A entrevista de Luís Filipe Vieira à TVI na última terça-feira foi reveladora da linha do presidente do Benfica para o futuro próximo em termos desportivos. Ser campeão nacional, reforçar a aposta na formação com o lançamento de jovens jogadores para num prazo de três anos o clube ter uma equipa "com identidade à Benfica, com 80 ou 90 por cento dos jogadores formados no clube". E um sonho: com jogadores formados no Seixal, atingir uma final da Champions. E ontem, no entusiasmo de uma cerimónia em que foi celebrado 15º aniversário da presidência no clube da Luz, disse mesmo: "Não saio sem ser campeão europeu".
Um presidente confiante no futuro, que acredita em Rui Vitória, que definiu como "o homem certo para o projeto", prevendo até que o Benfica venha a "dominar o futebol português neste década", mas prisioneiro de um presente que deixa muitas dúvidas com os casos de Justiça que envolvem o nome do clube, e que foi o tema central da entrevista bem conduzida por Joaquim Sousa Martins. Aqui, em zona delicada, Vieira reafirmou a inocência da SAD mas ao mesmo tempo garantiu que apresentará a demissão se ficar provado em tribunal que os encarnados cometaram qualquer ato de corrupção. A abordagem à cartilha foi tudo menos convicente. Negou a existência da mesma quando comentadores ligados ao clube já confessaram que a recebiam.
Mas o que Vieira queria na entrevista era falar de futebol, da formação, da sede de conquistas, não sei se para desviar-se de uma conversa sobre áreas mais sensíveis. Vieira continua a achar o que mais ninguém ou poucos acham, nos quais me incluo: que o Benfica pode voltar a ser campeão europeu com a prata da casa. Embora a formação do Benfica esteja a registar progressos assinaláveis e elogiáveis, tenho a convicção que isso não é suficiente para ombrear com as potencias do futebol europeu. A nível nacional, o Benfica até pode ganhar, e ter o tal domínio do futebol português a que Vieira aponta, com a aposta na formação, mas a nível internacional é muito mais difícil. A formação em Portugal já não é à imagem do que foi o FC Porto dos anos 80/90 que tinha uma equipa com jogadores "à Porto", ganhando com atletas formados na casa. O modelo de negócio do futebol atual faz com que os jovens portugueses (e os agentes) não queiram ficar muito tempo no clube, indo para mercados muito mais apetecíveis e tentadores do ponto de vista financeiro. Estou em crer que Vieira continuará daqui para a frente a içar a bandeira do sonho da Champions alicerçada na formação, mais como um meio de mobilizar as tropas do que a pensar que de facto isso possa ocorrer. Mas há sempre os sonhadores que acreditam no pai natal.
Numa entrevista que em muitos momentos roçou a propaganda, com os autoelogios à gestão do clube por comparação com o desastre que encontrou [e aqui neste dossiê Vieira marca sempre pontos] e o anúncio de novos projetos, que culminou com o assumir, a meio do quinto mandato, que vai recandidatar-se ao sexto mandato, Vieira não deu qualquer explicação sobre o desinvestimento em ano que o Benfica ambicionava o penta, e ficou por perguntar o caso da dispensa de Jovic que foi trocado por Seferovic. Fica para a próxima.