Portugal
"A Comissão de Instrutores assobia para o lado, é o branqueamento da violência"
2021-09-17 15:15:00
Ex-dirigente do Sporting indignado com arquivamento da queixa apresentada pelos leões contra Pepe

O Sporting apresentou uma queixa contra Pepe, por alegada agressão a Coates, durante o clássico da quinta jornada da I Liga, mas o processo acabou arquivado. A Comissão de Instrutores (CI) da Liga entendeu não haver matéria que justificasse a abertura de um processo, mandando arquivar o pedido de auto de flagrante delito a Pepe apresentado pelos leões.

A decisão da CI indignou Carlos Barbosa da Cruz, ex-dirigente do Sporting que já tinha criticado Pepe pelo “arruaceirismo”, não tendo qualquer dúvida de que o central do FC Porto teve a intenção de atingir Coates.

“O Pepe, que não é propriamente um menino de coro e tem um cadastro disciplinar bastante grande e grave, resolveu pôr o Coates em sentido. Nada melhor do que, pela calada de um canto, na ‘molhada’, enfiar-lhe um soco. De mão fechada, é disso que se trata. Os ritos dele são ritos de violência”, reforçou.

Ao permitir este “jogo subterrâneo”, não sancionando lances que foram revelados depois de terem passado despercebidos ao árbitro e ao videoárbitro, a CI acaba por “legitimar a violência”, dando ‘luz verde’ para os jogadores partirem para a agressão a adversários, segundo Barbosa da Cruz.

“Se a Comissão de Instrutores da Liga assobia para o lado em casos destes está a legitimar coisas que vão acontecer no futuro. Se o VAR não vê, um jogador encosta o cotovelo a outro e parte-lhe duas costelas, o VAR não viu e está julgado. É o branqueamento da violência no futebol”, insistiu o ex-dirigente leonino.

Advogado de profissão, Carlos Barbosa da Cruz defendeu que a CI tinha legitimidade para abrir um auto de flagrante delito a Pepe. Embora o princípio do Conselho de Disciplina seja reforçar a autoridade da equipa de arbitragem intervindo apenas em casos não detetados por esta, a alegada agressão de Pepe a Coates justificava no mínimo a abertura de um processo.

“Mesmo nos casos da doutrina que legitima o erro do árbitro, agora admitida pelo Conselho de Disciplina, é admitido que em caso de erro grosseiro uma decisão possa ser revertida. Eu entendo que há aqui um erro grosseiro, uma agressão”, fundamentou.

“Querem pôr umas asinhas e um halo no Pepe para lhe chamarem anjinho? Isto tem nome no futebol, chama-se uma pera. Toda a gente sabe”, insistiu: “Faz parte das jogadas subterrâneas. Agora há tantas câmeras, tantas câmeras que estas peras, que antes passavam despercebidas, agora não passam”.

“Isto faz parte da cartilha daquilo que se chama jogo subterrâneo. O jogo subterrâneo existe muito no futebol, os jogadores praticam faltas sem o árbitro dar por elas. É velho como o futebol, aquelas pequenas caneladas que não são detetadas pelo árbitro, faz parte de um processo de intimidação”, finalizou Carlos Barbosa da Cruz.