Opinião
Sporting e a “feira de vaidades”
2018-07-05 14:25:00

O regresso de Sousa Cintra ao Sporting, mesmo que temporário, está pejado de ironia. Então os sportinguistas correm com Bruno de Carvalho por estarem fartos de alguém que optou pelo caminho do populismo, de alguém que tem o coração muito perto da boca e de poucas vezes antecipar o alcance das suas palavras; e veem no seu lugar um homem que, apesar da imensa boa vontade, é também populista, pouco ponderado com as palavras e que terminou a conferência de imprensa de apresentação de José Pereiro com uma exigência: “Desta vez não vai falhar, pois não”, com os olhos postos em cima do novo treinador dos leões.

Mais. Desde os cobardes ataques aos jogadores do Sporting na Academia de Alcochete, tem-se assistido a um desfile de “notáveis” sportinguistas que mais não fizerem do que alimentar o próprio ego com presenças constantes em programas televisivos “especiais crise do Sporting”, e Sousa Cintra foi um deles. Aliás, é curiosa a necessidade de o atual presidente da SAD dos leões em falar com os jornalistas que por ele aguardam à porta do Estádio de Alvalade e de explicar vezes e vezes sem conta que vai “fazer de tudo para que o Sporting volte às vitórias” com os tiques de “novo-rico” que sempre o caracterizaram.

Para os mais distraídos, o homem que vem agora salvar o Sporting da volatilidade mental e da pouca racionalidade no trato com os jogadores de Bruno de Carvalho - bem vincadas nas críticas públicas após a derrota em Madrid para a Liga Europa - é o mesmo que criticou duramente os jogadores do Sporting “que não foram dignos” de usar a camisola listada quando foram eliminados da TAÇA UEFA pelo Dínamo Bucareste em 1991, era Sousa Cintra o presidente. O mesmo que a 7 de dezembro de 1993 despediu Bobby Robson no avião que transportava a equipa do Sporting depois de uma eliminação europeia, numa altura em que os leões lideravam o campeonato.

“No casino de Salzburgo, não se aposta nem se perde dinheiro. Mas o fanfarrão Sousa Cintra despede Bobby Robson. O Sporting está bem no campeonato, com os mesmos pontos de Benfica e FC Porto (17, em 22 possíveis), e afastara Kocaelispor e Celtic na Taça UEFA. Segue-se o desconhecido Casino Salzburgo, a quem o Sporting ganha 2-0 em Alvalade. Na Áustria, um decepcionante 3-0, após prolongamento, e contra dez durante 32 minutos. Na viagem de regresso, Sousa Cintra pede o microfone. Ao discurso inflamado seguem-se decisões insensatas. Robson pergunta ao adjunto Manuel Fernandes o que é o presidente está a dizer ao que este responde: “Já fomos [despedidos]!”

Ora, estas são palavras do jornalista Rui Miguel Tovar num artigo publicado no “Jornal i” a 5 de julho de 2015. São sobre Sousa Cintra, o mesmo homem que chega agora ao Sporting para arrumar a casa depois do furacão “Bruno” ter deixado o clube de pantanas. A Sousa Cintra não faltará boa vontade e fantásticas intenções, mas não é o homem ponderado e racional pelo qual os sportinguistas anseiam após a intensa vigência de Bruno de Carvalho.

Mas há mais. Quanto a mim foi vergonhosa a forma como Artur Torres Pereira se “pavoneou”, sentado na tribuna presidencial na decisiva partida entre Sporting e Benfica na atribuição do título de campeão nacional de futsal. O lugar que poucos dias antes era ocupado por Bruno de Carvalho deveria ter estado vazio em sinal de respeito pelos sócios e pelos jogadores que lutaram o ano todo para se estabelecerem como tricampeões da modalidade. A Comissão de Gestão é transitória, deveria zelar pelos interesses superiores do clube e, de preferência, não aparecer.