Portugal
"Até recebi indicações de que seria melhor convidar Cavaco Silva"
2021-06-18 22:15:00
Pinto da Costa aborda caso do "subsídio vetado por responsáveis intermédios"

O presidente do FC Porto, Pinto da Costa, revelou que teve "indicações" para convidar o primeiro-ministro, que à data era Cavaco Silva, para inaugurar o rebaixamento do Estádio das Antas, obra que foi desbloqueada por um ministro "portista" depois do subsídio ter sido "vetado por responsáveis intermédios".

Recuando até ao ano de 1986, no quinto episódio da série documental 'Ironias do Destino', Pinto da Costa salientou o "papel importantíssimo" que Valente de Oliveira, que na altura era ministro do Planeamento e do Ordenamento do Território, desempenhou na obra do rebaixamento do Estádio das Antas.

"Quando lhe fui apresentar o plano ele disse que ia interceder para que recebêssemos o subsídio a que tínhamos direito e que tinha sido vetado por responsáveis intermédios. E foi deferido. Disse-lhe que seria ele quem iria presidir à inauguração do rebaixamento. E assim foi", contou.

No antigo estádio do FC Porto, mais tarde 'substituído' pelo Dragão, constava uma placa a lembrar esse "papel" de ministro que "é portista", como salientou Pinto da Costa. Mesmo que, então, fossem feitas 'pressões' para que a obra fosse inaugurada pelo chefe de Governo, Cavaco Silva.

"Na altura, recebi algumas indicações que era melhor chamar o primeiro-ministro, que era o Cavaco Silva, mas disse que não. Quem iria presidir seria o engenheiro Valente Oliveira e se o primeiro-ministro quisesse assistir, podia assistir", complementou.

Ainda a propósito do rebaixamento das Antas, Pinto da Costa não esqueceu as muitas vozes que então diziam que tal projeto era impossível. "Começou e acabou em 1986. Tinha prometido isso, mas não foi porque me deu na cabeça", explicou: "Tentei saber se era possível e Óscar Cruz fez um estudo e disse-me para ir para a frente. Muitos diziam que isto era um rio, outros um cemitério, mas tanto era possível fazer que se fez. Não era um capricho".

"A situação económica do clube na altura era má, não havia hipóteses de aumentar o preço dos bilhetes, pelo contrário. A maneira que de compensar isso foi aumentar a lotação. E a brincar, a brincar, aumentámos em 20 mil lugares, hoje fazem-se estádios com 15 mil lugares", reforçou.

Este regresso a 1986 foi motivado pela recordação do segundo campeonato que Pinto da Costa ganhou como presidente do FC Porto. Um título "muito festejado", porque o campeonato "foi muito renhido" e os dragões só chegaram ao primeiro lugar na penúltima jornada. 'Cortesia' do Sporting, que nessa ronda foi à Luz derrotar o Benfica. Ao venceram em Setúbal, os dragões subiram à liderança.

"No último jogo, bastava ganhar ao Covilhã, num estádio repleto, com gente na pista de atletismo e tudo. Vencemos por 4-2 e foi uma festa em toda a cidade e aqui na Ribeira, onde sempre que o FC Porto vence há muito fervor. É gente genuína com uma paixão que não esconde e que me sensibiliza muito", sustentou.

Foi também nesse ano que o hóquei em patins, modalidade especial para o presidente do FC Porto, que entrou no clube "como dirigente na secção de patinagem", se sagrou pela primeira vez campeão europeu. "Quando era chefe de secção, nunca vencemos o campeonato nacional. No meu programa estava tentar vencer um campeonato (depois conseguimos vencer dez seguidos) e uma prova europeia. Nesse ano, vencemos em Novara, por 7-5, e fomos campeões europeus", lembrou.

O líder azul e branco nunca mais se esquecerá dessa partida, pois ao intervalo foi ao balneário animar a equipa, que perdia "por 1-4 ou 1-5". "Entrei e disse que íamos ganhar, houve um grito dos atletas todos e senti que íamos dar a volta. Num pavilhão completamente hostil, fomos reduzindo. Ao sétimo golo, o jogo já não podia continuar, tantas eram as coisas que atiravam lá para dentro...", contou.

"O árbitro deu o jogo por terminado e ganhámos. Quando íamos para receber a taça, voltaram a atirar tanta coisa que era impossível receber. Disse para irem entregar ao balneário, que não saímos daqui sem a taça. No fundo, recebemos no sítio onde vencemos a prova. Essa taça enche-me de orgulho, porque mostra que não há impossíveis", finalizou Pinto da Costa.