O FC Porto conquistou o 29.º título de campeão nacional, numa edição marcada pela ‘desistência’ do Benfica e pela pandemia da covid-19, que parou a prova e devolveu-a à porta fechada quase três meses.
Os ‘dragões’ acabam com cinco pontos à maior, depois de terem estado a sete e corrido o risco, à 20.ª, de ficar a 10, o que teria, provavelmente, sido o ‘fim’ de Sérgio Conceição, que, pouco antes, ameaçara sair com queixas de falta de união no clube.
O triunfo por 3-2 na receção ao Benfica, em 08 de fevereiro, replicando a vitória na Luz (2-0, à quarta ronda), no único dos primeiros 19 jogos que as ‘águias’ não ganharam, foi o ponto de viragem do campeonato.
Depois disso, o FC Porto ainda deu várias ‘abébias’, antes (1-1 com o Rio Ave) e depois (1-2 em Famalicão e 0-0 na Vila das Aves) da maior paragem de sempre num campeonato, mas, os ‘encarnados’ nunca aproveitaram, ‘afundados’ num inacreditável ciclo de apenas duas vitórias em 10 jogos que condenou Bruno Lage.
Ao perceber que não tinha adversário, já que o Sporting e o SC Braga nem arrancaram, num trajeto em que também tiveram em comum o treinador Rúben Amorim, o conjunto azul e branco lançou-se, tranquilo, rumo ao ‘29’.
Nas últimas sete rondas, o FC Porto mostrou até uma qualidade futebolística desconhecida, com várias goleadas (4-0 ao Boavista, 5-0 ao Belenenses SAD e 6-1 ao Moreirense), contra apenas duas, dois 4-0 ao Vitória de Setúbal, nas primeiras 27.
Feitas as contas, o onze de Sérgio Conceição fechou a prova com o melhor ataque (74 golos marcados), a melhor defesa (22 sofridos), o conjunto com mais vitórias (26) e também a formação com menos derrotas (quatro) – sem espinhas.
Para a história, ficou também o pleno de triunfos nos quatro jogos com os grandes, replicando o que o só FC Porto, de José Mourinho, em 2002/03, e o Benfica, de Jimmy Hagan, em 1971/72, haviam conseguido no campeonato luso.
O brasileiro Alex Teles, com 11 golos e oito assistências, e o mexicano Corona, com quatro tentos e 11 assistências, foram as grandes figuras dos ‘dragões’, os homens dos corredores, que, de bola parada ou corrida, fizeram ofensivamente a diferença.
O regresso de Marcano (Mbemba na parte final) e Pepe deram estabilidade ao setor recuado, com Marchesín, na baliza, a fazer ‘esquecer’ Casillas, e, no meio campo, com muitas soluções, Otávio, que ofereceu nove golos, foi o mais regular.
Na frente, Zé Luís foi importante no início, enquanto Marega e Soares aparecerem na parte final, numa equipa que, a espaços, foi mostrando os campeões da UEFA Youth League de 2018/19.
O FC Porto venceu com o mérito dos números, mas também por muito demérito alheio, do Benfica, que fez ‘papel’ de bicampeão até à 19.ª ronda, com 18 vitórias, incluindo Alvalade, Braga e Guimarães, e apenas um empate.
Os ‘encarnados’, mesmo saindo do Dragão, à 20.ª ronda, só com quatro pontos à maior, e não 10, ainda eram claros favoritos ao título, mas, inexplicavelmente, ‘desapareceram’, com Bruno Lage a ‘deixar andar’, sempre com o pensamento no “próximo jogo”.
Os resultados negativos acumularam-se até ao inimaginável, com Lage a não ser capaz de sair a tempo e a acabar como ‘réu’, depois de em 2018/19 ter sido o grande ‘herói’ da reconquista. Acabou Veríssimo, que salvou o segundo lugar. Voltará Jorge Jesus.
