Opinião
O que significa a chegada de CR7 para o futebol italiano
2018-07-30 14:00:00

Em Itália, é o tema do verão futebolístico. A chegada de Cristiano Ronaldo à Juventus, de tão súbito e inesperado, monopolizou o debate e provocou um choque no ambiente do futebol italiano, que se preparava para viver a primeira época após o desastre da não qualificação para a fase final do Mundial de 2018. Ninguém esperava que o futebolista mais forte do Mundo pudesse aterrar num país em tamanha crise futebolística. Na verdade, quando soaram os primeiros rumores acerca da transferência (reconheça-se o mérito do Tuttosport, diário de Turim, que falou do tema antes de todos os outros), parecia que ia tratar-se de uma ‘boutade’ destinada ao insucesso. Entendia-se que nenhum clube italiano teria a força económica necessária para trazer um futebolista destes para Itália e que o próprio CR7 não acharia atrativa uma Liga que passou a ser a quarta na graduação da competitividade europeia. E, no entanto, o negócio realizou-se. E chega a altura de tentar analisar quais podem ser para as consequências da chegada de Ronaldo para o futebol italiano.

Uma primeira e indiscutível consequência vem dos benefícios que recolherá a Juventus. Que já monopolizava a Serie A e agora pode alargar desmesuradamente a distância para os competidores. A equipa bianconera venceu os últimos sete campeonatos e nos anos mais recentes demonstrou ser a única italiana capaz de competir de forma constante na Liga dos Campeões (duas finais e uma meia-final perdida com o Real Madrid de Cristiano Ronaldo nas últimas quatro edições). A chegada do fora-de-série português teria o efeito de alterar de forma determinante equilíbrios já precários e de provocar um excedente. E na verdade a lógica de um negócio deste género não é a de aumentar a competitividade no âmbito italiano. A perspetiva que torna a aquisição de Ronaldo estratégica é a internacional. Com a chegada do português, a equipa bianconera tenta um upgrade definitivo em direção à grandeza internacional. O que significa vencer a tal Liga dos Campeões desperdiçada nas últimas temporadas.

Este upgrade internacional, no entanto, não tem a ver apenas com os sucessos no campo. A grande aposta da Juventus é a afirmação da marca nos mercados internacionais, através de um impulso potente na imagem e no merchandising. E neste sentido, a contratação do CR7 é um movimento de um potencial extraordinário. O tempo dirá se os cálculos foram corretos, mas os primeiros dados acerca da venda de camisolas bianconeras com a griffe CR7 dão respostas extremamente confortantes. A competição futebolística global nos tempos modernos joga-se também e sobretudo nestes campos, onde o atraso do futebol italiano é gravíssimo. A Juventus tenta agora anulá-lo, mas fá-lo por si mesma.

Um aspeto da reflexão que ainda não foi feito leva-me a uma segunda consideração, acerca de todo o movimento futebolístico italiano. Trará a chegada do CR7 benefícios neste plano? Aqui, é bom que sejamos mais céticos. Cristiano Ronaldo chama a atenção para si mesmo e para o clube que o contrata. Os jogos nos quais ele participar chamarão a atenção mediática global, mas serão circunstâncias episódicas. Já que a sua presença, por si só, venha elevar o nível competitivo do produto Serie A, já me parece muito mais complicado. Porque melhor seria que toda a Serie A crescesse, sem dever esperar por um Cristiano Ronaldo. Pelo contrário, a chegada de um fora-de-série desta dimensão pode destacar ainda mais o nanismo do resto do campeonato. É, na verdade, o confronto com o resto da Série A que faz emergir o verdadeiro sentido da chegada do CR7 à Juventus: trata-se de um golpe da Superliga europeia. Bom para fazer entender que alguns clubes já não querem estar nos seus campeonatos nacionais, considerados de fraco apelo em termos de competição e de negócio. Trazendo o jogador da Madeira para Turim, a Juventus manda uma mensagem no sentido da realização da Superliga. Com Jorge Mendes como mestre de cerimónias.

Pippo Russo é um jornalista e sociólogo italiano que escreve no Bancada ao quarto sábado de cada mês. Neste mês, a publicação do artigo foi adiada dois dias por razões editoriais.