O triunfo do Benfica em Atenas não garante um percurso de sucesso aos encarnados na Liga dos Campeões, desde logo porque muitas das análises iniciais esqueceram que há neste grupo um Ajax que deixou de viver das memórias do passado para voltar a ser um clube com futuro. E presente.
Ainda assim, vencer na casa do AEK retira o Benfica de uma série demasiado longa de maus resultados: o último triunfo na principal prova da UEFA (exceptuando fases de qualificação) tinha acontecido a 14 de fevereiro de 2017, no Estádio da Luz, frente ao Borussia de Dortmund. Daí para cá, Rui Vitória empilhou oito derrotas, que amassaram o prestígio europeu dos encarnados.
Desta vez, quando dois golos em quinze minutos pareciam chegar para garantir o triunfo, a imprudência de Rúben Dias colocou o Benfica em risco. Depois do primeiro amarelo, o jovem central da equipa da Luz e da Seleção Nacional deveria ter tido uma aproximação mais conservadora aos lances seguintes, tentando evitar uma nova ação disciplinar, que surgiu ainda no primeiro tempo.
Rúben Dias já é um nome incontornável no Benfica e no futebol português, mas precisa de conquistar mais maturidade e de trabalhar uma abordagem aos lances que lhe permita ultrapassar sem sobressaltos disciplinares alguns jogos – particularmente na Liga dos Campeões, onde os árbitros são habitualmente mais rigorosos.
No fundo, Rúben Dias terá de conseguir encontrar espaço para continuar a aprender, num exercício de humildade que não está ao alcance de todos, particularmente daqueles que já conquistaram um estatuto diferenciado, por força da longevidade, da experiência e dos títulos.
Luís Filipe Vieira terá dito, na Assembleia-Geral do Benfica, que os sócios “não merecem o clube que têm” e que ainda “vão levar com ele muitos mais anos”, num ensaio de sobranceria que não acasala bem com aquilo que conhecemos da relação do presidente do Benfica com os associados do clube. São unânimes e irrefutáveis os méritos de Luís Filipe Vieira na reconstrução do Benfica (depois da desastrosa passagem de Vale e Azevedo e do período inicial de recuperação, liderado por Manuel Vilarinho), mas nem o facto de ser um dos melhores presidentes da história do clube da Luz (talvez o melhor) dá ao atual líder o direito de transformar liderança em arrogância.
No FC Porto, Sérgio Conceição digeriu mal as críticas à qualidade do jogo da equipa campeã nacional e deixou um aconselhamento cultural aos adeptos que procuram espectáculo. Por muito que a proposta de visita ao Coliseu do Porto ou ao Teatro Sá da Bandeira possa ser tentadora para muitos dragões, a verdade é que o próprio Sérgio Conceição habituou os portistas a exibições de alta qualidade na época passada, acompanhadas de uma eficácia finalizadora que (também) tem faltado em várias ocasiões no atual exercício. Os adeptos podem ser muitas vezes criticados, pelas mais diversas situações – desde logo quando potenciam e protagonizam maus comportamentos – mas nunca por reclamarem maior qualidade exibicional. O futebol só se tornou num desporto global e de massas por produzir espectáculos capazes de promover a aproximação de cada vez mais adeptos.
No Sporting, Nani não gostou de ser substituído por José Peseiro no jogo frente ao Braga. O técnico leonino deixou o capitão fora de jogo no encontro seguinte e a medida só pode surpreender quem já se tiver esquecido da saída de Matheus Pereira do plantel, depois de ter deixado escapar, nas redes sociais, críticas por não ser primeira opção. O peso específico dos dois jogadores é diferente e por isso Nani terá nova oportunidade para demonstrar que é o líder certo para o balneário do Sporting. Mas o “cartão amarelo” já foi mostrado por José Peseiro, que soube aprender com o “Caso Rochemback”, na primeira passagem por Alvalade.
P.S. – Abel Ferreira não é o primeiro treinador a levar o SC Braga à liderança isolada do campeonato (esse foi Manuel Cajuda, numa altura em que os minhotos andavam ainda longe do estatuto de “quarto grande”), mas percebe-se que agora já são muitos os que acreditam numa candidatura credível do Braga ao título. O clube cresceu imenso e modernizou-se, tem uma liderança sólida e uma estrutura altamente profissional, aumentou a base social de apoio e tem, acima de tudo, um plantel competitivo e um treinador ambicioso e competente. Pode ainda não ser fácil assumir sem rodeios a luta pelo triunfo no campeonato, mas o Braga é mesmo candidato.