Opinião
Porque aposta Antero Henrique no Vitória de Guimarães
2018-04-28 13:45:00

Em vésperas de eleições no Vitória de Guimarães, uma notícia agitou o ambiente e despertou as atenções dos analistas: o anúncio de uma parceria entre o clube da cidade berço e o Paris St. Germain, no caso de Júlio Mendes conseguir a reeleição. Um anúncio pré-eleitoral que teve uma primeira confirmação na viagem a Paris do próprio Mendes nos primeiros dias de Abril, logo após o feliz desfecho dos votos.

A minha curiosidade acerca desta história levou-me a consultar um português que está muito por dentro destas coisas do futebol e da política. Por razões óbvias, mantenho o anonimato desta pessoa, especificando que se trata de alguém absolutamente credível e muito bem informado. Perguntei que significado político teria a aproximação do Paris St. Germain ao Vitória e se haveria alguma hipótese de se tratar de uma manobra de Antero Henrique para arrancar o clube minhoto da esfera de influência de outro Mendes: Jorge Mendes.

Antes de satisfazer a minha curiosidade, esta fonte explicou-me um aspeto: entre Antero Henrique e Júlio Mendes há uma relação sólida, de muito tempo, pelo que não há razão para nos espantarmos demasiado ante esta manobra política. Quanto à hipótese de tudo se tratar de uma iniciativa contra Jorge Mendes, esta pessoa responde-me que ela é plausível, mas que não será certamente o motivo principal que levará à parceria entre o Vitória e o PSG. O motivo principal seria outro, ligado à sede de vingança que Antero Henrique terá em relação ao seu ex-mentor, Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do FC Porto.

Que no Verão de 2016 as relações entre Antero Henrique e Pinto da Costa se fecharam de forma tempestuosa é algo evidente para todos. Era igualmente impensável que o conflito se fechasse por ali. E agora, que o ex-número dois da hierarquia portista tem nas mãos o mercado de transferências do clube mais rico do Mundo, eis que o ajuste de contas com quem o forçou a abdicar se torna uma perspetiva realista. Além disso, tudo isto se passa num momento histórico particular para o FC Porto. No campo, a equipa vai lançada para voltar a vencer a Liga, com pleno mérito. Fora de campo, contudo, a situação da SAD continua a ser crítica no ponto de vista económico-financeiro. Por fim, a liderança de Pinto da Costa não pode ser eterna. O presidente completará em Dezembro 81 anos, talvez ainda vá a tempo de mudar de namorada mais um par de vezes, mas mais cedo ou mais tarde acabará por deixar a presidência dos Dragões.

Mas no meio disto tudo, estará o leitor a perguntar, em que é que entra a aliança com o Vitória de Guimarães? O objetivo seria o de criar, no Norte de Portugal, uma alternativa à hegemonia futebolística, política e cultural do Porto. E, neste sentido, a escolha do Vitória tem alguma plausibilidade. Não só por se tratar de um clube de grandes tradições, mas sobretudo porque tem uma massa adepta fortemente identitária. A única além das dos três grandes que, em Portugal, não admite o apoio a uma segunda equipa, isto é, a um desses mesmos três grandes. Os adeptos do Vitória são apenas vitorianos e, portanto, estão prontos a abraçar o desafio de se oporem ao poder portista no Norte. O pacto com o PSG, sob a batuta de Antero Henrique, seria o primeiro passo deste caminho.

É um cenário plausível, o que me foi apresentado por esta pessoa da minha confiança? Na minha opinião, absolutamente, sim. Que depois seja igualmente realizável já é outra conversa. Seguro é que um Vitória mais forte no campo e fora dele pode ser um problema sério para o FC Porto.

Última nota: a pessoa com quem falei é portista. E traçou-me este cenário com grande preocupação.

Pippo Russo é um jornalista e sociólogo italiano e escreve no Bancada aos quartos sábados de cada mês