Opinião
Então e o "chuveirinho"?
2018-07-25 14:00:00
Caros treinadores, não tenham medo de fazer o feio. Ai, essas modernices...

Cenário: jogo a eliminar. A equipa A está a perder por um ou até dois golos, a menos de dez minutos do fim do jogo. Até aí, passou largos minutos a tentar cercar a área da equipa B e ter oportunidades de golo. Foram escassas, as que teve. Em grande parte, porque a equipa B está “fechadinha” e forte a ocupar os espaços e impedir as investidas junto da sua área.

Senhoras e senhores, o “chuveirinho” não é um bicho papão! Atualmente, com o emergir do futebol de posse e de passe, parece que recorrer ao tradicional “chuveirinho” – vulgo despejar a bola na área contrária, fazendo subir os jogadores mais altos – se tornou algo próximo de uma heresia.

O Mundial já lá vai e já poucos querem saber dele, mas ainda cabe, dez dias depois da final, esta inquietação: foram, pelo menos, uns cinco jogos nos quais fiquei com uma urticária tremenda a ver os últimos minutos. “Por que motivo aquele gajo não manda subir os centrais e diz aos médios para despejarem lá a bola? Isto assim já não vai lá”. Esta foi a questão que fiz – umas vezes sozinho, outras acompanhado – durante várias partidas do Mundial. E aqui, claro, não podemos contar com os vários golos marcados nos últimos minutos dos jogos da fase de grupos.

Para que fique claro: jogar a bola pelo chão, usando a qualidade técnica dos criativos e os movimentos trabalhados no treino (ainda que esse trabalho, em caso de seleções nacionais, seja discutível) será, quase sempre, a melhor forma de chegar ao golo. Defendo isso. Mas reforço: é quase sempre a melhor solução. Quase sempre.

Caros treinadores, não tenham medo de fazer o feio. O "chuveirinho" é feio, sim, mas, por vezes, é a única solução. Ou pelo menos a mais indicada nos dez minutos finais de desespero.

Os jogadores já estão cansados, sem discernimento e, sobretudo, sem frescura física e mental para criar boas jogadas e decidir bem em zonas de criação e definição. Se a isto somarmos o facto de o adversário estar a defender em 30 metros e não ter um único jogador em zona ofensiva, o que impede o treinador, neste cenário, de, com risco controlado, fazer subir os gigantones e despejar lá a bola? A única coisa que o impede é o complexo. Complexo de querer fazer as coisas pela via mais bonita e de querer manter a dele avante: “foi a dar a bola aos craques que aqui cheguei, é com eles que vou ganhar”.

Mas não. Às vezes, é preciso chamar os tanques. Nunca saberemos o que teria acontecido a algumas equipas (Portugal, por exemplo, demorou muito a apostar nisto e, quando o fez, continuava a abusar da condução de bola) se tivessem feito chuveirinho, mas sabemos o que lhes aconteceu por não terem feito: nos últimos minutos, foram parcas as oportunidades de golo. Nos últimos minutos, somaram mais perdas de bola do que boas decisões. Nos últimos minutos, abdicaram de lutar com a melhor arma que poderiam ter. Boa escolha? Talvez não.

Modernices.