Opinião
Vamos lá falar do sorteio
2018-08-31 19:00:00
Luís Catarino é comentador da Sport Tv e escreve no Bancada às sextas-feiras.

Regressar a Gelsenkirchen, sonhar em Munique, encontrar o senhor Liga Europa. Vamos analisar o sorteio de Sporting, Porto e Benfica nas respetivas participações europeias.

O Sporting soube hoje que vai ao Emirates defrontar o Arsenal na fase de grupos da Liga Europa. O Vorskla não é o nome mais ameaçador, mas o mesmo não se pode dizer do Qarabag, emblema do Azerbaijão que se tem estabelecido com insistência nos certames internacionais e que pode entrar na luta pelos dois primeiros lugares deste grupo. Basta lembrar os obstáculos que colocaram a Roma, Atlético de Madrid e Chelsea na edição anterior da Champions. Por esse motivo, os adversários já não são surpreendidos e não baixam a guarda. Se o fizerem, é o pior erro que podem cometer.

O melhor pensador de jogo da equipa, Richard, foi para o Astana. Sem o esquerdino, veremos como Slavchev prepara o último passe, por exemplo para o canhoto haitiano, Guerrier, um extremo com um toque de irreverência. A deslocação a Baku será longa, mas viajar para Astana, como termo de comparação, seria uma distância ainda mais desgastante. Ah, só para confirmar: em Baku joga-se em relvado natural.

O Arsenal é, agora, liderado pelo senhor Liga Europa: Unai Emery. Ganhou três edições seguidas da competição e é um estratega obcecado pelo estudo dos adversários, aspeto que faz com que não apresente sistemas rígidos. Pretende afinar a mecânica da pressão alta neste pós-Wenger e o andamento do trinco uruguaio Lucas Torreira dá-lhe bons argumentos na recuperação. Será Ramsey colocado em campo para fazer de Rakitic, jogando atrás do ponta de lança, como nos tempos em que o basco treinava o Sevilla? Irá Leno roubar a titularidade a Cech na baliza? Aubameyang já está disponível para as provas europeias e acredita-se que fazer boa carreira na Liga Europa é o objetivo mais sensato que os Gunners irão estabelecer.

Na época passada, ficaram 37 pontos atrás do campeão, o Man.City. Também por isso creio que pensar no Arsenal para ganhar a Premier League é, para já, utópico. E isso vai facilitar a prioridade pela LE no decurso da campanha. Os Gunners são a melhor equipa do grupo, embora possam perder alguns pontos. Mesmo assim, ao Sporting compete fazer boa figura contra o Qarabag. Os dois confrontos com o emblema do Azerbaijão serão cruciais para a chegada aos 16-avos.

Sérgio Conceição encontra um grupo em moldes semelhantes aos da época passada. Qualquer destas quatro equipas pode ficar perfeitamente em primeiro lugar, mas se acabarem em último também não seria uma surpresa, pois é um grupo bem nivelado. O Porto regressa a Gelsenkirchen e isso é sempre motivo de inspiração para os dragões. O Schalke, único adversário dos portistas que não foi campeão no respetivo país (foi vice, atrás do Bayern!), perdeu Max Meyer, Goretzka e Tilo Kehrer, gente importante no meio-campo e defesa. No entanto, Domenico Tedesco, um dos melhores treinadores da nova vaga na Alemanha, mantém o sistema de três centrais e agrupa na zona ofensiva craques como Konoplyanka, Harit ou Uth, adquirido ao Hoffenheim, qualquer um deles pronto para suportar o bravo Burgstaller. Rudy (distribuidor) e Mascarell (recuperador) chegaram para compor a zona média.

Viajar a Istambul tem sempre que se lhe diga. O Galatasaray tem, provavelmente, o meio-campo mais seguro da Turquia, sabendo que Fernando, Badou N’Diaye e Belhanda asseguram essa consistência. As subidas de Mariano no lado direito e a proteção de Muslera na baliza merecem realce. O Lokomotiv triunfo na Rússia, mas o começo não tem sido famoso na presente edição. Krychowiak e Smolov são reforços de categoria inatacável para os ferroviários, que mantiveram todos os melhores jogadores, desde Manuel Fernandes aos gémeos Miranchuk, passando pelo atacante Farfán e pelo melhor estabilizador, Denisov. Nas laterais, Rybus avança bem.

Rui Vitória cumpriu o objetivo de atingir a fase de grupos, depois de carimbar as eliminatórias em Istambul e Salónica. É um sonho pensar no primeiro lugar num grupo com o Bayern. Pode acontecer, mas é pouco provável. Niko Kovac está determinado em fazer boa figura em todas as provas e a chegada à Champions não é para brincar. Thiago, Robben, Ribéry e Lewandowski mantiveram-se todos na Säbener Strasse. E Neuer já joga.

O AEK não é um tubarão, mas é uma piranha que também pode morder. Foram campeões helénicos, 24 anos depois do seu anterior título, na altura de Dusan Bajevic, que treinava Alexandris, Tsartas, Savevski e até Stelios Manolas, defesa-central, tio de Kostas, atual jogador da Roma. Os aurinegros, dirigidos por Ouzounidis, perderam Johansson, centrocampista sueco, mas Petros Mantalos está melhor depois da lesão grave no joelho. Lazaros saiu para o ‘Oly’, mas Klonaridis vai tentar afirmar-se na frente de uma equipa que também tem dois bons representantes lusos: Hélder Lopes (lateral-esquerdo) e André Simões, médio-centro.

Falta falar do Ajax, emblema grande do Velho Continente. Tentam retomar a excelente campanha que fizeram em 2016/17 na LE, em que foram finalistas vencidos na vigência de Petr Bosz, contra o Man.Utd. Com Erik ten Hag, têm, agora, um eixo defensivo ligeiramente mais sólido com Daley Blind alinhado com De Ligt, central que se afirma cada vez mais. Frenkie De Jong e Van de Beek são dos mais talentosos que existe na Holanda para a zona média, que ainda conta com o marroquino Ziyech, um canhoto com uma precisão notável no passe. Justin Kluivert e Younes são dois extremos fantásticos que acabaram por sair, mas isso permite que David Neres, craque formado em Cotia, na academia do São Paulo, se assuma sem oscilações. A eles junta-se não só Labyad (ótima época em Utrecht), mas também Dusan Tadic, uma contratação muito importante vinda do Southampton. O seu regresso à Holanda (ex-Groningen e Twente) vai dar muito mais garantias ao Ajax para reconquistar o campeonato. O Ajax joga bem e, apesar de não serem candidatos ao topo do grupo, vão ser um adversário bem exigente para o Benfica numa possível luta pelo segundo lugar, sobretudo nas 3.ª e 4.ª jornadas.

Luís Catarino é comentador da Sport Tv e escreve no Bancada às sextas-feiras.