Opinião
Por que razão Mbappé irá para o Real Madrid
2018-07-21 14:00:00

Na última vez que Florentino Pérez comprou uma estrela de um clube francês baseado no élan de um Campeonato do Mundo, a coisa correu mais ou menos. James Rodríguez, contratado ao AS Mónaco por 75 milhões de euros em 2014, deixou o Real Madrid há um ano sem deixar verdadeiros arrependimentos. E no entanto não há dúvidas de que o presidente do clube merengue virá procurar o sucessor de Cristiano Ronaldo em França. Não será Neymar, porque o brasileiro borrou demasiado a sua imagem durante o Mundial e porque a verdadeira pepita parisiense é francesa.

Há, logo à partida, um critério desportivo: o que vai faltar à equipa de Julen Lopetegui nos meses mais próximos? Um goleador, um jogador capaz de ocupar o centro do ataque com Karim Benzema (ou com outro qualquer), de causar problemas aos adversários pela velocidade e pela técnica. Kylian Mbappé tem isso tudo e até muito mais. No PSG e na seleção francesa joga a partir da direita por razões coletivas: em Paris, há que deixar espaço ao centro a Cavani e à esquerda a Neymar; na seleção, não é capaz de constituir o ponto de apoio de uma equipa que sofre com frequência e que não adora ter muito a bola. Mas no Mónaco ele jogava pelo meio com Radamel Falcao. Num Real Madrid que procurará a posse de bola, ele estará muito à vontade, seja à esquerda, à direita ou ao meio, consoante os desejos do ex-treinador do FC Porto.

Depois, há um critério político. Desde que instalou Zinedine Zidane no banco, Florentino Pérez não comprou ninguém. Em poucos meses, perdeu as suas duas estrelas: o francês que incarnou o Real-versão-Pérez, primeiro como jogador e depois como treinador, e a estrela portuguesa que levou o clube aos seus últimos grandes sucessos. Enquanto for liderado por este presidente, o clube das treze Ligas dos Campeões, não resolverá transformar-se numa instituição vulgar. Quer os melhores. Atrás, já tem Raphaël Varane, que teria assegurado a Bola de Ouro de 2018 se jogasse noutra posição. No meio tem Luka Modric, Toni Kroos ou Isco. À frente, porém, já não há Ronaldo. E não é preciso ser Florentino Pérez para se saber quem é o jogador que faz sonhar o Mundo e, por inerência, os adeptos madridistas.

Há três dias, um amigo que vive em Boston veio jantar a minha casa. Ele interessa-se pouco por futebol, mas só me falava de um nome: Kylian Mbappé, aquele de quem as suas filhas de oito anos, também elas pouco viradas para o ‘soccer’, querem um autógrafo. Na capital da Nova-Inglaterra, como por todo o lado no planeta, as camisolas com o nome do miúdo de Bondy (no Norte de Paris) serão em breve tão numerosas como as que têm estampado Messi ou Ronaldo.

A vitória da França no Mundial não é forçosamente a de Mbappé, mas marcou o seu advento. Em Julho de 2018, a história basculou. Messi e Ronaldo, como outros campeões imensos antes deles, nunca serão campeões do Mundo. A excecional rivalidade que os opôs durante dez anos aproxima-se do termo. Mbappé, por seu lado, já é campeão do Mundo aos 19 anos. É também duas vezes campeão de França (uma com o AS Mónaco e outra com o Paris Saint-Germain), como se atraísse o sucesso. Ainda tem “muitos objetivos a concretizar no futebol”, como ele mesmo explica friamente, mas já integrou a casta dos muito grandes.

O incomparável Pelé elogiou-o duas vezes durante o último Mundial – e isso, Florentino Pérez também há-de tê-lo notado. Por muito ambiciosos que sejam, o PSG e a Ligue 1 serão em breve demasiado pequenos para Kylian Mbappé. O próprio já o sabe, tal como Cristiano Ronaldo havia chegado a essa conclusão com o Manchester United em 2008. CR7 e o seu agente, Jorge Mendes, tinham-se posto de acordo com Alex Ferguson para que on jogador não deixasse Inglaterra a não ser um ano mais tarde. É possível que a entourage da futura estrela do futebol mundial esteja neste momento aí. À espera de ter ganho o suficiente em Paris para poder deixar o clube de forma “própria”.

Dentro de um mês, dentro de um ano ou dentro de dois anos. Mbappé será o próximo Ronaldo do Real Madrid. Está escrito. Resta uma incógnita: encontrará ele, como Ronaldo encontrou em Messi (e vice-versa) um adversário à altura?

Régis Dupont é jornalista do L’Équipe e escreve para o Bancada ao terceiro sábado de cada mês.