"Se o meu sangue não me engana Como engana a fantasia Havemos de ir a Viana", assim cantava Amália Rodrigues numa das mais belas canções que a diva do fado eternizou nas linhas do tempo. Viana do Castelo é tradição, história, usos e costumes, com a Senhora da d’Agonia sempre no pensamento e com estatuto de ícone nacional. Mas Viana quer ser mais e os vianenses apostam no sucesso do presente e do futuro pelos campos da bola. Assim, a Liga 3 fará na nova época parte integrante das romarias ao Alto Minho.
Dobradinha na época à moda de Oliveira
Todas as grandes obras começam com uma ideia. E convém que a ideia seja coerente, lógica e, acima de tudo, que tenha quem a defenda. António Oliveira, 39 anos, fixa aquilo que quer no campo e pensa sobretudo na sua equipa, na sua forma de ver o futebol, não olhando obsessivamente nas pretensas fraquezas rivais. E é por aí que tem pautado a sua carreira, agora no Vianense, que leva Viana no coração, a vitória no pensamento e a força do trabalho nas pernas.
O Vianense subiu à Liga 3 mas o desfile da vitória já lá vai e não atrasa o pensamento para o que aí vem dentro de algumas semanas. A Liga 3 está a ser preparada e todos os detalhes contam, como revelou ao Bancada o treinador António Oliveira, ciente de que no futebol os ontens não existem e o que conta mesmo é hoje e o que virá amanhã.
Oliveira prossegue em Viana do Castelo com a certeza do trabalho, a força de vontade e a crença de vencer. E no intervalo do curso UEFA A, conversou com o Bancada sobre os desejos que tem para a Liga 3 com o Vianense.
"A ideia é fazer um campeonato que corresponda às exigências do Vianense e que orgulhe quem está envolvido neste projeto", assinalou António Oliveira, ele que terminou a última época em Viana do Castelo, garantindo o objetivo de subida de divisão, já depois de ter assegurado também o objetivo da manutenção no Valadares, no Campeonato de Portugal.
Oliveira conseguiu assim uma espécie de 'dobradinha' num contexto sempre desafiante, tanto como aquele que a Liga 3 lhe coloca agora no Alto Minho.
Mas para contar o sucesso deste Vianense e antes do Valadares, convém perceber quem é o treinador que deu a impressão digital às vitórias.
Oliveira vive o futebol desde sempre e a bola sempre o acompanhou. "Quando eu nasci contam-me que a primeira prenda que me deram foi uma bola de futebol e por isso o destino estava traçado. Foi o meu padrinho que me deu a bola", destacou, dizendo que o padrinho estava a "adivinhar" qual seria a paixão da sua vida.
Aos 11 anos, entrou para os infantis da Oliveirense e foi em Oliveira de Azeméis que Oliveira foi moldando a sua carreira que passou por várias latitudes. "No Chipre vi uma cultura de jogo com aposta nesse sentido. Gostei de lá estar. A questão da língua é que, por si só, foi complicado para mim", contou António Oliveira, descrevendo Chipre como um país onde sentiu "muito turismo" pelas ruas que procurou conhecer aquando da sua passagem pelo Ethnikos Achnas.
Já por Angola, onde representou os Bravos do Maquis, o Benfica de Luanda e o Sagrada Esperança, António Oliveira recordou um país "com dificuldades".
"Enquanto jogador deveria ter-me colocado na visão do treinador mais vezes"
Mas porque há cruzares com a história que perduram, por um não sei o quê, Oliveira viveu na Oliveirense momentos marcantes e que lhe definiram o caráter. E hoje, já com os cabelos grisalhos, olha para o passado com nostalgia e algum arrependimento de algo que serve de lição para os seus jogadores.
"Percebi que enquanto jogador nunca tinha visto o jogo sob o ponto de vista do treinador. Quando passei para este lado percebi que deveria tê-lo feito mais vezes", sintetizou-nos o técnico do Vianense.
"Enquanto jogador deveria ter-me colocado na visão do treinador mais vezes no sentido positivo", assumiu António Oliveira, ele que faz parte do leque de treinadores da nova guarda que sente a necessidade de se inquietar em permanência, de procurar respostas e soluções para os problemas que as dinâmicas do jogar colocam em cada um dos típicos 90 minutos de um jogo de futebol.
