Duarte Gomes, comentador de arbitragem, afirmou que a decisão da SIC Notícias e da TVI 24 de acabar com os programas com comentadores adeptos de clubes vai ajudar a "despoluir" o ambiente em torno do futebol, mas levantou uma série de questões para reflexão geral.
Na crónica para a 'Tribuna', do Expresso, o antigo árbitro internacional afirmou que esta medida é "um pequeno passo" para a pacificação, mas insuficiente caso não se entenda o contexto geral.
Nesse sentido, Duarte Gomes lembrou que os programas com comentadores que 'representam' clubes são "formatos vencedores" porque têm... adeptos (leia-se espectadores).
É preciso, por isso, refletir sobre "quem consome" tais programas e o que isso significa em termos de "cultura desportiva".
"O mal está em quem descobre um formato vencedor ou em quem o mantém vivo, vendo-o todas as semanas? Acham mesmo que existiriam programas destes se ninguém os visse?", questionou.
Ao mesmo tempo que acabam com os programas com comentadores afetos a clubes, SIC Notícias e TVI 24 mantêm outros formatos com "comentadores alegadamente independentes" que, no entender de Duarte Gomes, se assemelham a "caixas de ressonância de outros interesses".
Até pode ser "subconsciente", mas essa "perda de independência alimenta suspeitas de ligações cinzentas" que apenas reforçam o ambiente de "toxicidade" invocado pelas estações televisivas.
"Não sou eu que digo, é o mundo que o vê e sente há demasiado tempo", reforçou o ex-árbitro.
Duarte Gomes alertou ainda para as limitações da "acusação populista" de que as televisões só dão destaque aos conteúdos "tóxicos", ignorando o "jogo jogado".
"As guerrilhas entre clubes assumiram proporções épicas, porque há agora mais meios para difundir mensagens de ódio; há novidades constantes no que diz respeito a processos em tribunal, mau comportamento de claques, buscas em empresas e domicílios, críticas à gestão de clubes, constituição de arguidos em processos na justiça, deterioração de relações entre clubes e SAD's, etc, etc", lembrou.
Na mesma crónica, o ex-árbitro salientou também que os programas com adeptos apenas agravaram o fosso entre os três grandes e os restantes clubes do principal escalão.
O fim de programas que contribuam para a "toxicidade" é saudado pelo comentador de arbitragem, mas com o aviso de que "há muita reflexão para fazer", bastando para isso olhar para o futebol "de uma forma mais distante e abrangente".