas em Portugal (oito em cada uma).

“Ele esfregava a cabeça, a dizer que o champô tinha muita espuma”

Para terminar, a tal historinha do champô, a cargo de Márcio Semeano.

“Tenho uma história com ele, que me vem logo à cabeça. Estávamos alguns no duche e ele estava a tirar o champô, de olhos fechados. Eu começo a meter-lhe champô sem ele reparar – montes de champô, porque ainda foram uns cinco minutos ou mais – e ele esfregava a cabeça, a dizer que o champô tinha muita espuma. Passado um bom bocado lá reparou. Isto acontece algumas vezes nos balneários, mas nunca vi quem tivesse tanto tempo sem reparar que lhe estavam a meter champô. Foi só rir”.