Em latim parece tudo mais solene, mas o título tem uma tradução simples para uma língua viva: aproveita o dia, goza o momento.
Foi o que ele fez. Éderzito abraçou aquele instante, rematou para ganhar a eternidade e agarrou tudo o que se seguiu: entrevistas nas televisões em horário nobre, um livro, uma luva branca erguida ao céu e que surgia como um novo símbolo de superação. Naquele mês de julho, Éder parecia uma estrela de “reality show”, mas com um lugar perene na história do futebol. Carpe Diem.
A verdade é que as expectativas aumentaram, só que a realidade não acompanhou a lenda. Éder continuou no Lille e marcou apenas seis golos na Liga Francesa na última temporada. Foram os mesmos da época anterior, mas com a agravante de ter feito 28 jogos a titular, contra 12 da temporada que antecedeu o Campeonato da Europa. Juntamos um golo na Taça de França e encontramos os números de Éder depois daquele dia 10 de julho de 2016: entre agosto e maio, apenas sete golos. Menos de um por mês.
Fernando Santos escutou o que as balizas adversárias tinham para contar e decidiu que a gratidão não poderia ser critério para uma convocatória. Explicou a opção, confessou a mágoa, mas deixou o herói de Saint-Denis fora da Taça das Confederações. Pode parecer coisa pouca, mas a boa prática de não convocar com base no estatuto nem sempre foi seguida pelos antecessores de Fernando Santos. Agora, que a meritocracia parece ser a única base das escolhas, é justo que se faça o elogio ao seleccionador nacional.
Talvez seja cruel reduzir o percurso de Éder na Seleção Nacional àquela erupção no Stade de France, mas o próprio terá percebido que será difícil superar aquele momento. Pareceu ser o zénite, um ponto de não retorno que nos traz, onze meses depois, a uma nova realidade. Sem Éder e com André Silva.
A mudança de turno tornou-se clara logo depois do Europeu. André Silva estreou-se com Gibraltar, não marcou na Suíça, mas ao terceiro jogo foi titular e assinou o primeiro golo, frente a Andorra. Mais três nas Ilhas Faroé e fim de história. O lugar era dele, ao lado de Cristiano Ronaldo.
É no sucesso desta sociedade que se explica o que falta sobre o apagão de Éder na Seleção Nacional. André Silva foi para Cristiano Ronaldo o que o homem da luva branca nunca conseguiu ser: um parceiro e não apenas o último dos recursos. Habituado a jogar com a largura e a profundidade, André Silva potenciou o momento superlativo do mais temível dos finalizadores do futebol mundial da atualidade. Cristiano Ronaldo percebeu rapidamente que aquele miúdo era ouro. Fernando Santos igualmente. E também o Milan, já agora.
A convocatória para o Campeonato da Europa do ano passado foi feita antes da final da Taça de Portugal, que o Porto perdeu, mas que deu à Seleção Nacional um novo avançado. Fernando Santos escolheu os 23 futuros campeões antes dos dois golos de André Silva ao Braga. E ainda bem, porque se o calendário fosse diferente, talvez Éder tivesse ficado em casa, sem aproveitar aquele momento, aos 109 minutos. Carpe Diem.
Manuel Fernandes Silva é jornalista da RTP e escreve no Bancada às quartas feiras.