Portugal
"O bom senso não vai chegar, terão de ser medidas radicais", avisa Marco Silva
2021-03-03 21:45:00
Agentes desportivos pedem coragem para aumentar tempo útil de jogo no futebol português

Os agentes desportivos consideraram hoje que é fundamental aumentar o tempo útil de jogo no futebol português para que este ganhe visibilidade no estrangeiro e pedem coragem para mudanças regulamentares, mas também culturais entre jogadores, treinadores e árbitros.

O antigo árbitro internacional português Duarte Gomes lançou hoje várias ideias para introduzir no futebol português de forma a melhorar o tempo útil de jogo, como a cronometragem, substituições volantes ou a proibição do guarda-redes agarrar a bola em atrasos.

Duarte Gomes falava durante o webinar ‘Thinking Football Summit’, promovido pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), moderado pelo jornalista Carlos Daniel e que teve ainda a participação do treinador Marco Silva, do treinador e embaixador da LPFP, Costinha, o jogador do Woverhampton, Daniel Podence, e o diretor executivo da LPFP, Tiago Madureira.

Para o ex-árbitro, também os jogadores devem mudar a sua postura “com menos simulações, conflito e protesto fácil”, assim como os árbitros devem “ter menos atuações defensivas, com mais coragem e menos medo de arriscar”.

Marco Silva, que treinou em Inglaterra nas últimas quatro temporadas, no Hull City, Watford e Everton, pediu mudanças “o mais rápido possível” no futebol português e “coragem” para que se tomem medidas a nível regulamentar.

“O bom senso não vai chegar. Podemos dizer que é cultural, mas terá de ser com medidas mais radicais e que tenham influência para que mude o mais rapidamente possível. Podemos ir pela formação, é algo que temos vindo a tentar nos últimos anos, mas os resultados estão a piorar”, salientou.

Também atualmente a jogar em Inglaterra, após ter representado o Moreirense e Sporting em Portugal e o Olympiacos, na Grécia, o internacional português, Daniel Podence, explicou que teve que se adaptar à ‘Premier League’, um dos campeonatos com menos faltas e mais tempo útil de jogo, ao contrário do campeonato português e grego.

“Sou um jogador pequeno, que gosta de ter bola, e [em Inglaterra] senti que é um jogo físico, onde o adversário tenta desequilibrar e por vezes faz falta. Muitas vezes caia, mas os árbitros não marcavam falta e agora caio muitas menos vezes. Passa por essa coragem dos jogadores não se atirarem tanto para o chão, pois chega a um ponto que não faz sentido”, explicou.

Podence realçou ainda que as equipas dos campeonatos com mais tempo útil de jogo chegam a jogar cerca de 80 minutos, em comparação com os 60 minutos em Portugal, o que tem reflexos nas competições europeias.

Também o treinador e antigo internacional português, Costinha, apontou a necessidade de “proteger o negócio que é o futebol”.

“Portugal não tem condições para ganhar na Europa porque não se prepara para jogar”, apontou, lembrando que quando foi campeão europeu com o FC Porto em 2004 representava uma equipa “disciplinada e que jogava igual em Portugal e na Europa”.

Na introdução do webinar, o diretor executivo da LPFP, Tiago Madureira, apresentou dados estatísticos sobre o futebol português em comparação com as principais ligas europeias.

Na temporada 2019/2020, Portugal estava na cauda da Europa, apenas à frente da Grécia e da República Checa no tempo útil de jogo. No último ano e meio, a I Liga portuguesa teve 59 jogos com mais de 40 faltas, número superior ao somatório das cinco principais ligas europeias (Inglaterra, Espanha, Itália, França e Alemanha) que tinham 43 jogos no mesmo período.

Tiago Madureira realçou que em 23 de março haverá uma reunião da LPFP com os treinadores, onde o tempo útil de jogo será um dos temas abordados e destacou que para o organizador de jogo esta temática é importante para o negócio que é o futebol português.

“É impossível internacionalizar com estes dados”, lembrou.

Foi ainda destacada a diferença em relação aos jogos domésticos e às partidas nas competições europeias, quer nas equipas portuguesas, que cometem menos faltas nas partidas europeias, quer nos árbitros portugueses, que apitam menos faltas nos jogos fora de Portugal.

Para o antigo árbitro Duarte Gomes, há uma “arbitragem defensiva intramuros” porque também há “um maior escrutínio”.

“Esta geração de árbitros é menos competente do que outras. Como as equipas, também a arbitragem passa por ciclos e este plantel tem um misto de juventude, com inexperiência, e alguma veterania mais conformada. Não é a receita perfeita para termos arbitragens mais competentes”, considerou.

Duarte Gomes frisou ainda a necessidade de um melhor comportamento dos elementos dos bancos de suplentes e até a necessidade de reduzir esse número de elementos.