Opinião
Ganhar tempo com um golo
2018-06-20 19:40:00

O jogo entre Portugal e Marrocos começou com um erro quase metafísico de Manuel da Costa. O defesa central da equipa norte-africana tentou vigiar o homem e saiu-lhe um adversário sobre-humano. Cristiano Ronaldo bateu uma grande penalidade com a cabeça, num momento que serviu de intervalo entre uma entrada forte dos marroquinos e uma reação igualmente competente da equipa de Hervé Renard.

Se o capitão português expôs as debilidades da defesa de Marrocos, os minutos que se seguiram ajudaram a perceber a exuberância ofensiva, particularmente do lado direito. Dirar e Nordin Amrabat criaram imensos problemas a Portugal, especialmente a um Raphaël Guerreiro que nem sempre abordou da melhor forma os duelos individuais. Além do talento e da velocidade, Marrocos conseguia juntar variedade na forma de atacar, alternando o passe curto com o lançamento longo.

No meio-campo, o trio composto por Boussoufa, El Ahmadi e Belhanda demonstrou enorme disponibilidade para os duelos individuais, ao mesmo tempo que se percebia que existia uma missão coletiva de pressão intensa sobre o português portador da bola. Com tudo isto, a Seleção Nacional teve vários momentos em que se limitou a ocupar o espaço defensivamente, praticamente sem conseguir ter a posse de bola.

Só nos pés de Cristiano Ronaldo é que o ataque português ganhava vida, mas no resto da primeira parte Portugal apenas teve mais uma aparição perigosa junto à baliza de El Kajoui, com uma assistência do capitão que acabou com uma defesa do guardião marroquino, depois de um remate pouco eficiente de Gonçalo Guedes.

A segunda parte do encontro não mudou a cara da Seleção Nacional, que foi sempre uma equipa incapaz de guardar bola ou de lhe dar o destino certo. Durante largos minutos, Cristiano Ronaldo andou apenas a ver o jogo de perto e Bernardo Silva (o segundo maior talento nacional), apesar de ter andado um pouco menos longe da bola, nunca conseguiu ser um verdadeiro criador de perigo. Fernando Santos tinha outro tipo de soluções no banco e por isso lançou Gelson Martins e Bruno Fernandes. No papel seria colocar em campo agitação e um jogador capaz de fazer circular melhor o jogo ofensivo de Portugal. Na prática, Portugal nem agitou nem conseguiu ter mais tempo de posse de bola.

O jogo não tem quase nada de positivo no que diz respeito à exibição, mas transporta o "pormenor" de a vitória arrumar com as esperanças de Marrocos e colocar Portugal a caminho dos oitavos de final. De resto, é necessária uma fórmula de crescimento rápido, que permita à Seleção Nacional capitalizar as vantagens que tem conseguido cedo nos encontros que já disputou neste Campeonato do Mundo. O enorme desgaste que sente uma equipa que anda a correr atrás da bola pode fazer aparecer uma certa fadiga que, por sua vez, é bem capaz de amplificar a falta de fluidez de jogo que se tem visto na equipa nacional neste torneio russo.

Os pontos mais positivos foram a solidariedade defensiva (que acabou por ser fundamental para o bom resultado) e ainda as exibições fundamentais de Rui Patrício e Cristiano Ronaldo. Nas duas pontas do relvado esteve o melhor da equipa de Fernando Santos.

No final do jogo, o selecionador nacional ainda não conseguia explicar as razões para o apagão exibicional da equipa, mas com o golo de Cristiano Ronaldo Portugal ganhou tempo para encontrar respostas. Ficamos à espera de mais e melhor, caro Engenheiro.

Manuel Fernandes Silva é jornalista na RTP e escreve no Bancada às quartas-feiras.