A segunda volta do Benfica, que teve em Vlachodimos, Rúben Amorim, Pizzi (18 golos e ‘rei’ das assistências, com 14) e Vinícius (19 golos) os melhores elementos, foi ‘horrível’, salvando-se a ‘Champions’ e o título de melhor marcador do brasileiro, oferecido, ‘poeticamente’, pelo ‘21’.
No último lugar do pódio, acabaram os ‘arsenalistas’, que cedo se afundaram, com Ricardo Sá Pinto, para, com Rúben Amorim, escalarem até ao terceiro lugar. Perderam depois, o técnico e o pódio para o Sporting, mas ainda o recuperaram, não com o terceiro técnico na prova (Custódio), mas com o quarto (Artur Jorge).
O talento de Trincão e os golos de Paulinho (16) e Ricardo Horta (12) pautaram individualmente o percurso dos ‘arsenalistas’, que fecharam no pódio apenas terceira vez – segundos em 2009/10 e terceiros em 2011/12 –, mas muito longe do ‘sonho’ do presidente António Salvador, o título.
A formação bracarense ficou longe dos primeiros, mas logrou acabar à frente do Sporting, um grande consolo, pois foram os ‘leões’ a ‘roubar’ Amorim, que saiu de Braga invicto (oito vitórias e um empate) e colocou a equipa a jogar bom futebol.
Os ‘leões’, que não haviam funcionado com Marcel Keizer, Leonel Pontes e Silas, começaram bem com Amorim, mas este não conseguiu ganhar nenhum dos jogos complicados e acabou com três encontros sem vencer, caindo para um frustrante quarto lugar.
O craque Bruno Fernandes, melhor jogador das duas últimas edições, saiu a meio, mas ainda foi o melhor marcador dos ‘leões’, que acabaram repletos de jovens promissores, como Jovane Cabral, Eduardo Quaresma, Matheus Nunes ou Tiago Tomás.
O quinto lugar, que vale um lugar europeu face à presença de Benfica e FC Porto na final da Taça de Portugal, foi conquistado ‘in-extremis’ pelo Rio Ave, que, sob o comando de Carlos Carvalhal, realizou uma excelente época, com Filipe Augusto a destacar-se no meio campo e Taremi no ataque, com 18 golos.
Os vila-condenses acabaram apenas um ponto acima da equipa ‘sensação’, o Famalicão, de João Pedro Sousa, que, proveniente da II Liga, chegou a liderar a prova e esteve no pódio até meio, para depois ter uma forte quebra.
Após a longa interrupção devido ao covid-19, o ‘Fama’, que revelou Pedro Gonçalves, Fábio Martins, Toni Martínez, Urus Racic, Gustavo Assunção ou Diogo Gonçalves, recuperou e teve ‘pé e meio’ na Liga Europa. Perdeu-a nos descontos do último jogo.
Atrás, o sétimo lugar do Vitória de Guimarães sabe, certamente, a pouco para os exigentes adeptos vitorianos e por isso a saída de Ivo Vieira, treinador que fez excelente trabalho no ‘castelo’, onde brilhou, sobretudo, o virtuoso Marcus Edwards.
Nos lugares imediatos, o Moreirense, que revelou o angolano Fábio Abreu (13 golos), o regressado Gil Vicente, do sempre fiável Vítor Oliveira, e de Denis, Kraev ou Sandro Lima, e o Santa Clara, de João Henriques, fizeram épocas tranquilas.
O Marítimo, o Boavista e o Paços de Ferreira, mesmo irregulares, ainda se safaram antes da última ronda, que foi decisiva para a manutenção de Vitória de Setúbal e Tondela e condenou o Portimonense.
Há muito despromovido, estava o Desportivo das Aves, que viveu uma época de pesadelo, com derrotas atrás de derrotas, jogadores a rescindir contratos e uma final triste, com ameaças, não concretizadas de falar a jogos. Ou quando os clubes perdem as SAD.