As suspeitas de doping que recaem sobre a equipa W52-FC Porto levaram a União Ciclista Internacional (UCI) a retirar a licença desportiva à equipa, depois de a Federação Portuguesa de Ciclismo não ter tomado qualquer medida.
Aliás, a W52-FC Porto preparava já a sua participação na Volta a Portugal, apesar dos ciclistas suspensos. O responsável da equipa, Adriano Quintanilha, encontrava-se em Espanha, a contratar corredores, para formar um novo elenco para a prova rainha do ciclismo em Portugal.
O caso foi analisado num programa de desporto, onde o ex-internacional Diamantino Miranda é comentador. E o antigo jogador do Benfica destacou três pontos: a celeridade da UCI, a inércia da Federação de Ciclismo e também o “medo” dos organismos nacionais.
“Este caso vem reforçar a ideia de que nós não podemos acreditar nas nossas instituições. Ninguém quer pôr a mão em nada, toda a gente tem medo. No futebol é igual. Toda a gente tem medo e é preciso vir alguém de fora pôr ordem nisto”, afirmou Diamantino.
Outro ponto positivo da tomada de decisão da UCI foi a “rapidez” com que baniu uma equipa sob suspeita de doping, segundo assinala Diamantino na CMTV. “Esta decisão da UCI faz-me lembrar a Federação Portuguesa de Futebol…”, ironizou, numa crítica velada à lentidão dos processos disciplinares no desporto-rei, em Portugal.
Diamantino considera que a retirada da licença desportiva à W52-FC Porto seria a decisão óbvia, perante as suspeitas. E entende também que o desporto português poderia ter dado o exemplo.
“Quem percebe de ciclismo, e mesmo quem não percebe de ciclismo, já pensava que isto deveria acontecer na altura, logo”, assinala. E por isso o ex-futebolista não compreende o facto de a equipa portuguesa ter entrado numa corrida contra o tempo, para contratar ciclistas a tempo de participar na Volta a Portugal, sem ser travada pela Federação de Ciclismo.
Mas Diamantino Miranda vai mais longe e, perante a ausência de respostas, retira as próprias conclusões, sobre as suspeitas de posse de substâncias ilícitas. “Se não era para consumir, se não há testes positivos nos corredores, se calhar era uma coisa pior. Andavam a traficar. Digo eu… Se tinham tanta substância proibida nos quartos, se não era para tomarem, era para vender. Só pode ser isto”, referiu.
“FC Porto já deveria ter tomado uma posição”, diz Mendes
Outro ex-futebolista presente no painel, Fernando Mendes, que ao longo da sua carreira também representou a equipa do FC Porto, critica a posição do clube da Invicta, que “já deveria ter tomado uma posição”.
“Eu entendo que o presidente do FC Porto e o Adriano Quintanilha sejam amigos. Mas, amigos, amigos, negócios à parte. A partir do momento em que isto saiu, tinha de se demarcar”, aponta, concordando com Diamantino num ponto. “O mais incrível é que foi precisa uma entidade internacional pôr ordem nisto”, diz.
“Por aqui, ‘vamos embora, participa’. O senhor já ia para Espanha contratar ciclistas… Tudo tranquilo. Depois de tudo isto, têm de ser os artistas lá de cima para a dizer ‘vamos parar com isto de uma vez por todas’”, referiu Fernando Mendes, numa alusão à decisão da UCI.
FC Porto suspende contrato de naming
Entretanto, nesta quinta-feira, o FC Porto já tomou uma posição, suspendendo o contrato de naming com a Associação Calvário Várzea Clube de Ciclismo.
"O Futebol Clube do Porto vem informar que suspendeu o Contrato de Naming e Licenciamento de Marca celebrado com a referida Associação. Aguardaremos o desfecho dos processos em curso por forma a proceder à reavaliação da presente decisão", esclarece um comunicado assinado pela direção.
W52-FC Porto fora da Volta
A União Ciclista Internacional retirou a licença desportiva à W52-FC Porto, na sequência da operação 'Prova Limpa', que investiga alegadas práticas irregulares da formação de ciclismo. Esta decisão tem efeitos imediatos, o que impede a equipa de participar na Volta a Portugal.
"A Federação Portuguesa de Ciclismo confirma que foi notificada pela União Ciclista Internacional (UCI) de que esta entidade decidiu retirar a licença desportiva à equipa continental W52-FC Porto, na sequência da informação recebida pela UCI sobre o processo que decorre na Autoridade Antidopagem de Portugal. A decisão entra imediatamente em vigor, pelo que a equipa está impedida de voltar a competir", refere a Federação Portuguesa de Ciclismo, numa nota publicada no seu site oficial.
Adriano Quintanilha, responsável pela W52-FC Porto, encontrava-se nesta altura a tentar a contratação de ciclistas, uma vez que a formação portuguesa tem oito atletas suspensos, também em consequência da operação desencadeada a 24 de abril, envolvendo a Polícia Judiciária e a ADoP.
Responsável da W52-FC Porto “surpreendido”
O responsável pela W52-FC Porto, Adriano Quintanilha, diz-se surpreendido com esta decisão da UCI.
“Nem sei bem o que se está a passar. Sei que recebi uma chamada para me vir embora. Até ontem, tinha indicações para andar o mais rapidamente possível nas contratações para fazer a inscrição dos ciclistas. E foi o que fiz. Tenho estado todos os dias a ir a Espanha. Já tinha as contratações todas feitas.”, afirmou, em declarações à Rádio Renascença.