Opinião
Malcom e Alisson
2018-07-27 14:00:00

Nunca chega a haver um período light. Terminou o Rússia 2018, as épocas oficiais nas maiores ligas europeias ainda não iniciaram, mas a máquina já começa a subir as rotações e as transferências entre clubes de topo agarram a nossa atenção.

Em Portugal, Conceição reforçou o eixo da defesa com Mbemba, aquisição essencial para preencher a vaga de Marcano. Independentemente da situação de Krovinovic ou até de uma possível mudança de papel de Pizzi no meio-campo, Rui Vitória prepara um desenho com Jonas e Ferreyra em simultâneo no Benfica.

Já o Sporting tonifica os músculos com os “retornos” de Bruno Fernandes e Bas Dost. Sobre Badelj talvez possamos falar daqui a uns dias. Fica, em todo o caso, uma nota de apreço em relação ao trinco que acabou de sair. William Carvalho sabe jogar. E foi um dos melhores que vi em Alvalade naquela função. Chegou a hora de se divertir em Heliópolis, no jardim de recreio de Quique Setién.

No estrangeiro, a fotografia do brasileiro Malcom a beijar o símbolo do Barça mexeu com o sistema nervoso ‘romanista’. A loba foi apanhada na curva perante a operação relâmpago desencadeada pelos catalães para contratar o extremo do Bordéus. Monchi confiou (em demasia) na palavra dos girondinos, cuja lisura neste processo pode ser questionada. Aliás, deve mesmo ser questionada.

No entanto, mesmo depois de ouvir a história contada pelo diretor dos 'giallorossi', penso que a Roma podia ter-se defendido e batido melhor neste folhetim. O Barça montou um exército para cercar todos os agentes envolvidos para a transferência. Também acho que a Palavra é para ser valorizada em todos os domínios e admiro a atitude da Roma, não me interpretem mal. Mas nesta dimensão de negócios, com esta concorrência, a boa vontade não chega para todas as partes se não houver o resto… De qualquer forma, também não acho que Malcom fosse prioritário para os ‘blaugranas’. E também não acho que seja o fim do mundo para a equipa ‘giallorossa’ por o ter perdido. Seja Suso, Neres ou Bailey, o treinador Di Francesco ficará muito satisfeito.

Por falar em Roma, o Liverpool deixa um balúrdio em Trigoria por Alisson para se livrar dos enigmas gerados por Karius e Mignolet. Até pode ser por aí que Klopp ganha mais credenciais para se candidatar ao título de campeão de 2018/19, pois Alisson, o n.º1 de Tite, também tinha estado bem na equipa de Eusebio Di Francesco. Na verdade, faz muito tempo que os Reds não celebram o campeonato, ainda nem a Premier League tinha sido criada. A última vez foi em 1990, tendo o esquerdino John Barnes como principal figura. Por acaso até estiveram perto de ser campeões há pouco tempo, na época de Rodgers em 2014, altura em que Gerrard escorregou em Anfield, aos pés do atacante do Chelsea, Demba Ba. Esse deslize entregou o troféu a Manuel Pellegrini, comandante do Manchester City.

Por outro lado, Klopp regenerou o Liverpool em outros setores, neste que é o seu primeiro início de época sem Coutinho. Naby Keita e Fabinho dão ao treinador uma boa ossatura ao meio-campo, fator necessário face à lesão grave de Oxlade-Chamberlain. Na zona de maior criatividade, Shaqiri, adquirido ao despromovido Stoke City, é uma ótima solução para alternar entre o banco e o onze.

Na época passada a equipa chegou a Kiev e provou, na parte final da temporada, que houve capacidade para manter a equipa acelerada dos 60 aos 90 minutos, que era um dos parâmetros onde mais dúvidas eram geradas no inicio de 2017/18, devido à combustão rápida do jogador-tipo de Klopp e de como isso podia afetar a chegada à meta num estado de exaustão. A esse nível, penso que Klopp e os preparadores deram uma boa resposta aos cépticos. E havia razão de ser nesse cepticismo. Na parte do Liverpool estamos mais ou menos conversados. O problema é que os Reds não jogam sozinhos. Mourinho vai retocar o United, o Chelsea procura respirar ar puro com Sarri, enquanto Emery vai começar a transformar o Arsenal, como Pochettino fez nos Spurs. É toda uma ótima concorrência para Guardiola, cuja proposta de jogo continua demolidora e simultaneamente encantadora.

Luís Catarino é comentador da Sport Tv e escreve no Bancada às sextas-feiras.