No futebol de exigência na transpiração mas que recorrentemente pede inspiração, os treinadores sabem que a distância do oito ao oitenta é curta, demasiado curta, pelo que a serenidade pauta sempre aqueles que, muitas vezes isoladamente, vivem e sentem o futebol desde as áreas técnicas.
Ao Bancada, Oliveira explicou a forma como gosta de envolver todos na dinâmica do grupo. Porque o tom do líder, forte e convicto, contamina a equipa.
"Sou um treinador de ligações, que vive muito o momento", admitiu, confessando ser um "apaixonado pelo futebol". "Quem trabalha comigo sabe disso. Os meus colaboradores na equipa técnica sabem disso, os meus jogadores sabem disso", afirmou, não se coíbindo de admitir que é um treinador "chato no verdadeiro sentido da palavra que não se cala, que está sempre a falar para eles".
"Se às 3 da madrugada passar por minha casa e a luz estiver ligada, o Oliveira está a trabalhar"
António Oliveira é o treinador do Vianense, clube que ajudou a conduzir à Liga 3, numa época que já tinha sido de sucesso nos gaienses do Valadares, quer no Campeonato de Portugal, quer na Prova Rainha onde fez cair o Desportivo de Chaves e só foi travado pelo Casa Pia. Mas o sucesso sai-lhe do corpo e da mente. A ele, à equipa técnica e a todo o staff, como reconhece este treinador que gosta "de ir ao pormenor".
"Tento estudar bem os adversários para passar aos meus jogadores isso", disse, argumentando também que procura ser melhor a cada dia que passa.
"Eu e a minha equipa técnica procuramos melhor a cada dia, procuramos reajustar as dinâmicas. Só sou melhor se quem está comigo me ajudar. Eu não sei tudo, pelo contrário. Tenho muita coisa a melhorar e quem está comigo tem competências para me ajudar em alguns processos. Temos de ir evoluindo. As coisas têm corrido bem".
Por isso, Oliveira contou ao Bancada que é bem possível fazer noitadas de estudo para aperfeiçoar a sua equipa. "Se às 3 horas da manhã passar em Oliveira de Azeméis e a luz estiver ligada, é o Oliveira que está a estudar o adversário, a sua própria equipa e a procurar melhorar e continuar a evoluir".
Além disso, Oliveira tem noção de que "o futebol é uma evolução constante". "Nós, os treinadores, não podemos estar à sombra do sucesso ou daquilo que nos tenha corrido melhor", garantiu Oliveira, que admitiu ter aprendido muito com alguns treinadores que teve ao longo da carreira.
"Tenho referências. Falo de ex-treinadores. O Vítor Pereira à cabeça. O mister Pedro Miguel foi o treinador que mais anos tive. São as duas principais referências em que eu 'bebi' mais do que eu sou mesmo", explicou Oliveira, sublinhando que, do futebol atual, vai vendo como exemplo o sportinguista "Rúben Amorim."
"Oliveira de Azeméis é a minha fortaleza"
O futebol era e ainda é o melhor medidor da tensão arterial do povo mas por mais pressão e tensão que ele faça, há sempre um local que Oliveira vê como refúgio.
"Quando estamos a chegar a Oliveira de Azeméis ou já em Oliveira de Azeméis sinto que estou em casa junto dos meus, daqueles que eu mais gosto, dos meus amigos, familiares. É muito isso. É sentir que ali é a minha fortaleza. É onde passo a maior parte dos tempos e onde estou com os que mais gosto. É uma fortaleza. É isso fundamentalmente", relatou Oliveira, um treinador que nunca recusa um "bom assado". "Seja ele de cabrito, seja ele de vitela, seja ele de frango com batatinha e arroz".
O menu da nova época já está a ser elaborado para ir ao forno e chegar à mesa dos vianenses dentro de poucas semanas. O 'chef' Oliveira quer um 'prato' com bom 'aspeto' e com bom 'sabor', bem de acordo com os desejos dos adeptos da equipa do Alto Minho.